O Nascimento do sol (Parte II)

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A situação nunca fora tão desfavorável, pensou Nico acariciando os fios loiros de seu pequeno namorado. Que permanecia com um biquinho nos lábios, após insistir para que Nico lhe levasse para ver sua mamãe. No entanto, a resposta sempre era a mesma. Não...

--Nico...—chamou o loirinho, em um resmungo, quebrando o silêncio que até então os rodeava. –Posso ficar com o seu livro?

Mesmo ainda desconfiado com o objeto, o moreno passou o livro para o pequeno, enquanto a frase dita por Clovis ecoava em sua mente Will sabe o que fazer com ele. E parece que o filho de Hades acertara em cheio, pois no momento em que o loirinho pegou o livro em mãos, um pequeno texto começou a aparecer nas páginas, as letras brilhavam, como se fossem escritas por uma energia luminosa forte...talvez, do próprio sol? Isso era possível?

--Lê para mim Nico? –Will pediu manhoso, o mesmo não falara muito desde o momento que iniciou a perguntar sobre sua mãe para Nico, e recebeu o seu primeiro não. –Por favor...—pediu novamente, devido ao silêncio do mais velho. No entanto, Nico ainda permanecia incrédulo ao notar as letras brilhantes que se destacavam nas folhas amareladas.

--É, claro Will...eu leio para você. –O pequeno sorriu, o primeiro sorriso depois de um longo tempo chorando. Nico sorriu carinhos, deitando na cama e batendo levemente no espaço ao eu lado, incentivando a pequena criança a deitar consigo.

-- Era uma vez um pequeno sol que nasceu com muito calor e energia, e lá do alto ele brilhava intensamente e radiante. –Iniciou a leitura. Aquilo lhe era, estranhamente familiar.

–Todos amavam o pequeno sol, alegre e divertido, iluminando todo o mundo com sua alegria.

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Mais um dia o pequeno sol ficou doente e o dia não parecia mais tão alegre, com nuvens cinzentas cobrindo o céu. Então a mamãe do solzinho ficou triste ao ver seu filho tão machucado, então decidiu guarda-lo dentro de si até que o mesmo se recuperasse. Vários e vários dias se passaram, a mamãe sol permanecia cuidando de seu filhinho, no entanto o sol sempre fora muito quente e isso enfraquecia a mulher aos poucos...

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Vendo que sua mamãe estava tão mal o pequeno resolveu sair, para não machucar ainda mais a mulher, sentia-se recuperado.

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E foi assim, que com aquela escolha o pequeno definiu todo o seu destino, salvando sua mamãe e subindo de volta para o céu continuando a cuidar da mulher de longe e iluminando todos os seus dias.

O filho de Hades sentiu-se confuso, não era a toa que o livro tinha por nome o nascimento do sol. Ele realmente contava a história do nascimento de um filho do sol e se ele estivesse correto...aquela era a história do nascimento de seu namorado.

--Minha mamãe sempre lia para mim, quando eu era bem pequenininho. –comentou distraído, mexendo nos fios negros de Nico. Quebrando a linha de pensamento do moreno e chamando sua atenção. –O solzinho salvou todo mundo...ele é um herói.

--É mesmo? –Nico falou, encarando o rostinho rechonchudo do loiro. Sentindo seu coração e a mente retorcerem em confusão, o que estava acontecendo?

--Humrum...—sussurrou manhoso, os olhinhos azuis pareciam perdidos. –Nico...

--Oi...—respondeu o moreno, atento as janelas azuis que começaram a lhe fitar intensamente.

--Minha mamãe está morrendo? –a fala saíra quebrada, o choro se tornando inevitável novamente.

Nico sentia-se desamparado, não sabia o que fazer, a visão da figura de seu namorado prestes a se desmanchar em lágrima era aterrorizante.

--Eu sinto muito Will...eu realmente sinto muito. –disse o moreno, o coração se quebrando em pedaços ao ouvir os soluços do pequeno Will.

--E-eu...minha mamãe...—choramingou baixinho, fungando enquanto apertava a pequena mãozinha no peito, sentindo o mesmo doer. –Will vai ficar sozinho, ele vai ficar sozinho...

O Di Angelo apertou o loiro nos braços, seu próprio coração apertando ao escutar a fala do filho de Apolo. Lembrava bem a sensação de perda, e o quão desesperadora a mesma era.

--Você tem a mim meu raio de sol, você tem seus irmãos...eu não vou deixa-lo sozinho. Eu não poderia...—falou, sentindo a camisa úmida pelas lágrimas soltadas pelo jovenzinho. –Amo muito você, para deixar que passe por isso sozinho, mio sole.

As piscinas azuis de Will fitaram Nico com sofrimento e uma gratidão estranha, nem um pouco infantil.

--Quero ver minha mãe Nico, por favor...—pediu novamente, os olhos brilhando em súplica. –Eu preciso...

--Está bem, meu amor...Eu te levo lá. –Concordou, mesmo estando relutante.

--Obrigado Neeks, por tudo...—sussurrou, caindo no sono.

O filho de Hades fitou o namorado com determinação, ele precisava de resposta e naquele momento a única pessoa que as detinha era sua sogra.

Naomi Solace.

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Nico esperou o loiro adormecer realmente, para se dirigir a casa grande, em busca de Quíron. Encontrou o centauro na frente do local, encarando o acampamento com um olhar atento, a espera de alguma coisa.

--Senhor Di Angelo. –Cumprimentou o mesmo, ao lhe ver chegar. –Em que posso ajudá-lo? Aconteceu algo com Will? –finalizou, com a preocupação brilhando em seus olhos.

--Eu gostaria de fazer um pedido. –Declarou convicto, havia prometido ao pequeno, além de tudo ele precisava conversar com a mulher para entender tudo o que estava acontecendo. O homem lhe encarou com atenção. –Gostaria de levar Will até sua mãe.

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A mulher de longos fios ruivos encaracolados permaneciam deitada na cama, completamente adormecida, a barriga bem arredondada fazendo jus aos oito meses de gravidez.

--Naomi? –o chamado soou baixinho, como se tivesse receio em acordar a mulher, no entanto a mesma estava tão cansada que sequer acordou.

O homem que acabara de entrar no quarto tinha fios dourados, a pele levemente bronzeada e um olhar preocupado. O mesmo se aproximou da cama, observando o leve franzir de testa presente na mulher deitada, a ruiva parecia sentir dor.

--Por que tem que ser tão teimosa? –questionou para a mulher adormecida, acariciando a barriga da mesma sentindo-a quente, muito quente. A pessoinha ali presente parecia reconhecer o homem que a tocava, pois começou a chutar o local aonde a mão do mesmo estava depositada. –Ei Will...não vá machucar sua mamãe, sim?

Por mais que ele pedisse, o loiro sabia que não havia o que fazer naquele momento. Naomi sofreria, mais o único que realmente poderia salva-la, a matava aos poucos por dentro.

Cabia a seu filho salvar ou não a própria mãe. 

Meu SolOnde histórias criam vida. Descubra agora