I-CAPÍTULO

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Se dissessem a Alexander Cunha há seis meses atrás que estaria trabalhando como uma espécie de detective claramente ele não acreditaria. Pensem desssa forma,
há seis meses atrás era apenas uma professor da Universidade de Belas em Luanda, e tão pouco Alexander Cunha acreditaria que ajudaria num caso de homicídio junto com a polícia. Mas de tudo isso era ainda mais incocebível que o dissessem que ele estaria trabalhando a meio período com isso. Vê se entendam novamente, ele não é nenhum detective... é apenas algo parecido. Mas veio seu segundo caso e o terceiro e o quarto... e ele precisava do dinheiro. E um dos significados de ser estrangeiro é" o homem que manda dinheiro para sua família". Alexander Cunha como São-tomense precisava mandar montantes todos os meses, mas com a crise as coisas tinham complicado, até este perigoso e pequeno trabalho aparecer. E além do dinheiro, Cunha percebeu que era tão excitante quanto dar aula, as vezes até mais. E às vezes conhecia pessoas realmente interessantes.

Quando Maria entrou pela porta de seu escritório de advogado que agora era também partilhado com seu novo trabalho estava se perguntando o que o fazia interessar-se tanto por sua cliente. Ela era baixa, de olhos pequenos, ombros encolhidos e pernas tão juntas que pareciam coladas. Não era atraente assim a primeira vista, mas dava para ver que ela não usava maquilhagem naquela hora. Era contudo uma mulher "comum", por isso Cunha estava raciocinando se o que a mulher dizia era verdade.

-Dois homens!-disse Cunha reflectindo.

Sim-respondeu Maria. Os nomes deles são Mário Vemba e António Vieira. Em seguida estendeu duas fotos que vinha apertando levemente desde que Cunha as tinha percebido. Cunha observou-as e esperou encontrar alguma coisa escondida nos dois homens, mas eles eram tão comuns quanto a mulher a sua frente. Pousou-as e voltou a olhar para Maria.

-Eles desapareceram assim do nada? Maria repetiu o que já dissera, os dois não estavam em sua casa e ninguém sabia deles, nem suas mães e isso já fazia quatro dias. Cunha ponderou e tentou pensar em alguma coisa, algo, mas não conseguia advinhar porque ela estava precisando de seus serviços quando tinha a polícia. Mas já conhecia uma data de justificativos. " A polícia nunca encontra ninguém", " pelo menos vocês reembolsam se não os encontrarem"... Mas no fim as pessoas sempre chamam a
policia. Agências de detetive e escritórios como o de Cunha eram mais como um auxílio, uma garantia de que mais pessoas estariam se esforçando em encontrar o desaparecido. Mas o que Maria tinha respondido não era comum.

-Porque não chamou a polícia minha senhora? Então ela ficou calada. O silêncio deve ter durado cinco segundos quando ela falou.

-Por causa do kimbandeiro, disse ela.
Alexander não percebeu que tal como ele Maria havia tremido ao dizer aquele nome.

-Ele disse -continou Maria- que a polícia não pode ser chamada aqui.

-Porque você falou com um kimbandeiro?- disse Cunha exasperado. Para encontrá-los? O silêncio durou mais alguns segundos.

-Não, eu havia falado com ele antes!

-Porquê?

-Porquê estava em dúvida!-gritou Maria estafada. Seus olhos denunciavam premissa de lágrimas.

-Eu não conseguia escolher, Sr Cunha, eu gosto dos dois. E recentemente eles descobriram-se um ao outro e fui obrigado a escolher, mas não conseguia, não conseguia mesmo... Uma amiga me deu o endereço.

-E conseguiu escolher?-perguntou Cunha.

-Sim, mas prefiro que o senhor não me pergunte quem... Alexander repousou sobre a cadeira e tentou dissipar o medo sacudindo a cabeça.

-E agora os dois estão desaparecidos, senhora. Esse Kimbandeiro não tem culpa? Maria havia tirado um lenço descartável e passava entre as pálpebras.

-Eu imaginei isso também, tive tanto medo...-as lágrimas voltaram a descer. Alexander remexeu-se inquieto.

-Por isso fui ver de novo o papá Lengó e...

-É este o nome do bruxo? Maria assentiu e Cunha anotou o nome em seu caderno rosa.

-Ele ficou muito zangado, mas eu juro que não o acusei, mas ele disse-me que poderia lançar-me uma maldição! Alexander a esta altura estava indeciso entre abraça-la ou dar-lhe seu próprio lenço.

-Mas ele disse que não tinha nada haver com o desaparecimento deles-continou aos soluços- Oh, meu Deus, por favor, eu amo os dois...

-Calma senhora!-disse Alexander decidindo entregar-lhe o lenço, e recriminando-se por pensar em abraçar uma cliente. -Eu vou encontrá-los.

-Vai?
-Claro que vou. Homens tão grandes não devem ser tão dificéis de encontrar, se fossem recém nascidos talvez aí...

-Como?-interrompeu a mulher. Alexander fixou os olhos por algum tempo para o teto enquanto voltou a repousar sobre a cadeira.

-Os meios não posso dizer-lhe, minha senhora, mas não tenho dúvidas que serão encontrados. "Por mim ou pela polícia", pensou ele. -Não é isso que a senhora quer?

-Sim, mas...
-Não se preocupe eu vou tratar de tudo, a senhora deu-me os nomes completos, preciso de seu número e a morada dos dois-concluiu ele. Após hesitar em falar, Maria deu-lhe todas as informações e Cunha a despachou, e antes mesmo de vê-la fechar a porta do escritório deu-lhe uma última espiada, mas ainda não conseguia entender porque continuava a achá-la interessante.

Alexander Cunha e a Mulher IndecisaOnde histórias criam vida. Descubra agora