V-CAPÍTULO

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A mulher estava olhando impaciente para o prato de comida que já começava a esfriar. Maria olhou para o relógio a sua frente e baixou novamente para o prato e o segurou levando-o de volta ao microondas. Olhou novamente para o relógio e esperou. O som de chavez fez seu coração disparar. A porta abriu-se e o homem entrou. António Vieira viu a mulher e sorriu.

-Boa noite querida!
-Boa noite, querido-disse Maria. No entanto o sorriso do homem se esvaiu quando olhou para a mesa. A casa de Maria era pequena, dois quartos e uma sala, uma pocilga como ela a chamava. Mas agora não era somente sua.

-O jantar?-perguntou o homem.

-Está a aquecer, já tá quase... O homem abanou a cabeça e para surpresa da mulher sentou-se.

-Doi-me a cabeça querida! Hoje não vamos fazer isso está bem! Maria ouviu o apito do aparelho e depressa retirou o prato e quase correu a pousá-lo na mesa.

-Está um bocadinho quente!-disse ela. O estalo correu-lhe tão rápido o rosto que mal teve tempo para desviar.

-Falei que hoje não!-vociferou ele. -O que você estava pensando para me fazer esperar? António segurou no prato e fixou em sua frente engulindo grandes garfadas.

-Querido me desculpe!-disse Maria.

-Isso é tudo culpa tua, se você não me traísse con aquele riquinho... Maria observava o homem comendo, acariciando o lado dorido do rosto.

-Onde ele está?-perguntou ela sem rodeios. O homem fixou-lhe os olhos, comprimindo sua raiva. O sorriu voltou-lhe e abanou a cabeça.

-Esse aí está bem morto!-disse ele e em seguida riu. - Você quer saber onde está seu amante? Maria fechou os olhos mas não evitou as lágrimas.

-Ele está bem enterrado, ele está...
O homem parou de mastigar com os olhos fixos na mulher. António esbugalhou os olhos e segurou o peito, mas não conseguiu impedir que caisse e batesse de cabeça no chão bruto. A mulher levantou-se e afastou-se enojada. Aproximou-se devagar e o cuspiu. Em seguida correu para o quarto a sua direita, pegou em sua bolsa e constatando o relógio saiu pela porta principal.

Cunha desligou o telefone e ergueu-se para a frente do banco de trás.

-Herminio acelera-disse batendo no banco da frente de passageiro. Hérminio suspirou.

-Os espíritos estão me avisando que minha filha vai fazer alguma coisa de mal-disse papá Lengó que estava no banco de trás junto com a menina.

-Eu sei!-disse Cunha olhando para o relógio.

-Filha? -perguntou Hermínio.

-Maria e Papá lengó são pai e filha. Não te falei? Eles são a cara um do outro.

-Meu Deus! O papá Lengó afinal mente?-disse Hermínio com escárnio.

-Papá Lengó não mente!-repetiu o bruxo.

-Amigo, juro que não estou entendendo nada!-Herminio abanou a cabeça. Cunha virou-se para a menina.

-Você quer ver sua mãe?-perguntou Cunha sorrindo. A rapariga olhou para Cunha pela primeira vez.

-Quer?-voltou a perguntar. A menina abanou a cabeça.

-Então, vou precisar de sua ajuda- disse ele. O carro parou frente a Universidade de Belas.

-Hermínio não deixe o papá sair...

-Eu estou esperando, como os espíritos me dizem, faça o que você quiser- interviu o bruxo. Um arrepio subiu pelo corpo de Cunha naquele momento.

-Vamos?-disse para a menina e os dois sairam.

-Vão onde?-perguntou Hermínio.

-Depois explico- gritou Cunha já caminhando.

Maria estava olhando para o relógio, batendo o pé enquanto lançava olhares a mesa de jantar que já estava pronta. A mesa estava vazia mas ela sabia que dali a pouco estaria preenchida. O relógio apontava um quarto para as dezoito horas. A patroa e as crianças estariam logo as portas, sabia disso. Eles chegariam e comeriam a janta logo em seguida, ela sabia disso. Mas estava nervosa. Olhou para a bolsa e a constatou pela terceira vez. O bilhete de identidade, jóias... A porta abriu-se e fez seu coração disparar. Mas aquietou-se ao ouvir os sons das crianças. Houviu seu nome ser chamado.

-Maria estás aí!-disse a a mulher que entrou na cozinha.

-Patroa, eu estou sempre aqui!-disse Maria.

-Ah,sim! Nó...Nós temos uma visita... quer dizer não sabia que trarias a tua filha aqui, alhiás, não sabia que tinhas uma filha. Maria espantou-se.

-Como a...
-E o homem que está com ela é o pai? É bonito. A patroa voltou-se para a mesa.

-Três pratos para eu os meninos... Acrescenta mais três para você e sua família!-disse ela. Maria nada falou.

-Vamos!-disse a patroa batendo as palmas.

-O...Onde eles estão patroa?

-Vamos fazer assim, você vai para sala cumprimentá-los e eu me encarrego dos pratos. A patroa já tirava os utensílios da prateleira. Maria encaminhou-se para a gritaria que os dois rapazes pequenos faziam. Devagar, passou pela porta da cozinha e quase gritou quando os viu.

-Maria como vai!-disse Cunha sorrindo, virando-se para a menina.

-Paula diz olá a mamã! A rapariga correu para a Maria e abraçou-a.

-Já está!-disse a patroa pousando o último prato. -Podemos nos sentar. Maria olhou para a patroa.

-Maria? Senta-te por favor. Maria nada fez. Cunha aproximou-se.

-Vamos comer amor? Maria olhou para ele por alguns segundos, e deixou-se ser encaminhada para uma das cadeiras. Paula sentou-se ao seu lado e Cunha sentou-se ao lado da menina.

-Maria, por favor pode servir-nos?-disse a patroa. Cunha levantou-se.

-Deixa que eu faça isso, senhora, minha mulher deve ter trabalhado muito!-disse Cunha que já se punha de pé. Maria soluçou alto e as lágrimas cairam.

-Por favor não liguem para a minha mulher ela deve estar cansada, eu mesmo vou servi-los. Os choros de Maria aumentaram e ninguém disse nada por minutos enquanto a observavam.

-Desculpa por isso minha senhora, já vou servir-lhe... Cunha não terminou. Maria pegou na travessa de comida e correu para a cozinha. Cunha e os outros a observavam enquanto ela chorava e deitava a comida lavatório abaixo.

Alexander Cunha e a Mulher IndecisaOnde histórias criam vida. Descubra agora