VI-CAPÍTULO

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-Veneno? No dia seguinte, Hérminio estava de calções sentado na mesma cadeira do dia anterior. Cunha estava do outro lado como sempre, olhando para o lenço branco recuperado.

-Hermínio não acredito que minha mãe mentiu-me. Este lenço afinal não é nada de especial. Maria tem um igual. Afinal estava errado em achar que ela fosse uma ladra.

-E não é? E as jóias da patroa que encontramos na bolsa dela!

-Sim, mas...

-E uma assassina! Hermínio azedou o rosto.
Cunha suspirou.

-Meu amigo, que história é essa de veneno?-voltou Hermínio a pergunta.

-A polícia foi a casa de papá Lengó, você não viu as ervas? Aquilo consistia em plantas naturais, e não dúvido que será encontrado no corpo de António Vieira algumas delas.

-Meu amigo, você só dá palpite!-disse Hermínio.

-São ideias, Hermínio, eu tenho boas ideias. Assim como a ideia de Maria e papá Lengó serem parentes, mas isso era óbvio pela aparência. Quanto a menina ser filha de Maria era mais uma ideia. Hermínio baixou a cabeça.

-Ela ia matar a família da patroa...como você...

-Ela ia envenenar os filhos de Marcio Vemba, inclusive sua mulher, a patroa. Sabe, Hermínio, logo que Maria entrou por aquela porta havia algo , alguma coisa nela que eu achava interessante. Percebi tarde que era exactamente por ela ser uma mulher comum, uma empregada. Não sabia de sua profissão de ínicio, mas pelo tempo neste trabalho aprendi a avaliar o estado monetário das pessoas pela aparência, e por aquela porta só tem entrado homens e mulheres com dinheiro, soberbos, orgulhosos que acham a polícia fraca, no mal sentido. Mas Maria era simples. E, Hermínio, meu trabalho não é famoso. Ganhei notoriedade por causa daquele primero trabalho com a polícia...

-E que trabalho amigo! Você foi sensacional.

-Obrigado Hermínio!-sorriu Cunha. -Então, como é que Maria ia pagar meu trabalho que não é nada barato? E antes disso como ela tomou conhecimento de meu escritório quando eu nem divulgo o que eu faço?

-Você deveria divulgar mesmo!

-Não Hermínio, este trabalho é selectivo, não tenho tempo para atender a uma demanda! Continuando, surgiu uma ideia, liguei para todos os antigos clientes e perguntei sobre Maria e voíla!

-Então Maria ouviu sobre você de um cliente, a mulher de Marcio Vemba-concluiu Hermínio.

-Assim mesmo Hermínio, a esposa de Marcio Vemba já foi minha cliente. Quando Maria contou-me sobre o desaparecimento dos dois homens e você confirmou, digo-te que fiquei sem ter o que fazer porque tudo aquilo me parecia um esquema. Então, Marcio Vemba morreu e minha hipótese de esquema estava morrendo também, mas eu me forcei a não desistir da ideia. Então minha próxima ideia foi verificar se o outro homem desaparecido não estava com Maria, só aí a minha ideia de esquema se sustentaria, por isso te chamei ontem, se o homem não estivesse com ela então abandonaria a ideia de um esquema. Mas havia outra ideia que não saia da cabeça. Porque Maria procurou-me e porque incluiu seu pai? Não seria mais um complô? Mas porque mentir para mim? Cunha suspirou. - As coisa nem sempre são tão complicadas, Hermínio. Quando soube que os dois estavam realmente desparecidos, talvez eles estavam mesmo. Isso justificava uma outra ideia, a de que um dos homens tenha desaparecido com o outro.

-António Vieira matou Marcio Vemba -disse Hermínio acompanhando. Por isso você disse que Carlos Vemba era o escolhido quando me ligou, você já imaginava que o outro era o culpado.

-Sim, era muito estranho que dois homens rivais desaparecessem assim de repente. Hermínio abanou a cabeça.

-Meu Deus, António Vieira assassinou Marcio Vemba por algum motivo, não é? Quer dizer, ele descobriu sobre a traição de Maria, e simplesmente assassinou o homem e porq...

-Espera Hermínio!-disse Cunha -Esta parte precisamos ouvir da própria Maria. Mas minha ideia é que Maria é amante de Carlos a cinco anos, o mesmo tempo que Maria trabalhava em sua casa.

-Então a filha não é dele...-incitou Hermínio.

-Não, acho que não. Mas, nesse cinco anos Marcio Vemba e Maria foram amantes e António Vieira veio depois.

-Essa Maria...
-Mas ela gostava mesmo era do Marcio, acredito eu. Ela deve ter enamorado com Antônio para fazer ciúmes ou por estar com raiva de Marcio, mas o facto é que ela odiava António para matar-lhe tão friamente. Cunha arrepiou-se. -Morte por envenenamento é muito doloroso.

-E as mulheres e os filhos, ela os odiava também!-perguntou Hermínio.

-Maria é uma mulher vingativa... não sei bem porque elas quiz matar a família de seu ex-amante... mas tenho uma ideia.

-Amigo, ela é filha daquele homem, essa moça não está só!-disse Hermínio com raiva. Graças a Deus, voce os salvou. Como sabia?

-Isso foi fácil. Depois de saber quem era o cliente que Maria teve contacto reuni toda a informação dela e da família, então soube que ela trabalhava para Márcio Vemba e minha ideia que talvez António Vieira matou-o intensificou. Mas quando papá Lengó fez seu relato, percebi que Maria era demasiada mentirosa para ser menos perigosa nessa história. A ideia de veneno surgiu enquanto falava com Papá Lengó.

-Como assim?

-Lembras quando perguntei ao papá se eles estavam de combina? Foi aí que surgiu a ideia e finalmente percebi porque Maria contou-me sobre ir a um Kimbandeiro, porque ela queria que sua história fosse confirmada. Hermínio mexeu-se.

-Não entendi-desabafou.

-Hermínio, pensa comigo, quando ela chegou aqui e me contou toda aquela história, ela podia ter contado por exemplo, as justificativas normais de porque não chamar a policia, então quando ela me contou a história do Kimbandeiro ela estava me dando uma mentira que podia ser confirmada, aparentemente com alguém que ela não conhecia. Acho que não há nenhum vínculo documentado entre pai e filha.

-Então planeou tudo, envenenar António e a família de Carlos... Aquele bruxo mentiroso.

-Maria planeou, provavelmente, em matar os dois homens!-disse Cunha.

-O que?

-Um ela detestava e o outro, segundo a esposa contou, ela e marido iam viver para Portugal. Parece óbvio.

-Sim parece óbvio, amigo, mas como você sabia que ela tentaria matar os filhos?

-Foi uma ideia...
-Só isso, uma ideia?
-Não seria lógico pensar que uma mulher que quer matar um homem que não deixa a mulher para ficar com ela, tenta depois matar a mulher e os filhos que eram os obstáculos. Hermínio suspirou. Cunha continou.

-Quanto ao veneno, imaginei que ela só mataria assim, afinal é o estilo das mulheres, sem escândalo sem sangue!-disse Cunha recostando-se na cadeira.

-Papá Lengó vai depor contra a filha? -perguntou Cunha. Hermínio sorriu a contragosto.

-Ele diz que os espíritos estão zangados e prometeram abandoná-lo se ele recusar depor. Você acredita nisso? Cunha não respondeu voltando a atenção para o lenço

-Preciso ter uma conversa com minha mãe- concluiu.

FIM

Alexander Cunha e a Mulher IndecisaOnde histórias criam vida. Descubra agora