Capítulo 6

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                                                                                              Julia  

  Ouço o barulho dos outros passageiros, vejo a paisagem passando pela janela, mas é como não estivesse vendo ou ouvindo nada. A cena que vi, não sai da minha mente,muito menos a grande noticia. Tiago vai ser pai e não há nenhum bebê em minha barriga. Alguém senta ao meu lado, porem não sei quem é, sinto que estou em outra realidade. Não sinto sede, fome, apenas dor,uma dor tão forte e intensa. A placa de bem vindo ao Rio de Janeiro surgi diante dos meus olhos e mesmo assim não tenho medo. Nunca saí de flores nem para lua de mel, e olha aonde estou? Abro minha bolsa e vejo quanto tem, esse dinheiro não é meu, era para ter pago o IPTU, porem esqueci pois tinha uma surpresa para fazer ao meu marido. Sinto um gosto amargo na boca a vontade de vomitar me atinge e levanto correndo esbarrando no passageiro ao meu lado. O pequeno banheiro está fedendo, o que só aumenta minha ânsia. Com muito custo consigo me acalmar já que não tenho nada no estômago.

 O ônibus para em uma grande rodoviária, há tantas pessoas e ônibus. Tudo completamente diferente de Flores.  Ao descer, o medo me invade de uma vez, olho para todos os lados , tenho certeza que pareço uma maluca. Droga o que vim fazer aqui, respiro fundo sei que preciso me acalmar, e é bem simples, basta comprar uma passagem de volta. Com isso em mente vou comprar minha passagem, porem só terá ônibus para Flores amanhã. Fico sem saber o que fazer e decido caminhar um pouco, talvez seja bom não ter a passagem, não posso voltar correndo para casa, a palavra casa me faz pensar se ainda tenho uma. É quando estou fora da rodoviária que percebo o temporal que está vindo, o vento é muito forte e os trovões também. O desespero começa me envolver, tenho pavor de tempestades. Sempre que Tiago não está em casa vou para minha mãe, mesmo ela dizendo que preciso para com essa besteira pois já sou adulta. Será que eles estão preocupados? Nem lembrei de pegar o celular, assim que achar uma pensão vou ligar para eles. A chuva começa sem dó e decido voltar a para dentro da rodoviária e pergunta aonde posso achar , a moça me explica mais ou menos um lugar e começo a caminhar para lá debaixo do temporal. O local realmente é perto , porem o valor é impossível  de pagar, se me hospedar lá  não conseguirei voltar para casa. Como as coisas são cara, o valor desse na pousada dos meus pais daria para um dia inteiro com o almoço incluído.  A moça me indica um outro local, queria ficar ali esperando a chuva passar, mas seu olhar deixou claro que não posso ficar parada molhando o tapete da recepção.

  Me sinto estranha andando por ruas que não conheço, parece que estou sonhando, era para mim está em casa, fazendo o jantar pelo horário, esperando Tiago chegar, como isso foi acontecer? Senhor me ajuda, por que isso está acontecendo comigo? Olho para o céu em meio a tempestade buscando uma resposta  e tudo acontece de repente. Um puxão no meu braço e levam minha bolsa,  o desespero me invade sinto minhas pernas fracas e meu corpo mole, grito socorro porem, a poucas pessoas na rua por causa do temporal e ninguém ao menos tenta me ajudar. O medo toma conta de mim, caio de joelho rendida, as lágrimas que não havia derramado rolam sem controle pelo meu  rosto. O que vou fazer ? Meu Deu o que vou fazer.

 - Ei moça, vai ficar tudo bem - Olho para cima e encontro um par de olhos verdes me encarado com intensidade. Começo a falar sem para ele se oferece para me levar na delegacia, porem não quero ir, se eu for para lá terei que pedir ajuda de Tiago, minha mãe ligaria direto para ele,estou tão confusa. Ao mesmo tempo que quero ir para casa, não quero.

 - Se quiser pode ficar na minha casa, como pode ver as chances de você me matar ou roubar são bem mais alta do que eu fazer isso com você.- olho para ele desconfiada e só quando ele fala que percebo sua cadeira de rodas, sorrio sem jeito, e o acompanho até o carro, pois além dele ter um ponto, está debaixo da chuva me oferecendo ajuda. Porem sou pega de surpresa com a sua pergunta:

- Você não está fugindo de ninguém não né? -demoro um pouco para responder sim, estava fugindo de alguém mais não por cometer algo ilegal.

- olha eu...- começo a me explicar  porem ele me interrompe.

- Vamos para minha casa e lá conversamos. - apenas aceno concordando com ele, estou preste a lhe oferecer ajuda para entrar no carro quando ele me surpreende, abrindo a porta e encostando a cadeira bem rente ao banco e num impulso perfeito ele se senta e logo depois ajeita as pernas. O desconhecido, fecha a cadeira e retira uma roda, coloca no banco de trás, depois a outra e por fim guarda a cadeira. Fico impressionada com a sua habilidade que me esqueço de entrar no carro.

 - Você vem? - saio do transe e entro no carro. O veículo é adaptado e fico mais uma vez impressionada. Um silêncio estranho se instala entre a gente, e com ele o medo. O que estou fazendo no carro de um completo desconhecido? Na verdade o que estou fazendo no Rio de Janeiro? Como resposta a minha pergunta, as cenas do dia de hoje voltam na minha mente. Talvez esteja no lugar certo afinal de contas.

 A casa dele fica num lugar lindo, ele entra na garagem e faz todo o processo com a cadeira de novo, mais uma vez me impressiono com sua agilidade. Ele abre o porta malas e tira algumas sacolas de lá e por fim entramos em sua casa. Sua sala é espaçosa e ampla, percebo que tudo é adaptado para ele.

 - Vou buscar uma roupa para você no meu quarto e me trocar, fica a vontade. - ele diz sem jeito e percebo que não sei seu nome. Ainda não acredito em tudo que está acontecendo comigo hoje. Um nó se forma em minha garganta e volto a chorar, o desespero tomando conta do meu corpo. Me ajoelho no chão sentindo minhas pernas fracas. 

- Ei por que não senta no sofá ? - o estranho me pergunta.

- Eu não sei seu nome .

 - E por isso não quer sentar no sofá? - pergunta confuso.

- Não, é que estou toda molhada, por isso não vou sentar no seu sofá, só que me lembrei que não perguntei seu nome. - digo com um pequeno sorriso em meio as lágrimas.

- Prazer, Carlos. - ele estende a mão e sinto uma sensação estranha passar pelo meu corpo. Como se já tivesse o tocado nele antes.

-Julia, e obrigada por me ajudar. 

 -Por nada, se quiser pode vestir essa roupa aqui. - ele me entrega um conjunto de calça e blusa de moletom, e me indica o banheiro. Caminho sem graça para o banheiro, porem não tenho opção, não quero pegar um resfriado. O local também é  amplo e adaptado como o resto da casa. Troco de roupa o mais rápido possível e estendo meu vestido numa das barras de ferro que tem aqui. Ficar sem a roupa íntima me incomoda, mas elas estão muito molhadas, não tenho opção. Saio do banheiro e o encontro na cozinha, paro  na entrada sem saber o que fazer.

 - Gosta de chocolate quente Julia? - diz me entregando um copo 

- Obrigada, adoro.- seguimos para sala e não consigo para de admira-lo. Nunca vi um cadeirante tão independente assim. 

 - Olha não tem comida aqui pois o gás só vai vim amanhã, porem posso pedir uma pizza ou qualquer outra coisa que queria comer. 

 - Na verdade não estou com fome, porem agradeço a oferta e tudo que está fazendo. Ele abre a boca para responder porem sua porta é aberta com tudo e de repente duas meninas lindas entram na sala gritando e o abraçando, logo em seguida uma mulher com um neném no colo e por fim um homem. Todos começam a falar ao mesmo tempo, eles não percebem minha presença até a menina mas velha me ver.

 - Quem é você e por que está usando a roupa do meu maninho? 



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