Dois.

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Alyssa


A festa na casa de Aline é às seteEntão, depois que sairmos dessa loja de roupas — que deve ser a quarta ou quinta que passamos, porque Lydia não se decide sobre que roupa vai vestir hoje á noite. — irá sobrar duas poucas horas para nos arrumarmos. Ajudaria se eu conseguisse sair daqui antes do sol se por, mas vejo que isso está se tornando cada vez mais difícil, graças á Lydia. Estou do lado de fora dos provadores, sentada em um sofá amontoado de roupas. Meu vestido já foi comprado, meu sapato novo também. Mas parece que com minhas duas amigas as coisas não são tão rápidas assim.

Jane sai do provador e se olha no espelho. Ela está bonita em seu vestido preto, porem parece não ter a mesma opinião que eu. Está alisando o comprimento do vestido, como se tentasse sumir com suas curvas. Depois, se vira para mim.

Está feio? — pergunta, voltando a encarar o reflexo no espelho. Ele exibe suas feições amarguradas de volta.

— Por que estaria?

— Ora, — ela sorri com escárnio. — porque não sou magra.

— Jane, o que isso tem haver? — questiono.

— Garotas gordas não deveriam usar um vestido justo assim. Eles foram feitos para garotas magras como você. — diz.

— Você está totalmente errada. Uma roupa é só uma roupa, Jane. Não tem regras sobre quem pode usar ou não. — levanto e coloco as mãos de cada lado de seus ombros. — Você deve vestir o que quiser, no que se sentir melhor.

Uma ruga de confusão surge em sua testa.

— M-mas... — ela gagueja. — As pessoas dizem que não posso usar roupas justas, curtas ou que possam expor meu corpo. Dizem que sou diferente. Que devo emagrecer. Algumas são delicadas na hora de falar, como por exemplo: "Você é linda. Ficaria ainda mais linda se fosse um pouquinho menos cheinha." Outras já não tem o mesmo senso, mas no geral é tudo o que falam. E eu tentei, eu juro que tentei emagrecer...

— E tudo bem. — a interrompo, acariciando sua bochecha com meus polegares. — Não escute o que os outros têm a dizer, a sociedade é uma merda e se formos seguir todas as suas regras, estaremos todos perdidos. Faça o que você quiser, e sem medo. Não tenha medo de viver, Jane. A vida é preciosa demais para perdermos tempo a desperdiçando ou vivendo errado. — respiro fundo e abro um sorriso. — E, aliás, esse vestido fica melhor em você do que jamais ficaria em mim. — pisco.

Lágrimas brilharam no fundo de seus olhos castanhos claros e ela sorriu para mim.

— Obrigada, Alyssa.

Agora ela sorri para seu reflexo e acaricia suas curvas, indo, novamente, para seu mundo particular.

Lydia abre as cortinas de sua cabine e sai dela, agora com as roupas que vestia hoje de manhã.

— Já escolhi. — ela diz, alegre. — Podemos pagar e ir embora.   

A minha alegria é tão imensa que nem sei como expressá-la quando finalmente saímos pela porta da loja para a rua. O vento frio me atinge como alfinetadas na pele, mas é isso que acontece quando as melhores lojas ficam na baía de Los Angeles e acaba saindo tarde de lá. Fecho o zíper de minha jaqueta e caminho mais rápido em direção ao carro. As duas garotas atrás de mim estão tremendo de frio, e se abraçam para compartilhar calor. Sem mais de longas destranco o carro e entramos nele.                       
A trajetória de volta foi calma e silenciosa, estávamos cansadas demais para conversar sobre algo, mas também porque sabemos que é melhor não falar sobre hoje se não quisermos desmoronar. Tudo o que queremos é chegar a nossos lares para relaxarmos. Após deixar as garotas em suas casas entro na minha. As paredes branco gelo são familiares e parecem estar me recebendo e então suspiro, considerando se tenho mesmo que ir á festa. Quero muito ficar em casa, mas acabo sendo a carona de Lydia e Jane. Poderia até emprestar meu carro para Jane, mas não confio em suas habilidades de direção. Alguém que não consegue dirigir um carro no videogame não pode ser deixada perto de um volante.

The Last Lifes: Coroa de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora