Oito.

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Alyssa

O que era uma manifestação pacífica virou caos.
Pessoas correndo para todo lado fugindo dos policiais e delas mesmas, crianças gritando desesperadas por seus pais. Os policiais atiravam balas de borracha, atacavam manifestantes negros com bastões e cassetetes, algumas vezes partiam para a agressão com suas próprias mãos. Granadas de gás foram jogadas no nosso meio e elas queimavam como o inferno. Tem menores de idade e crianças aqui. Mas eles não se importaram. Tudo o que lhes importa é a violência, é ser violento. E isso me enoja. Quero que queimem no fogo do inferno por essas atrocidades cometidas contra cidadãos, manifestantes pacíficos.

Viemos aqui com a intenção de protestar justamente contra a violência policial e somos atacados pela violência policial. Seria irônico se não fosse trágico.

Como a maioria dos alvos dos policiais foram pessoas negras, a nossa prioridade também foi. A maioria dos brancos que não fugiram, formaram uma espécie de muralha em volta deles para protegê-los dos policiais.

E é quando vi isso que esse sentimento, essa necessidade de proteger, surgiu em mim. Saí correndo atrás de Jane ou Nathan.

Comecei a procurá-los em meio à multidão, tendo quase que chutar e empurrar para passar. Se Liam estivesse aqui talvez pudesse me ajudar, mas ele não estava. Eu estava sozinha.

Felizmente avistei Nathan, e infelizmente ele estava prestes a ser preso por, mais um, policial racista. Redobrei a velocidade na sua direção e fui barrada pela corrente de pessoas que tentavam fugir. Por instinto, estendi minha mão esquerda para o policial atrás dele, que o segurava com força. Um calor brotou em meu coração, se espalhou por meu peito ganhando força e agilidade enquanto passou por meu braço e focou em minha mão. Minha visão entrou enfoque diferente, enxergando tudo em um tom avermelhado como se estivesse pegando fogo. Olhei para meu braço e minha mão, assustada sobre como brilhavam, até que todo calor se reúne em meus dedos e eu atiro atirando calor concentrado na direção do policial que prendia meu amigo. Nathan praguejou e se jogou no chão, girando para suas costas a tempo de ver quando o calor acertou o policial e o arremessou para trás. Corri na direção dele para ver se estava vivo e Nathan fez o mesmo. E ele estava vivo, mas também queimado.

E é por isso que agora eu encaro minhas mãos com horror pelo o que fiz. Nathan também está assustado. Felizmente, nós dois parecíamos ter sido os únicos a perceber o que havia acontecido.

O que li num livro sobre multidões te tornarem invisível se provou real.

Nathan agarra meu braço e sai correndo, me levando com ele. Meus pés se movem sem que eu perceba, agindo no piloto automático porque a única coisa que consigo fazer é repassar o momento em que queimei um homem, de novo e de novo na minha cabeça. Mas volto a mim quando meus olhos capturam um policial que mira sua arma na direção de uma garotinha de mais ou menos seis anos. Uma criança.

Livro-me do aperto dele e corro na direção da menina, a tirando de seus pés e virando meu corpo de lado a fim que pudesse protegê-la e fazer com que eu estivesse na mira da arma, não ela. A bala de borracha atinge meu braço direito de raspão e urro de dor enquanto bato no chão com força, a menina agora sobre mim. Ela sorri de um jeito tão doce que por um momento toda a dor que estou sentindo some.

A dor me acerta de novo quando me levanto e coloco a menininha no chão. Uma mulher vem correndo para nós.

— Mamãe! — ela corre para os braços da mãe, que a abraça com força.

A mãe se vira para mim.

— Obrigada! — ela sorri e tem lágrimas nos olhos.

Quando estou prestes a respondê-la a onda da multidão nos separa.

The Last Lifes: Coroa de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora