Três.

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Alyssa


Quando fecho meus olhos volto àquele momento.
As luzes piscavam em vermelho e azul como em uma trágica sintonia. Por longos segundos me sentia caindo, caindo em queda livre no espaço. Caindo sem parar. Caindo e me afogando. Perdida. Não conseguia me mexer, não conseguia falar ou fazer nada além de encarar minha casa e chorar. As lágrimas desciam uma atrás da outra por meu rosto, sem cessar. Eu soluçava, em prantos, porém ninguém fazia nada. E por que fariam?
— Alyssa!
Mal me virei na direção da voz familiar que me chamou. Estava sufocada em minha própria consciência, vagando sem rumo dentro de mim mesma. Não conseguia respirar direito. O ar estava pesado como chumbo em meu peito. Meus olhos não se mantinham abertos e eu só esperava pelo fim.
— Alyssa, ei. — as mãos de Lydia tomaram as minhas. — Estamos aqui. O que aconteceu?
Não a respondi. Não fazia nada além de encarar o vazio.
— Coitadinha...— escutei Sra. Edwards dizendo para a filha.
Lydia me puxou para um abraço apertado. Não abracei de volta. Ela se afastou, uma ruga surgiu em sua testa, preocupação ecoando em seu rosto.
— Aly?
Nada.
— Aly, o que aconteceu aqui?
Nem. Uma. Palavra.
A garota baixinha de óculos se virou para a mãe.
— Mãe, ela não está me respondendo! — Lydia começava a ficar aflita, mas isso não importava. Nada disso importava.
Sra. Edwards então se voltou para o oficial mais próximo e lhe perguntou o que aconteceu na casa.
— Os vizinhos pensaram estar ouvindo barulhos estranhos, como uma invasão e ligaram para a polícia. Os peritos confirmaram que houve sim uma invasão. A porta foi arrombada. Tiveram sinais de luta dentro da casa, assim como uma grande quantidade de sangue. Sra. e Sr. Hughes foram declarados desaparecidos, mas o detetive acredita que pelo tanto de sangue na casa, é praticamente impossível que estejam vivos. Devem estar mortos.
Devem estar mortos.
Mortos.
Meus pais estão mortos.
Então senti duas mãos segurando meus ombros e os chacoalhando. Uma. Duas. Três. Quatro vezes seguidas.
Alguém chamando meu nome repetidamente...

— Alyssa!
Abro meus olhos, acordo. Um grito escapava por meus lábios.
A primeira coisa que vejo é o teto branco decorado com pequenas estrelas. Estou na cama, no quarto. Estou segura aqui.
— Você estava gritando, tendo um pesadelo. — a voz de minha amiga chama minha atenção de volta ao que está acontecendo.

Lydia está sentada ao meu lado. Seus óculos estão tortos e seu cabelo está uma verdadeira bagunça. Parecia que tinha sido atropelada por um trem.

— O que eu estava gritando? — pergunto.
— Estava chamando por seus pais.
— Ah.

Olho para mim. Minha blusa está colada ao meu corpo suado, estou suando frio como em um ataque de ansiedade. Meu cabelo também está uma bagunça por ter me revirado na cama e sinto como se não tivesse dormido nada.

— Desculpe por ter te acordado. — falo.
— Tudo bem. — ela sorri para mim, estica seu braço até minha mesa de cabeceira e pega um copo de água. — Agora, beba isso. É uma ordem da sua superior.

A única forma que encontro para responder isso é com uma risada. Aceito o copo d'água e bebo o líquido dele.

— Bem, volte a dormir. — ordena. — Amanhã é um longo dia.
Concordo com a cabeça.

Apesar de todos os meus esforços não consigo voltar a dormir depois daquele pesadelo. Não estou dormindo direito há dois dias, não importa o que eu tente. Acho que insônia é o que acontece quando seus pais estão desaparecidos.
A família Edwards está sendo tudo para mim. Como eu não posso entrar na minha casa por pelo menos três dias, eles me acolheram na deles. Cuidaram de mim. Terei uma dívida eterna com eles, com Lydia.
Os raios de sol começam a nascer, pintando o céu azul escuro em azul claro, rosa e amarelo.

The Last Lifes: Coroa de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora