《1.0》

475 48 35
                                    

Mesmo após a estranha conversa com Lauren naquela manhã, elas haviam almoçado em silêncio quase total. A oferta dela ainda martelava os pensamentos de Ally, mesmo algumas horas depois. Havia sido sincera quando disse que elas poderiam ter sido amigas, mas isso seria em uma outra situação e, no momento, Ally não sentia segura em confiar em Lauren dessa forma, apesar de já ter falado abertamente com ela duas vezes nos últimos dois dias.

Não querendo mais pensar nesse assunto, pelo menos por enquanto, balançou a cabeça para afastar os pensamentos, pois precisava se concentrar em algo mais importante no momento.

Aproveitando que Lauren havia voltado para a prefeitura depois do almoço, chamou um táxi e foi para o hospital. Tinha que saber como estava o seu bebê.

Após algum tempo na sala de espera, finalmente ouviu o seu nome sendo chamado e dirigiu-se até a sala de exames, sendo conduzida por uma enfermeira. Havia passado por ali durante a visita guiada pelo Dr. Tyrone Griffin, mas a dor que estava sentindo, mesmo sendo leve, a estava preocupando demais para que se lembrasse de dizer que iria começar a trabalhar ali em poucos dias e que não precisava ser tratada como uma paciente comum, pois conhecia bem a rotina de um hospital. Alheia aos seus pensamentos, a enfermeira entregou-lhe uma camisola hospitalar e apontou para mesa de exames.

- Tire suas roupas e vista isso, depois deite-se ali. - Ela dirigiu-se para a porta da sala. - A obstetra estará aqui em alguns minutos.

Revirando os olhos para o tom entediado da enfermeira, Ally segue as instruções, contendo-se para não sair procurando os materiais naqueles armários e começar a examinar-se ela mesma. Com um meio sorriso debochado, lembrou-se da frase mais repetida que existia no campo da medicina: "os médicos são os piores pacientes". Apesar de concordar com a premissa básica, sabia que isso acontecia exatamente porque os médicos eram profundos conhecedores das consequências de ter a vida das pessoas nas mãos.

Interrompendo seus pensamentos, a porta se abre e uma morena, com longas madeixas escuras presas em uma trança lateral, entrou na sala com o que julgou ser o seu prontuário na mão.

- Sra. Brooke-Jauregui... - Ela começou a dizer, mas foi interrompida.

- Doutora Allyson Brooke, por favor. Eu sou médica também.

Ela a encara com seus olhos muito negros.

- Oh, uma colega. - Ela estende a mão na sua direção. - Muito prazer em conhecê-la. Eu me chamo Sofia Cabello e serei a sua obstetra.

- O prazer é meu, Dra. Cabello. - Ally responde, apertando a mão dela.

Os minutos seguintes são gastos com Ally contando a Sofia sobre o seu histórico médico, incluindo o fato de que havia perdido uma pessoa da família recentemente e havia passado por várias tentativas de inseminação fracassados, tomando o cuidado de não revelar nenhum detalhe pessoal demais. Afinal, Lauren era a prefeita da cidade. As pessoas não entenderiam o fato de ela estar em um casamento de aparências e com prazo de validade.

- Então. - Sofia despejou o conhecido gel sobre sua barriga enquanto falava. Suas pacientes tinham razão, era gelado. - Jauregui, hum? Você é parente da prefeita?

Estava claro que ela só queria puxar assunto, mesmo sem saber o quão delicado era aquele tópico para Ally. No entanto, assim que toda a cidade soubesse, não poderia mais se encolher a cada vez que alguém fizesse um comentário sobre isso. Portanto, decidiu que era hora de arrancar o band-aid e deixar a ferida cicatrizar.

- Sim. Sou esposa dela.

- Esposa? Eu não sabia que a prefeita era casada.

- É recente. Nós preferimos nos manter discretas.

- Faz sentido. Ela sempre foi uma mulher bastante reservada. - Movendo as onda com bastante habilidade com uma mão, Sofia usou a outra para virar o monitor para Ally. - E aí está o seu bebê. Apesar de a sua barriga ainda ser bastante discreta, ele está dentro da faixa de crescimento normal para a vigésima semana. Eu só estou preocupada com a sua pressão que está um pouco acima do limite.

Quando ela moveu a sonda mais um pouco, o som do coração do bebê ressoou pela sala deixando Allyson emocionada.

- É um coração forte. - Disse, lutando contra as lágrimas. Queria que Michelle estivesse ali para ver aquilo.

- Pode chorar. Prometo que não conto para ninguém. - A Dra. Cabello disse a última parte sussurrando como se fosse um segredo, e isso a fez rir. - Mas, porque a prefeita não está aqui para ver esse momento lindo?

Oh, droga! Não havia pensado nesse tipo de questionamento.

- Uh... é que... ela ainda não sabe. - Sofia paralisou, por um momento, e Ally tratou logo de se corrigir. - É uma surpresa. Por favor, não conte ainda.

O rosto da médica suavizou.

- Ah, mas que surpresa linda! Tenho certeza de que ela vai amar.

- Aposto que sim.

Ally não tinha a menor ideia de como Lauren iria reagir, assim como também não sabia o quanto isso iria afetar os planos de divórcio dali a um ano uma coisa era um acordo verbal entre elas, e só podia imaginar que ter uma criança envolvida em toda aquela confusão seria outra coisa completamente diferente.

Sofia tinha razão. Sua barriga ainda era discreta. Porém, em breve, nem mesmo as suas roupas mais largas seriam capazes de esconder o seu segredo, considerando que o seu bebê nasceria seis ou sete meses antes do fim do acordo e isso, de acordo com o testamento, iria acorrentá-la a Lauren por mais dezoito anos, no mínimo.

Maldita hora em que resolveu propôr aquele acordo idiota.

The SisterOnde histórias criam vida. Descubra agora