《2.0》

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Allyson tomou seu café em silêncio, observando Lauren pelo canto do olho. Ela tinha um olhar distante, encarava o lago sem parecer que estava realmente olhando para ele. Já tinha percebido que ela era essencialmente uma mulher calada, não recebia muitos telefonemas que não fossem relacionados ao trabalho, não costumava receber visitas, nem saía de casa com frequência. Em resumo, a vida dela consistia em cuidar da cidade. Parecia solitária e esse era um fato realmente triste porque ela parecia mesmo ser uma pessoa boa.

Houveram vários momentos em que Allyson pensou em tentar conhecê-la melhor, mas não queria se apegar a nada que dissesse respeito à Wiscasset. Já seria demasiado difícil ir para longe da sua mãe quando finalmente pudesse ir embora dali. E Lauren ser físicamente idêntica à sua falecida esposa, apesar do corte de cabelo e do estilo diferente, só reforçava a sua decisão de manter uma barreira entre aquela cidade e o seu coração.

Nada do que Taylor fizesse seria suficiente para convencê-la a ficar ali por mais tempo do que o estritamente necessário. Sua conversa com ela naquela manhã não havia sido nada demais. Apenas seguira o conselho da sua mãe e contar à cunhada sobre o bebê que estava esperando. No entanto, ver a alegria dela e observá-la conversar com a sua barriga abriu os seus olhos para algo muito importante: aquele doce bebezinho que crescia em seu ventre era o sonho de Michelle. O sonho que haviam compartilhado por tanto tempo e que finalmente se tornava realidade. E, estava estragando isso, perdendo tempo ao guardar rancor de Michelle quando tudo o que importava de verdade era o seu filho. Havia sido por ele que aceitara passar um ano com Lauren, para começo de conversa. Portanto, tomou a decisão de parar de lutar contra aquela situação e começar a fingir aceitá-la. O que significava que, a partir daquele dia, Ally iria fazer tudo que fosse preciso para voltar à sua vida e à sua carreira em Nova York. Se, para isso, tivesse que bancar a esposa apaixonada de Lauren Jauregui por um ano, então assim seria.

A ironia nisso tudo era que precisaria da colaboração da pessoa que menos queria ter por perto durante o processo: a própria Lauren.

Começando a colocar o seu plano em prática, olhou diretamente para ela, que permanecia distraída. Os olhos e a boca, o cabelo bem penteado, a maquiagem impecável, tudo nela parecia estar em seu devido lugar, exceto a solidão constantemente presente no olhar dela. Respirando fundo e tentando não pensar nela como uma versão de Michelle vestindo roupas caras, colocou a caixa onde antes haviam rosquinhas e os copos vazios de café de lado e sentou-se mais perto dela.

Como havia previsto, o seu movimento a despertou de qualquer que fossem os devaneios nos quais estivera mergulhada nos últimos minutos.

- Lauren? - Testou.

- Sim, Srta. Brooke?

- Eu estava pensando na conversa que tive com Taylor mais cedo e com a minha mãe antes disso. - Sempre ouvira dizer que meia verdade é uma mentira inteira. Era isso que Ally faria. Deixaria Lauren conhecer o seu plano, mas nunca os seus motivos ou intenções. Não daria ela a chance de lhe conhecer realmente. - Eu gostaria de saber se você estaria disposta a fazer as pessoas acreditarem que somos um casal de verdade.

Ally agora tinha toda a atenção da prefeita.

- Como assim? - Os olhos verdes brilharam deixando óbvia a confusão dela.

- Olha... - Consertou sua postura, enquanto procurava cuidadosamente as palavras certas para convencê-la. - Nós duas estamos presas a um casamento que não queremos e, como já conversamos antes, precisamos criar condições favoráveis para nós no futuro. O que significa que teremos que nos esforçar mais para que isso seja possível e...

- Vá direto ao ponto, Srta. Brooke.

Lauren tinha a incrível habilidade de ser um livro aberto em um instante e, no minuto seguinte, esconder-se sobre aquela máscara indecifrável, mas Ally pôde perceber uma pitada de irritação na voz dela.

- O que estou querendo dizer é que não seria tão ruim que tivéssemos mais encontros públicos como esse que Taylor armou e, talvez, até... demonstrações públicas de afeto. - Um lampejo diferente passou pelos olhos dela, mas não conseguiu identificar o que significava. Estava esperando ouvir o seu habitual "oh!" para situações inesperadas, mas ela obviamente o reprimiu enquanto voltava a encarar o lago. Então, Ally acrescentou: - Não seria nada muito diferente do que já havíamos combinado antes e você não precisa dar uma resposta agora, se não quiser.

- Está tudo bem senhori... Ally. Eu concordo em fazer o que estiver ao meu alcance para tornar o nosso... relacionamento o mais crível quanto for possível. - Ally não conseguiu conter um suspiro aliviado e quase não registrou o que Lauren disse a seguir: - E acho que devemos começar imediatamente.

- O qu...

A pergunta morreu em sua garganta quando Lauren se aproximou e a puxou para um beijo. Não foi invasivo. Na verdade, foi apenas um roçar de lábios um pouco mais demorado como se fossem de fato acostumadas a fazer aquilo. Quando se afastaram, Ally encarou-a, mas os olhos verdes permaneceram sobre os seus lábios. Sua mente procurava por algo para dizer, mas uma voz um tanto quanto familiar chegou aos seus ouvidos.

- Ora, se não é o casal mais comentado da cidade. - Virou-se para olhar para cima. Camila, claro. Isso justificava o beijo que Lauren tinha acabado de lhe dar. - Lauren, querida, há quanto tempo você não aparece na sorveteria.

- Olá, Camila. As últimas semanas têm sido bastante frias, então, prefiro tomar um chocolate quente no Granny's. - Lauren respondeu com um sorriso indiferente.

- Bobagem! Até parece que já esqueceu o que eu lhe ensinei. Tomar sorvete nessa época do ano é surpreendentemente mais divertido. - Ela disse de uma maneira afetada. Então, virou-se para Ally. - Olá, querida. Acho que ainda não fomos devidamente apresentadas. Eu sou Camila Cabello, tia da Sofia e melhor amiga da Lauren.

Com uma melhor amiga como ela era melhor ser cercada por inimigos.

- Allyson Brooke-Jauregui. Esposa e mãe do filho da Lauren. - Fez questão de abrir o sobretudo e acariciar a sua barriga para que ela visse. Se era questão de marcar território em torno de Lauren, Allyson não se acovardaria.

Estava mais do que óbvio que a Camila queria prefeita para si, o que a tornava uma ameaça. Ally, no entanto, não permitiria que ela atrapalhasse o seu plano. E, visto que Lauren a havia beijado assim que notou a presença da outra, supôs que ela estava do seu lado nisso.

Sentiu-se triunfar quando viu o sorriso de Camila murchar.

- Bom, parabéns ao casal. Ainda aguardo uma visita de vocês na sorveteria. Até mais. - E tão rápido quanto se aproximou, ela foi embora.

Quando voltou a olhar para Lauren, viu que ela tinha um ar divertido no rosto.

- Mas, o que foi isso? - Ela perguntou.

- Eu que pergunto. Ela é sempre assim?

Sabia que ela não estava falando de Camila, mas era melhor manter o foco da conversa em qualquer coisa que não fosse o beijo ou fato de que havia acabado de dizer em alto e bom som que seu filho era filho dela.

- Assim como? Provocativa, passiva-agressiva e territorialista? - Allyson assentiu. - Sim, sempre. Chega a ser cansativo, às vezes. Mas você se saiu bem em demarcar o "seu território".

- Espero que sim. Se ela é a fonte das fofocas contra nós, é bom fazê-la entender que não há nada para ela aqui.

The SisterOnde histórias criam vida. Descubra agora