《1.5》

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Lauren tentou abrir os olhos e, instintivamente, levou a mão ao rosto para bloquear a claridade que feria suas pupilas. Sentiu suas pálpebras pesadas e inchadas e sua cabeça doía, provavelmente por causa da noite anterior. Não gostava de chorar, principalmente diante de outra pessoa, mas a conversa com Ally havia-lhe feito chegar a um limite insuportável.

Ao lembrar-se disso, levantou a cabeça, percebendo que havia adormecido no ombro dela. Agradeceu aos céus por ela ainda estar dormindo, assim não veria as suas bochechas coradas pelo constrangimento da situação.

Moveu-se cuidadosamente, afastando a mão dela que ainda descansava em sua cintura e levantou-se indo procurar pelo seu celular na intenção de verificar a hora. No entanto, lembrou-se que o havia deixado no bolso do seu sobretudo que Ally estava usando. Pensou em tentar pegá-lo, mas logo desistiu da ideia. Era melhor deixar ela dormir um pouco mais, afinal, era domingo e a noite anterior havia sido bastante intensa, especialmente para uma mulher grávida.

Saiu silenciosamente da cabana e sentiu o vento frio soprar no seu rosto. Encolhendo-se, cruzando os braços em torno de si sentiu todo seu corpo estremecer. Aquela provavelmente seria uma das manhãs mais frias do ano em Wiscasset. Desistindo de observar a floresta gelada, voltou para dentro e sentou-se em uma das cadeiras que seu pai havia mandado fazer quando era criança. "Uma para cada uma das minhas princesas", disse ele, quando levou as três cadeiras para a cabana.

Seu olhar caiu sobre Allyson, ainda adormecida. Ela parecia um anjo assim, relaxada, sem tantos muros cercando-a por todos os lados. Adoraria poder escalá-los e depois derrubar cada um deles pelo lado de dentro. Mas sabia que não podia. Allyson era fruto proibido. A Caixa de Pandora que Lauren nunca se atreveria abrir. Apesar de ainda sentir o calor do corpo dela junto ao seu e de ter o cheiro dela impregnado nas suas roupas e até nos seus cabelos. Sentiu-se tentada a não lavá-los tão cedo, mas, tão rápido quanto esse pensamento surgiu, tratou de expulsá-lo. Não podia se permitir esse tipo de fantasia. Seria crueldade demais consigo mesma.

Felizmente, não demorou muito para que ela começasse a despertar. Tinha que admitir, era uma bela visão observá-la mover-se lentamente, soltando alguns sons preguiçosos antes de abrir os olhos e tentar lembrar onde estava. E, com certeza, aquela era uma ótima definição de tortura para alguém que não tinha uma boa noite de sexo há bastante tempo.

Passou a mão pelos próprios cabelos, tentando não se fixar sobre esse pensamento, quando Ally levantou-se e suas bochechas coraram.

- Sra. Prefeita. - Disse ela, um tanto assustada. - Que horas são?

- Me diga você, já que está com o meu celular.

Ela ficou ainda mais vermelha. Era uma graça.

- Desculpa. - Ela enfiou a mão no bolso do sobretudo, tirando de lá o celular e estendendo para Lauren.

Ao pegar o aparelho, fingiu não notar que o sobretudo estava entre aberto, deixando à mostra a lingerie de renda cor-de-rosa que ela usava. Também pôde notar que a barriga de grávida já começava a aparecer.

Com naturalidade fingida, desbloqueou a tela do celular e percebeu que já havia se passado boa parte da manhã. Ainda sem querer encarar Ally, que havia se afastado e fechado o sobretudo apertando em volta do corpo, abriu a notificação que piscava insistentemente.

- Oh, Patrícia Hernández está nos convidando para almoçar no apartamento dela. Como um casal.

Ally piscou, tentando esconder o choque.

- É... Patrícia Brooke, agora.

- Desculpe.

- Tudo bem. Ao que parece, é recente.

Ela ainda não se sentia confortável a falar da mãe dava para ver isso na expressão tensa dela.

- Bom, em comparação com o reencontro com o seu pai, ir a um almoço de domingo com sua mãe não deve ser assim tão ruim. - Jogou a isca.

Ally se sentia sozinha, isso era óbvio. Talvez, fazer as pazes com a mãe poderia se tornar uma coisa boa em contrapartida de todo o tormento das últimas semanas. E, de alguma forma, sentia que ela queria aquilo. Só estava sendo covarde demais para admitir para si mesma. Lauren conhecia o sentimento como ninguém.

- Se você acha... - Ela respondeu com desinteresse fingido. Mas, não havia dito "não" de imediato.

- Posso confirmar?

Ela deu de ombros e assentiu. Lauren conteve um sorriso enquanto digitava uma resposta para Patrícia. Quis perguntar se ela contaria sobre a gravidez ou sobre a verdadeira situação de ambas, mas achou melhor não forçar a barra. Cada coisa a seu tempo.

A caminhada até o carro não foi tão difícil quanto pensou que seria, apesar do chão molhado e escorregadio, e logo estavam de volta à sua casa. O clima entre elas era algo que não conseguia decifrar. No entanto, sabia com certeza, que alguma coisa havia mudado depois da noite anterior. Apenas não sabia identificar o quê exatamente. Ou o que mais, não é? Já que agora tinha consciência de que se sentia atraída por Allyson Brooke. Porém, nunca a deixaria saber disso.

Não trocaram uma única palavra desde o momento em que chegaram até se encontrarem novamente na sala de estar, já prontas para saírem.

- Você está bem? - Perguntou, ao vê-la descer as escadas. Ela estava pálida.

- Um pouco enjoada. Talvez seja fome ou emoções demais para uma única noi...

A resposta dela foi interrompida por um espirro.

- Ou, talvez, você esteja ficando resfriada depois de toda aquela chuva. Posso fazer um chá, se quiser.

- Não precisa. É melhor irmos andando. Não quero chegar atrasada na minha próxima sessão de tortura.

Ela estava tentando ser engraçada? Porque precisaria se esforçar um pouco mais.

- Tem certeza de que quer ir? Eu posso avisar a Patrícia que você não está se sentindo bem.

- E correr o risco de ela querer transferir esse maldito almoço para cá? - Ela deu uma risada forçada. - Agradeço a oferta, mas eu prefiro enfrentar toda essa coisa de "por favor, me perdoe" de uma vez por todas. De preferência, em um lugar de onde eu possa fugir, usando o meu mais recente resfriado como desculpa, logo depois de matar a saudade do tempero da dona Patrícia.

Seguindo-a na direção da saída, Lauren sorriu.

- Então, você é admite que sente falta da sua mãe. - Cutucou.

- Eu falei do tempero, não dela. E, se você disser uma palavra sobre isso, lembre-se que eu sou cirurgiã. A sua morte vai parecer um acidente e ninguém nunca vai desconfiar de mim.

- Está bem, Doutora Brooke. O seu segredo está seguro comigo.

Aquela havia sido, de longe, a conversa mais estranha que já tivera com Ally até aquele momento, mas tinha que confessar que não havia achado tão ruim.

The SisterOnde histórias criam vida. Descubra agora