O Pivete Mosley

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Morchester Town - 1920

Michael pediu mais uma cerveja. Esta se adicionou a anterior, e a antes dessa, como os copos que ele bebeu a mais do que devia. Agora não faria nenhuma diferença, se era para ficar bêbado, queria ficar realmente bêbado.
-Sabe, -Ele começou enquanto traçava desenhos com a condensação que se formava ao redor do copo. -Meu irmão devia ter sido filho único. Ele teria sido um ótimo filho, se ele fosse sozinho... -Uma pausa para um soluço. -Se não tivesse que cuidar de mim o tempo todo. -Ele estava chorando? Achava que estava chorando, mas podia ser só o calor da bebida. O pensamento dele vagou de seu irmão mais velho, Samuel, para seu velho camarada, Carlyle. -Eu não pude salva-lo, John. Eu tentei. Eu puxei ele para perto de mim... bem perto... mas ele já tinha ido. -Agora com certeza estava chorando.
John, o barman, sempre teve um apego especial por Michael, apelidado carinhosamente de "O Pivete Mosley". Ele era mais enérgico que seu irmão, e mais sorridente. Andava por aí acenando para todos, até as pombas, e fazia pequenos truques com moedas que os filhos de John adoravam. Samuel por outro lado, caminhava com o semblante sempre fechado e as roupas sempre escuras. Falava pouco e bebia menos.
A asma tinha poupado Samuel de ir para a guerra, mas o raio não acerta duas vezes no mesmo lugar, e Michael tinha servido dois longos anos, entrincheirado nas crateras de Verdun.
O pivete que foi para a guerra, e o que voltou, eram pessoas completamente diferentes. Mesmo assim, John gostava de ambos.
-O que te falta, pivete, -John começou puxando o copo de cerveja para longe de Michael. -É um objetivo de vida. Algo que te mova. Fantasmas não são reais a menos que você queira que eles sejam. Carlyle não ia querer que você jogasse a segunda vida que ele te deu fora. -John não sabia quem Carlyle era, -algum pobre coitado que esteve no inferno lado a lado com Michael. John não sabia qual era seu rosto, ou de onde ele vinha, mas ele podia imaginar qual era a sua história. Ela era como a de tantos outros garotos sonhadores que foram para a guerra apenas para deixarem para trás suas camas vazias, suas mães de luto, e seus companheiros traumatizados. O menino mais velho de John era um deles, dormindo para sempre em alguma desolada paisagem francesa. Longe de casa. John respirou fundo e continuou. -Você precisa criar alguma coisa que tome seu tempo, que ajeite as ideias aí dentro dessa sua cabeça oca.
Michael levantou os olhos do balcão e, por trás do semblante abatido, John pode ver um vislumbre do Pivete Mosley.
Um sorriso preguiçoso atravessou os lábios de Michael Mosley. Os pensamentos ainda estavam confusos por trás de toda a bebida, mas as engrenagens da sua começaram a se mexer vagarosamente, como uma máquina enferrujada. Era o começo de um plano.
-Algo que me mova... -Ele disse simplesmente, e saiu apressado do bar, aos tropeços.
-Você me deve duas pratas! -John gritou detrás do balcão e então sorriu. Realmente gostava do pivete.

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⏰ Última atualização: Dec 12, 2021 ⏰

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