Assim que Aaron chegou em casa, desligou o celular. Scott era um ponto positivamente singular e bastante eficaz dentro da empresa, mas não conseguia dar um passo sem anunciar.
Girou as articulações enquanto deixava a porta trancar automaticamente atrás de si. Ser o coordenador da montagem do mais novo computador feito aos moldes exclusivos e bem mais precisos para a NASA tinha suas vantagens. Ter apenas dez minutos de descanso entre um trabalho e outro as anulava, no entanto. Precisava se manter a base de cafeína e alguns comprimidos energéticos, mas, quando a taquicardia ameaçava, era hora de parar e ir embora.
O contato restrito com a chefe também não ajudava. Sua mãe acreditava que bons funcionários não deviam ser dispensados por problemas pessoais, mas não dirigia mais que poucas palavras diárias a ele havia pouco mais de um ano. Não que o relacionamento fosse muito bom antes, apenas menos cansativo.
Olhou a sala cinza ao seu redor, estranhando não ver o irmão ao lado da presença holográfica de algum amigo ou jogando algum jogo de realidade virtual. Ele era barulhento e perceptível demais dentro do cenário com poucos móveis para chamar a atenção, quase como um adereço para o local.
– Eileen, onde está Nathan? – perguntou à I.A. enquanto colocava a carteira e o papel de uma bala sobre a mesa de centro. Não estava acordado o suficiente para se interessar pelas saídas dele.
– No seu escritório – a voz feminina, com uma base metálica muito sutil, anunciou calmamente.
Isso o interessou.
Ele se direcionou ao elevador que levava ao cômodo no subsolo. Existia um motivo para estar escondido e com certeza não era a presença frequente de outra pessoa. O reconhecimento córneo era um dos mais eficientes, em que momento Nathan burlou isso? Ou tinha se esquecido de fechar a porta da última vez?
– Ele disse o que queria?
– Não, senhor.
Aaron respirou fundo, beliscando a ponte do nariz. Às vezes, deixar Nathan sozinho era tão perigoso quanto deixar uma criança sem supervisão por alguns segundos.
A porta estava entreaberta quando chegou lá, e, numa primeira vista, nada parecia fora do lugar. Contrariando o restante do lugar, o escritório – que mais se assemelhava a um laboratório de engenharia – era o ambiente mais claro da casa. As paredes e os pisos se mantinham no mais perfeito branco, contrastando bem com alguns dos móveis e máquinas pretos, e com a figura vestida de azul sentada no chão, revirando as gavetas.
– O que você quer? – entrou na sala sem tentar ser sutil.
Nathan não se abalou; sequer demonstrou algum interesse assustado em sua presença. Apenas observou por cima do ombro antes de recolher a pasta verde-escuro ao seu lado.
– Você sabe que não tem direito de acesso a essa sala, não é? – disse enquanto retirava a jaqueta marrou e a jogava na mesinha de vidro ao lado.
– O que é isso? – mostrou a pasta. Havia uma etiqueta mediana onde estava escrito "Universidade" em uma caligrafia apressada e torta.
O canto de sua boca elevou-se um pouco. Colocar um reconhecimento digital em alguns de seus materiais não foi perda de tempo, afinal.
– Coisas da universidade – deu de ombros, mesmo que os sentisse tensos. – Recordações.
Uma risada debochada preencheu o ar.
– Está ficando sentimental?
Aaron soltou todo o ar que podia pelo nariz, passando distraidamente a mão pela barba. O plano era simples: tomar um banho e se jogar na cama enquanto ainda podia se manter inacessível. Havia programado sua I.A para forçar o celular a ligar depois de 5 ligações seguidas, apenas para evitar possíveis tragédias. Nathan podia muito bem seguir o roteiro.
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Todos os Nossos Tempos
Ficção CientíficaUma cientista sem o reconhecimento devido cria uma máquina do tempo de acordo com os estudos de Albert Einstein. Mas havia um motivo para ele nunca ter feito uma. Afinal, ilusão ou não, o tempo não é algo com o qual se deva brincar. Pode ser caótico...