A Canção do Vento

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                           ~ ACSA ~

     Era impossível contar quantas vezes já tinha estado ali, caminhando com a areia branca e macia sob os meus pés descalços.
     O céu era enfeitado de raios e trovões, com as nuvens mais escuras que já tinha visto, um raio rasgou o céu como uma rachadura luminosa e eu dei um passo a frente tomada de uma sensação estranha de ansiedade e expectativa, não sabia o que estava fazendo, muito menos o que me esperava além da linha do horizonte mas parte de mim sabia no fundo do meu ser que o destino aguardava por mim.
     A chuva caía pesada sobre os meus ombros o vento frio uivava e parecia perfurar minha pele como mil agulhas atravéz do fino vestido de linho transparente grudado ao meu corpo molhado, as ondas gigantescas quebravam na areia mas a princípio não tive medo.
     O vento me chamava pelo nome...
     Coloquei os pés na água que para minha surpresa não deixou que eu afundasse, meu corpo todo tremia, os primeiros passos foram cautelosos e escorregadios, avancei entre as ondas com o coração pulsando forte no peito, sem me permitir olhar para tudo que tinha ficado para trás, nada daquilo importava só queria ouvir a canção que o vento soprava em mim, a melodia mais linda que se possa imaginar.
     Mas a tempestade só crescia e logo me vi indefesa em um mar revolto caminhando em ondas que só se tornavam maiores e mais agressivas a cada passo, foi só questão de tempo antes da primeira me engolir com o impacto de um soco e me arrastar para o fundo, meu corpo submerso girou e senti uma mistura de sangue e sal na boca. A água preenchia meus ouvidos com um chiado abafando a melodia do vento que me sobrava o caminho, agora ela parecia mais distante do que nunca, tentei lutar contra a força das ondas, agitar os braços mas era inutil os deuses haviam me abandonado e me destinado a afundar e virar comida de peixe. Segurei o fôlego o máximo possível, meus pulmões já estava doendo, não conseguia enxergar um palmo a minha frente, soltei o ar dolorosamente, sem conseguir comandar meu corpo e me obrigar a me mexer, apenas estava afundando com olhos se fechando, lentos e involuntariamente.
     Sozinha com frio, fome, dor e semblante de desespero.

     " Não é assim que os órfãs morrem?..."

     A voz soou alta e clara em minha mente moribunda

     "Quem é você? "     questionei em meus pensamentos.     "Por que assombra os meus sonhos? "

     Tudo permaneceu em silêncio em quanto eu afundava cada vez mais fundo em direção a escuridão do oceano.

     " Precisa fazer uma escolha... Os espíritos do mar te aguardam essa noite..."

   "Escolher..." meus pensamentos eram como um eco, meus olhos se abriram.

     "Eles esperão". Teimei dando as braçadas mais fortes que era capaz, tudo doía mas podia ver o reflexo de um barco na superfície estava quase lá... Uma mão afundou na água, era para mim que estava estendida, eu a alcançassei e ela se agarrou ao meu braço com firmeza e com a força de um só impulso me trouxe átona e puxei o ar dolorosamente....

A Casa Heathenbrine - VALE DE OSSOSOnde histórias criam vida. Descubra agora