Sacrifício

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~ ACSA ~

O soco acertou o alvo com um estalo seco e o garoto grunhiu absorvendo todo o impacto.
Atordoado ele cambaleou para trás descuidando da guarda, dando espaço o suficiente para seu adversário o atingir no estômago. Deryan caiu pesadamente no chão com o sangue escorrendo em linha reta abaixo do queixo.
Inclinei o corpo para frente apreenciva.
Estava quase invadindo aquela roda para tira-los de lá pelas orelhas só para eu mesma os surrar depois.
- Devemos parar a luta - avancei - Parem! Já chega!
- É só uma brincadeira, - Adira me conteve - Está tudo bem Acsa? Estou te achando tão assustada.
Ela estava certa eu estava assustada, agitada e repleta de inquietação, mas tinha meus motivos.
- Já disse que estou bem - menti - Mas isso está longe de ser uma brincadeira saudável.
Ela me lançou um olhar do tipo "Eu sei o que é isso, então quer dizer que se preucupando com ele!"
- Acsa gosta de Deryan não é? - Lilien questionou com um sorriso cheio de janelinhas.
- O quê? - sentir o rosto esquentar - Não, não, imagina, nós conhecemos desde de crianças, ele é um amigo.
Adira me pressionou com o olhar.
- E ele sabe que é só um amigo? - falou - Viu só? Até uma criança percebe.
- Vocês não tem o que fazer mesmo, só não gosto dele envolvido nesses jogos bobos.
- Acsa está apaixonada! - exclamou a garotinha cantarolando ao meu redor bem alto.
Fiz a careta mais tosca que podia e a ataquei com cosquinhas a garotinha caiu na risada.
- Sabe como são os homens Acsa, no fundo são só meninos grandes.
A pequena multidão vibrou pensando já terem um vencedor porém Deryan ainda não tinha se dado assim tão facilmente por vencido e quando todos acharam que tinha chegado ao seu limite pós um sorriso no rosto e se levantou cuspindo sangue pronto para outra.
Todos celebraram a reviravolta.
- Ele é teimoso, igual a você. - disse ela.
Fui tomada de alívio em ver que ele estava bem, não desgrudei os olhos dele.
Meio zonzo Deryan avançou como um touro se agarrando as pernas do rival que de forma violenta bateu as costas no chão, estavam engalfinhados, eles rolanvam na lama, trocando socos e cutoveladas.
- Acsa? - Lilien puxou minha saia.
- Ãh?... - as bochechas rosadas da garotinha me fizeram despertar.
- Disse que ele é teimoso como você. - a mulher repetiu.
O olhei novamente me forçando a ve-lo como um possível marido, não tinha nada de errado nisso, mas não me sentia bem pensando nele assim, não o garoto bobo que sonhava com as estrelas e liberdade.
Seu olhar eram como o de um menino levado a procura de algo para fazer suas travessuras, não sabia dizer se seus olhos eram mais verdes ou castanhos era uma mistura de cores interessante e seus cabelos tinham cor de cevada, era adorável vê-lo sorrir com o seu canino esquerdo meio torto, era como um charme especial. Me arrancavam risos facil até quando não deveria, tinha o dom de alegrar meus dias.
- Ele tem alguns pontos fortes. - afirmei com um sorriso.
- Nós queremos ver a dança da fitas, você vem? - disse a garotinha.
- Sim, não estou com cabeça para lutas hoje.

Meu peito subia e descia muito de pressa enquanto chorava tentando suportar a dor.
As algemas apertavam os meus pulsos finos já repletos de marcas e hematomas de correntes, não queria derramar mais uma lágrima, jamais daria esse gosto aos Bird mas a dor era intensa, minhas costas ardiam expostas ao relento, não tinha força nem um para lidar física ou mentalmente com aquilo, só podia me limitar a ficar encolhida naquele chão inmundo com a dor me corroendo.
Achei que não ia escapar, que ficaria presa ali para sempre porem ele apareceu como um herói protetor, assim de repente, bem no momento em que achei que não passaria daquela noite.
Senti o toque de suas mãos e como reflexo retrai os ombros e cerrei os olhos pronta para mais uma seção de espancamentos.
- Shiii! Sou eu. - disse quase em um sussurro.
Meu coração estava a toda no peito.
- Está tudo bem, não vou lhe fazer mal, deixe eu cuidar de você. - ele disse abrindo a bolsa que carregava e me oferecendo um gole de seu cantil.
Bebi tão rápido que quase me engasguei.
- Não pode, se souberem que me aju...
Ele sorriu tentando me passar confiança.
- Preocupesse com você - me enterronpeu - Não me importo com o que vão fazer, açoite nem um supera a dor ver alguém sofrendo.
Tinha o visto poucas vezes antes disso, pois os homens ( mesmo os meninos) viviam no campo lavrando a terra, podia ser o resultado da fadiga mas o jeito que tinha arriscado a vida para me salvar me fez acreditar que já éramos bons amigos.
- Precisamos ir rápido logo vão descobrir que eu saí... - ele estava bem desconfortável - Ãn... eu posso?
Estava tão exaurida que não me opus por mais indecente que fosse.
Ele começou a desatar os cordões restantes do vestido meio sem jeito, era muito jovem, claramente nunca tinha estado tão perto de uma menina, muito menos uma repleta de feridas de açoites.
- Vai ficar tudo bem. - disse depois de alguns segundos afastando meus cabelos. - Não está tão ruim.
Nós dois sabíamos que era mentira.
- Vai precisar ser forte.
Fiz que sim.
Com um pano úmido ele limpou minhas feridas com muito cuidado, estava me remuendo em dor porém ele se exforcava em ser delicado.
- Porquê? - encontrei vigor para dizer - Porque stá me ajudando?
Ele passou mais um pouco de unguento nas minhas costas e um grito me escapou.
- Eu não sei. - disse nervoso - Não grite por favor!
- Obrigada...
- Deryan é assim que me chamam.
Olhei para ele muito agradecida, ninguém nunca tinha me tratado de forma descente antes disso.
- Trouxe um pouco de pão...
- Você roubou isso?
Duas luzes de lampiões surgiram a distância.
- É a patrulha - disse ele afoito - Tenho que ir agora!
Ele levantou aos tropeços deixou a bolsa cair no chão e todas as coisas se espalharam.
- Não tome as dores de ninguém de novo. - me advertiu - Nem sempre poderei te ajudar.
- Mas não é o que está fazendo?
Deryan fechou o vestido de qualquer jeito e recolheu todas as coisas enquanto aparentemente refletia sobre minhas palavras, me olhando com seus olhos multicoloridos e do mesmo modo que surgiu deu as costas sumindo na escuridão.

A Casa Heathenbrine - VALE DE OSSOSOnde histórias criam vida. Descubra agora