Inesperado 5 (concluído)

Capítulo 14

Yan

Ela estava cada vez mais envolvida com  essa palestra e com suas anotações, por algumas vezes ela queria dividir comigo mais eu não quis saber e apesar de tentar contornar a situação, eu não queria ceder de jeito nenhum

Não fui ao tal evento beneficente e nem queria ouvir sobre, enquanto todos se arrumavam para ir, eu fiquei na varanda sentado bebendo um café, mais cheio de ódio

Melissa: queria muito que fosse comigo

Yan: usou o verbo certo, queria, já te disse que não vou e quando voltar não vai me achar vou voltar pra casa

Melissa: (respira fundo)

Gustavo: vamos Mel?

Melissa: vamos

Gustavo: tem certeza que não vai? tenho certeza que essa palestra vai ser muito interessante e que Mel vai arrasar

Yan: tenho sim, e sei que ela vai se sair bem

Todos foram para o evento e ficaram apenas eu e o cachorro, de meia em meia hora ela me mandava mensagem do e fotos do evento, antes de começar sua palestra ela me mandou um vídeo falando de como estava nervosa e como gostaria que eu estivesse lá para segurar sua mão, eu estava arrumando minhas coisas e nessa hora fiquei entre a decisão de ir embora e ir onde ela estava, peguei minhas roupas e coloquei no carro, mas antes de ir passei no tal evento, não entrei mais dei a volta e fiquei em um lugar onde dava para ouvir sua voz e o que dizia nitidamente, ela já havia começado mas ainda estava falando

Melissa: bem, não sou nenhuma especialista ou formada em psicologia ou terapeuta, e estou mesmo muito nervosa por estar aqui na frente de tantas pessoas, mas acredito.......aprendi nos últimos dias que lições importantes sempre vem acompanhada de alguma dor, que há sempre um propósito para tudo e que não devemos desperdiçar nossa dor, passei nos últimos meses por uma dor quase que insuportável, acredito que muitos aqui sabem, saiu nos jornais e noticiários do mundo inteiro,  apenas quem é mãe sabe que doeria menos se nos arrancassem toda a pele do corpo ao ter que perder um filho, e essa dor é ainda maior quando  professamos uma fé, quando temos a certeza de que esse filho está sendo guardado por Deus, a morte do Gabriel foi algo que me arrancou o chão e me deixou definitivamente na lona, sem vida e sem forças, sem fé, tive raiva de Deus, do meu marido, da pessoa que causou o acidente, de mim, do mundo, não existia mais nada apenas eu e a minha dor, na minha cabeça tinha apenas uma palavra"porque?" e sabe de uma coisa? essa pergunta não teve resposta por um bom tempo, e não foi porque Deus não queria me responder ou porque ele não sabia o que fazia, mas sim porque eu fiquei presa na minha dor e nessa pergunta, porque eu querias uma resposta que me desse uma explicação lógica, uma resposta que eu não sabia formar mais mesmo assim, eu queria, e vocês sabem como foi que eu finalmente consegui ouvir a resposta da minha pergunta? quando fui sacudida por um choque de ver uma jovem se suicidar na minha frente, minha cabeça virou um turbilhão, novamente me veio a morte do meu filho, o fato de não ter conseguido proteger ele e nem conseguido impedir que aquela garota pulasse do prédio, eu estava tão focada nas coisas que eram para mim terríveis que não estava enxergando nenhuma dádiva de Deus em mim, na minha vida, inexplicavelmente tive a necessidade de saber mais sobre aquela jovem, então pedi para meu esposo levantar a ficha da vida dela, ela também tinha tido perdas na sua vida, foi aí que quando resolvi silenciar os barulhos da minha mente que agitavam o meu espírito, consegui enxergar coisas óbvias que estava na minha frente o tempo todo, eu tinha adotado um cachorro e não foi algo ao acaso, no início achei que fosse mais não foi, Deus preparou tudo e través de uma simples adoção de um animal, Deus falou parar mim:" você ainda pode cuidar de alguém, ainda tem amor, bondade dentro de você" foi algo simples mais eu entendi (começa a chorar) eu......eu entendi que.........que Deus fala conosco com coisas simples do nosso dia-a-dia, me senti mais confiante e logo depois descobri que estava grávida e isso também foi uma forma de Deus me dizer que não importava a dor que tinha passado, sempre haverá um recomeço, uma nova vida e uma nova chance, a morte de Gabriel me jogou no chão e eu sentia como se estivesse por baixo de um ônibus, mais quando enxerguei tudo o que Deus estava fazendo por mim e através de mim, resolvi sair de debaixo do ônibus e dirigir ele, resolvi não desperdiçar  a minha dor, ainda tenho saudades de meu filho, ainda penso nele e não tem um dia si quer que não deseje abraçá-lo e ouvir sua voz dizer mamãe (começa a chorar) mas essas lembranças e vontades não me trazem dor, apenas uma saudade que eu sei que vai acabar no dia em que meu Jesus vier me buscar, a morte de alguém que amamos não é um adeus é apenas um até breve, se você se entregar a Deus de todo coração ele vai te dar o consolo e conforto que me deu, e você também terá essa garantia de um dia abraçar aquele que se foi e que você ama tanto

Na medida em que a ouvia eu me aproximava mais de onde estava, não queria que visse que eu estava lá e escondido olhei o espaço, estava lotado e as pessoas estavam atentas a ela e choravam com o que ouviam, o pastor maluco fez uma oração por todos, eu saí antes que ele terminasse, tive uma crise de choro se nem entender o porque, parado ali ouvindo minha esposa foi como se eu pudesse ver com seus olhos tudo que aconteceu, foi como se eu fosse transportado para aquele dia só que no seu lugar, entendi naquele momento o que o pastor maluco quis me dizer quando falou que eu deveria entender os motivos dela, que devia me colocar no seu lugar, é algo incrível como passamos a ter uma nova visão dos fatos quando saímos da posição que estamos e nos colocamos em outro ângulo, muita coisa muda, muita coisa ganha valor e outras perde, mas isso não significa que ainda não tenhamos que fazer escolhas

Continua.....

Olá anjos....deixem seu comentário........