Conversa Solitária

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Eu sentei para conversar comigo mesmo,

Uma conversa longa e calma,

Que tentava descobrir por que cheguei onde estou.

Por que eu cheguei onde eu estou?

Eu perdi a parte em que aprenderia socializar,

Mas ganhei muito tempo a mais para sorrir e criar,

Criar um mundo imaginário, com personagens fictícios,

Que viviam coisas fictícias, com hábitos fictícios,

Vontades e prazeres que eram todos descartáveis.

Eu vivi um amor tardio, um desses que você idealiza,

Com idas ao parque e passeios de mãos dadas,

Noites românticas com galanteio e tudo mais.

Eu rimei até com o inferno, eu criei um mundo sujo,

Eu li sobre todos os tratados, de quase todas as convicções,

Em busca do que seria esse tal de "Deus".

Eu tentei me matar com remédios, e tomei muitos remédios,

Eu fiz terapia para aceitar alguns fatos,

Dentre eles a minha certeza que posso controlar o incontrolável.

Eu escrevi cartas de amor, escrevi coisas sem nenhum sentido,

Levei um rosa para alguém que era especial,

E para a minha mãe que partiu com o meu coração.

E as rosas vermelhas passaram a ter algum significado,

E eu comecei a significar alguma coisa,

Eu fui o garoto que foi aplaudido duas vezes por um trabalho.

Eu chorei, por que eu descobri uma grande realização.

Eu desejei não ter nascido para poder parar de sentir dor,

E eu operei a minha enfermidade de quase um garoto morto.

Eu parti para novos caminhos e novas amizades,

Eu descobri nos olhares as piores falsidades,

Eu achei em mim uma vontade tão grande de viver.

Eu me odiei e odiei o meu cabelo,

Eu pintei e eu cortei modificando,

As cores, os comprimentos e os meus hábitos.

Eu me joguei no chão da cozinha,

Eu me joguei no chão do banheiro,

Eu fui além daquilo que eu até mesmo imaginava.

E eu sentei para conversar comigo mesmo,

Em um texto sem rima, mas com liberdade,

Por que eu mudei, enfim eu cresci, eu ganhei com criatividade.

O Arcano 21Onde histórias criam vida. Descubra agora