Não foi como um terremoto, considerando-se o andamento lento dos fatos. Tampouco foi inesperado. A coisa vinha vindo aos poucos; enfim, era a gota d'água.
Lauren Jauregui olhava, sem ver, pela janela de seu escritório. Não enxergava a Southeast Financial Center logo abaixo, não enxergava nada da cidade de Miami. A ira turvava-lhe a vista.
— OK, Harry — disse ela. — Somos amigos há muito tempo por isso não adianta tapar o sol com a peneira. Não é apenas uma questão de competência. Ambos sabemos que sou tão qualificada para o cargo que ocupei como qualquer outra pessoa. E sabemos que Ryoden vinha apreciando minha atuação durante mais de um ano já. E agora, essa bomba. Tenho cá minhas suspeitas.
Harry Styles, vice-presidente executivo do conglomerado Brightstar Corporation, olhava para a mulher indignada ali à sua frente. Ele e Lauren Jauregui eram amigos há muitos anos, amizade essa baseada em mútua admiração. E Harry respeitava muito a amiga para mentir, para tapar o sol com a peneira, como Lauren bem dissera.
— A ordem veio diretamente da Softbank — Harry apresentou como defesa. — Sua dispensa do cargo de conselheira foi à melhor solução encontrada. Isso ou um julgamento pelo tribunal.
— Continue — Lauren ordenou quando Harry fez uma pausa.
— Eles alegam que você era a responsável pelas transações ilegais executadas. Para sua proteção, os detalhes serão conservados em segredo e a corporação tomará medidas internas a fim de remediar o mal. Que mais posso lhe dizer Lauren? A perda foi mínima, mas a diretoria decidiu dispensar você.
Lauren deu alguns passos na sala.
— Precisa de dinheiro? Posso lhe... — Harry ia dizendo.
— Não, não. Dinheiro não é problema. Não por enquanto, ao menos. Porém meu futuro como advogada está comprometido. Isso foi exatamente o que a Softbank pretendeu fazer.
— Por que você não processa a firma?
— Está brincando? — Lauren sorriu. — Ouça, aprecio seu voto de confiança, mas não conhece essa turma como eu conheço. São como piranhas, Harry.
— Então, por que os representava como advogada?
— Porque não sabia o que eles eram. Simplesmente... Não sabia.
— Gostaria de poder ajudar você um pouco mais, Lauren.
— Já fez o que devia fazer. Pode ir agora.
— Tenho um compromisso às três horas — Harry declarou e saiu.
Momentos mais tarde, sozinha, Lauren estava a ponto de explodir. Por onde andaria a justiça? Por onde andaria a justiça deste mundo?
Sua vida de trabalho como advogada estava praticamente liquidada. Maldição! Não, não era justo. OK, ela perdera a Brightstar Corporation. Poderia viver sem isso não fora pelo fato de ter também perdido três de seus maiores clientes no mesmo espaço de tempo.
Estava sendo rejeitada em toda a comunidade corporativista. Como lutar contra, se o inimigo era tão maior, tão mais poderoso? Lauren Jauregui nunca se sentira tão furiosa na vida, tão amarga. Não conseguia nem pensar claramente. Resolveu sair.
Antes, porém daria um telefonema. Procurou um nome na sua agenda telefônica: Hansen. Sim, Dinah Jane Hansen. Em segundos discou o número dela.
Alguém atendeu:
— Alô.
— Aqui fala Lauren Jauregui. A Sra. Hansen está?
— Um momento, por favor.
Lauren fechou os olhos. Parecia estar vendo Dinah usando jeans e camisa exageradamente folgada com um top colorido. Ela sorriu.
Dinah Hansen, viúva de cinqüenta e dois anos de idade, era riquíssima, graças à fortuna deixada pelo marido que ela amara muito e que morrera há seis anos. Dinah fazia tudo o que tinha vontade de fazer, sem dar importância à opinião dos outros. Viajava, organizava festas e adorava pintar.
— Lauren Jauregui...? Como vai? — ela disse. — Sabe há quanto tempo não fala comigo? Há meses. Meses!
— Eu sei, Dinah. Desculpe. Como vai você? Lauren falava com certo receio. Não sabia se Dinah estava a par de seus fracasso. Afinal, o amigo mútuo que os apresentara era um executivo da Softbank.
— Só o fato de você estar falando comigo já faz com que eu me sinta melhor — ela acrescentou.
— E claro que falaria com você. Sei o que aconteceu, Lauren. Conheço bem aquela diretoria. Sei como distinguir serpentes, e sei também o tipo de advogada que você é. Não esqueci o que fez por minha sobrinha e aposto que está com a razão no caso da Softbank.
— Obrigado, Dinah. Mas preciso sair um pouco da cidade. Não posso raciocinar direito aqui. Estou furiosa. Tenho necessidade de paz e quietude. E de solidão.
— Algo como uma ilha desabitada, na costa do Maine? — Dinah sorriu.
Lauren também sorriu e respondeu:
— Sim, algo como isso.
— A ilha é sua, Lauren.
— Ninguém está lá agora?
— Em outubro? De forma alguma. A ilha é sua — Dinah repetiu.
— E pelo tempo que desejar.
— Duas semanas serão suficientes — declarou ela. — Se não puder encontrar uma solução até lá, então...
— Não me telefonou antes e, conhecendo-a como a conheço, acho que prefere encarar seu problema sozinha. Mas, se houver alguma coisa que eu possa fazer, peça-me, sim?
— O uso de sua ilha será mais do que suficiente, minha amiga.
— Quando pretende ir?
— O mais depressa possível. Amanhã, penso. Mas precisa-me dizer como chegar até lá.
Dinah então explicou.
— Uma vez em Spruce Head procure por Justin Bieber. É um homem alto de barba e tatuagens . Telefonarei antes a fim de preveni-lo. Ele a levará até a ilha.
Lauren agradeceu efusivamente.
No dia seguinte partiu, deixando tudo atrás de si. Levou apenas alguma roupa essencial e uma caixa de charutos Havana.
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Naquela Ilha
FanfictionCamila procurou a solidão de uma ilha deserta para repensar sua vida, pôr os pensamentos em ordem. Lá encontrou Lauren Jauregui, que também buscava paz e solidão. A tensão se formou desde o primeiro contato. Iriam elas sobreviver aqueles dias naque...