Capítulo 7

48 5 0
                                    

Ouviu passos no corredor. Teria Lauren terminado com o banho? E o que planejava ele fazer agora? O ruído dos passos sumiu sendo substituído pelo som da porta da geladeira que abria e fechava. Lauren devia estar na cozinha. Ótimo. Ela tomaria seu banho podendo se demorar o tempo que quisesse.

Mas constatou logo que não poderia andar depressa mesmo querendo. Acomodar-se na banheira foi a tarefa mais difícil de sua vida. Pior do que imaginara. O maior problema foi que, para poder pôr a perna engessada na beirada da banheira, teve de se encostar nas torneiras. Sua decisão de entrar na banheira antes de enchê-la resultou em considerável contorção de corpo, sem mencionar o fato de, ao tentar se deitar bateu com a cabeça numa das torneiras. Enfim, deu um jeito de estender o corpo em diagonal. Foi horrível, mas melhor que nada. Desistiu da idéia de relaxar e concentrou-se na higiene pessoal apenas. Isso também não foi fácil. Com ambas as mãos ocupadas para se ensaboar, escorregava perigosamente na água. Seus cabelos também precisavam de boa lavagem, talvez mais do que o corpo. Há quanto tempo não recebiam um bom xampu? Uma semana?

Deitando a cabeça para trás mergulhou os cabelos e esfregou o xampu. Teve de realizar essa operação várias vezes até sentir que a cabeça estava completamente limpa. A água logo ficou turva, o que a impressionou terrivelmente. Esvaziou então a banheira e tornou a enchê-la com água limpa. Pôs a cabeça embaixo da torneira e esperou obter o melhor resultado possível.

Ao sair do banho estava mais tensa do que ao entrar. Precisava tanto de um relaxamento! Contudo, de qualquer maneira, sentia-se limpa e havia certa satisfação nisso. Esfregou com prazer um creme hidratante pelo corpo todo, seu ritual diário que fora temporariamente interrompido desde a internação no hospital. Ao fechar os olhos, sentindo o aroma do creme, imaginou-se em casa, arquitetando planos para o próximo dia de trabalho.

Não pretendia, contudo, ficar com os olhos fechados permanentemente, embora, quando os abrisse, fosse deparar com a verdade. Não estava na própria casa e nem fazendo planos para o dia seguinte. Ao contrário, encontrava-se num exílio imposto por si mesma, na ilha de Dinah.

A perna esquerda pesava terrivelmente por causa do gesso, seu rosto estava muito pálido e sentia-se fraca. E não esperava com ansiedade pelo dia seguinte porque ele estava lá.

Irritada, vestiu-se. Pôs um conjunto verde musgo, folgado. Duas ou três vezes seu tamanho. Mas não podia se preocupar muito com roupas no estado em que se encontrava. Na perna engessada pusera uma grossa meia de lã branca e na outra um soquete branco também. Com a toalha enxugou os cabelos com energia e escovou-os até que brilhassem.

Olhou-se no espelho. Causa perdida. Limpa, mas causa perdida. Pálida, frágil, infantil. Sempre mostrara menos idade do que possuía. Detestara sua adolescência, odiara seus vinte anos.

Mas no presente, convivendo com mulheres de sua idade esforçando-se em passar por mais moças, em geral sem sucesso, tinha momentos de auto-apreciação. Contudo, naquele instante, sentia-se pessimamente mal.

- Uma garota amuada? Talvez, mas só por causa dela. Com um suspiro profundo abandonou o espelho e começou a pôr o banheiro em ordem. Ela. Que criatura desagradável, que situação desagradável. E qual seria o remédio? Não havia nenhum, até que conseguisse falar com Justin, até convencê-lo de que, para sua saúde mental, Lauren Jauregui precisava sair daquela ilha.

Alguns minutos mais tarde Camila entrou na cozinha e sentiu no ar o aroma do bacon. Viu duas panelas sujas no fogão, e sobre a mesa latas de leite e suco, uma vasilha com ovos, uma caixa de margarina, um pacote aberto de pãezinhos e uma infinidade de migalhas. Lauren Jauregui terminava de tomar o café da manhã calmamente.

- Você é boa cozinheira - ela comentou com secura. - Sua habilidade se estende até a limpeza da cozinha ou espera que uma empregada venha fazer isso?

Naquela IlhaWhere stories live. Discover now