Banho de lua

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Respiração ofegante. Suor escorrendo. O calor que eu sinto luta contra a brisa gelada dessa noite estrelada. Ele está aqui, o cantor atraente ou o dono da voz. Eu não consigo me recordar de seu nome. Mas ele está aqui, perto de mim.

- Valeu... - Eu quebrei o silêncio, porém ainda em tom baixo.

Estávamos afastados do bar e conseguimos despistar aqueles caras. Estávamos sentados em um banco próximo a uma árvore. Um poste não muito longe iluminava toda a visão da praça que estávamos.

- Por que fez isso? - Eu questionei.

- Eu não gosto de injustiças. Ele queria armar uma zorra por algo pequeno. Tão ridículo. - Ele disse, enquanto encarava o céu. - Não precisa agradecer.

- Eu só queria ir no banheiro.

Ele começou a rir. Não deu nem 2 minutos de conversa e acho que já estou passando vergonha...

- Na próxima é só você não dar mole pra esses insuportáveis. - Ele diz, ainda com um sorriso no rosto.

- T-Tem razão. Eu vou tentar não dar. - Eu digo concordando. - Não dar mole, claro!

Ele riu de novo. Deve estar me achando um idiota, por que sou tão ruim em conversar com pessoas novas?

- Você é engraçado, cara. - Ele dispara de repente.

- E-Eu? Engraçado? - Eu disse apontando para mim mesmo. - Mesmo? Eu podia jurar que era alguém sem graça.

- Você não é sem graça. Usa uma touca engraçadinha. - Ele diz dando um sorrisinho engraçado.

- Ah! Você gostou? - Eu digo ajeitando a touca na minha cabeça. É um dos meus orgulhos. - Eu gosto de colecionar. Aprendi com meu pai.

- Ele também tinha um estilo kawaii?

Se isso fosse um jogo, provavelmente eu estaria morrendo e me regenerando em apenas alguns segundos. Tentei processar o que havia acabado de escutar, e fiquei alguns segundos tentando pensar em alguma resposta que não soasse estranha.

- V-Você é bom cantor. Sua apresentação foi incrível... - Eu disse, mais uma vez em um tom abaixo do normal.

- Agradeço. É por isso que ficou me encarando a música inteira?

Se isso fosse um jogo, palavras enormes avermelhadas compondo as palavras "GAME OVER" surgiriam na tela. Isao, como você tem a proeza de encarar um cara por tanto tempo a ponto dele perceber?

- O quê? - A essa altura, eu estava vermelho. - E-Eu só estava.... tocado pela sua voz.

- Hm? É mesmo? - Ele pareceu surpreso com minha resposta. E mais uma vez senti uma vergonha tremenda. - Valeu.

Eu realmente o senti me encarando. Mas não tive coragem de me virar.

- Normalmente as pessoas gostam da letra ou algo assim. Mas não é sempre que escuto algo sobre minha voz. - Ele diz, me deixando no chão mais uma vez.

- Talvez as pessoas só se sintam envergonhada de dizer que gostam da sua voz. - Eu joguei, mas me arrependi. Sério Isao? Que vergonha puta que pariu.

- Pode ser que seja. Vai saber. - Ele disse, soltando um pequeno riso.

Um pequeno silêncio predominou entre nós dois, e minha cabeça já estava andando em zig zag tentando encontrar alguma coisa pra falar.

- Como é seu nome? - Perguntei

- Pode me chamar de Nobu.

Nobu. Combina perfeitamente com ele. A mãe dele está realmente de parabéns.

- Pode me chamar de Nobu então, quero dizer, de Isao. - Eu disse de maneira desajeitada.

- Então, Isao-kun. Você gostou do show, certo? - Nobu perguntou, enquanto ria.

- S-Sim... - Eu respondi rindo de volta. Foi só então que tive coragem de olhar na direção dele. E como eu imaginei, ele olhava diretamente pra mim.

Foi só então que tive um vislumbre de perto do quão bonito ele era. Nobu, você deve ser bem popular entre as garotas, consigo sentir isso. Tudo em você grita "Sou intocável". Mas está bem aqui, perto de mim. Eu não podia desgrudar meus olhos de você agora que se voltaram em sua direção.

- O show foi incrível, Nobu-kun.

Eu nem acredito que estou vermelho de novo. O que estou pensando?

- Ai meu santo Victor Nikiforov. - Ouvi uma voz familiar. Sim, minha irmã surgindo do nada. - Estamos interrompendo?

- CARAMBA. - Yosuke diz se aproximando de nós. - Te procuramos por todos os lugares maluco.

- Ao menos tomamos um banho de lua. - Nami-chan afirma, olhando para o céu.

- A-Ah... - Eu estava totalmente sem graça com o Nobu-kun ao meu lado. Seriamente, explodindo de vergonha. - Yosuke fecha a matraca, você viu o que aconteceu. A culpa é toda daquele infeliz.

- Onii-chan, quem é seu amigo? - Rika-chan questionou ao vê-lo perto de mim.

- Nobu. - Ele respondeu por mim. - Isao-kun, é uma ótima pessoa, hein?

- Ele te pagou pra dizer isso, NÉ? - Yosuke faz uma piada rindo.

Nobu riu de volta. E voltou a olhar na minha direção.

- Boa sorte na próxima, vê se não deixa mais ninguém te encher o saco. Preciso voltar pra lá e falar com meu amigo. - Ele se levantou, e eu levantei quase instantaneamente. - Boa noite pra geral.

Nos despedimos e fomos em uma direção oposta à de Nobu. Mesmo que Yosuke, Nami-chan e, principalmente, Rika-chan me fizessem perguntas, minha cabeça estava definitivamente em outro lugar. Quando cheguei em casa, já não pensava mais em outra coisa.

Já era 02:40 da madrugada e eu continuava rolando na cama. Até eu parar de frente o teto. Eu continuava encarando aquele tom de branco, consumido pela escuridão que habitava em meu quarto com todas as luzes apagadas.

Nobu. Nobu. Nobu.

Eu não conseguia parar de pensar quando o vi cantando, sendo iluminado por aquelas luzes no palco, ou quando corremos juntos. Quando seu sorriso se formava quando eu passava vergonha.

Eu não consigo parar de pensar em nada disso. Estou enlouquecendo? Por que continuo pensando em um cara?

Trechos da letra dele ainda repercutiam pela minha mente. E o pior de tudo, que não entendo meu coração estar batendo tão rápido.

*

- Você acha que me engana, onii-chan? - Rika-chan sugava o canudo de mais um achocolatado. - Mas você não sabe que a melhor coisa pra se fazer em uma madrugada é stalkear.

Estava em seu quarto sozinha. Na tela de seu computador, o feed do Insta de Nobu. Com mais quatro guias abertas, respectivamente de outras redes sociais do mesmo.

- Então você faz apresentações. Uau. Quem é esse aqui? Será primo dele? - O achocolatado já estava na metade. - Nobu-kun é bem mais bonito, mas a beleza deve ser de genética mesmo, hihi. Meu irmão é mesmo muito esperto.

- Ai, ai tão gato. - Rika-chan continuava tomando o chocolate. - Se com o Yosuke-kun não deu certo, eu estou certa que dessa vez não falha.

Toda a lista de horários de apresentações começou a ser vasculhada. Uma foto de Nobu-kun segurando um violão estava estampada na tela do computador.

- Meu instinto de fujoshi está apitando, e eu sinto que agora vai. Onii-chan, você e o Nobu-kun estão destinados.

O resto do chocolate foi sugado pelo canudinho. Um sorriso de canto de boca foi dado.

- É hora de shippar!

Arranha-céuOnde histórias criam vida. Descubra agora