– Ela é minha ex-namorada. – Eu ouvi
Aquilo me atingiu diretamente e profundamente. "Ex-namorada" parece ser uma palavra de peso. Por alguma razão isso me incomoda, ainda mais a expressão indiferente que ele faz nesse momento.
– Ah... – Eu tento dizer algo melhor, mas apenas sai duas letras da minha boca.
– Sabe quando você sente que faz tudo que pode pela pessoa e ela liga o dane-se pra você? – Ele continua encarando o céu azul. – Foi tipo isso.
– ... – Eu apenas continuei ouvindo. Abaixei minha cabeça e comecei a encarar meu all star preto e desgastado. Um dos cadarços estava desamarrado.
– Eu a conheci quando ela me ouviu cantar na rua uma vez. Ela disse que tinha se encantado por mim e o caramba a quatro. Desde então nos aproximamos, ela dizia estar afim de mim, queria me apoiar e oferecer suporte pra mim como um cantor. – Ele deu uma pausa, e soltou um suspiro, parecia ser de tristeza. – Então eu me apaixonei por ela, era inspirado por ela, escrevi letras, contava os segundos, e estava planejando um futuro pra minha carreira e pra nós dois.
– Então... o que rolou? – Eu questionei. Minha curiosidade falava mais alto do que meu nervosismo, e algo em mim suspeita do que houve entre os dois que os levou para o término.
– Então cara, ela me traiu. – Ele disse em palavras curtas e diretas. – Ela fazia um joguinho comigo, e saia com vários caras por aí. Quando eu descobri isso, fiquei tipo sem rumo. Só quis terminar e não ver mais ela por aí.
Seus olhos penetrantes já não estavam mais em minha direção, estavam fixos à imensidão azul com nuvens. E os meus olhos, apenas se concentravam em meus tênis, meus fieis tênis.
– Foi mal, eu estraguei o clima? Não queria ter falado muito sobre isso, me da uma bad.
– N-Não, tá tudo bem. Eu estava curioso também, não é culpa sua... – O tranquilizei, mas não tinha coragem de tirar os olhos dos tênis. Eu preciso fazer algo por ele, eu sinto isso.
– Depois de tudo isso eu não estou mais afim. Não quero mais me apaixonar, já deu. Meu amor é a música e é nisso que estou me dedicando agora.
Houve alguns segundos de silêncio entre nós. Meu cérebro ainda estava processando o que eu acabei de ouvir, mas só consegui repetir na minha cabeça "Não quero mais me apaixonar".
– Nobu-kun. – Eu tirei o olhar dos meus tênis e me virei para ele, que encarava o céu. – Vai existir uma pessoa que vai abrir o coração pra você. Essa pessoa existe.
Nobu fechou os olhos ao ouvir isso. Eu não sabia o que estava dizendo, não eram palavras processadas pelo meu cérebro, elas apenas estavam saindo...
– Não desista de amar por isso, existem pessoas que realmente valem a pena lutar. E sendo honesto, depois de ouvir tudo eu sinto que você é uma delas.
Ele então abriu os olhos e olhou na minha direção. Seus olhos profundos se encontraram com meus olhos. Eu senti aquele arrepio voltar, eu estava corado mais uma vez.
– Não desista ainda... – Eu prossegui. – Você passou por alguns momentos ruins, mas os bons também existem. Essa pessoa pode estar na sua frente em um piscar de olhos, então não pense que está sozinho, você não está.
E quando eu terminei de falar, eu me surpreendi comigo mesmo. Da onde vieram essas palavras? Eu não planejei nenhuma delas. Aquela vontade de morrer bateu forte novamente.
– D-Desculpa... eu me empolguei. – Eu disse, e tirei meus olhos do olhar dele e voltei ter a visão dos meus velhos tênis.
– Não peça desculpas. – Nobu se desencostou da lateral. – O que você disse pra mim, caralho... acho que foi a coisa mais legal que já me falaram.
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Arranha-céu
FanfictionEu olhei em direção ao palco, e lá estava ele. Com um violão em mãos, e uma expressão séria no rosto enquanto cantava uma letra tão profunda. As luzes do palco o iluminavam, e minha impressão naquele momento é como se houvesse apenas ele ali. Apenas...