Duas Vidas

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Ohana Lefundes Point Of View.

Recreio dos Bandeirantes, Rio de Janeiro - Brasil 23h45min

Você já imaginou ter duas vidas?

Ser duas pessoas ao mesmo tempo?

Aposto que sim.

Mas entre pensar e viver havia uma distância muito grande, acredite nisso.

Há anos, eu me encontro dividida entre Luna e Ohana, duas mulheres que sugam de mim tudo que eu tenho.

Mas fazem de mim uma mulher forte e decidida sem medo de enfrentar qualquer situação que a vida impõe.
Para quem já perdeu tudo, e enfrentou situações dignas de pena, hoje eu era alguém melhor.
Em questão de minutos, eu poderia ver a doce Ohana se transformar na sedutora Luna.
Incrível não é mesmo? São como duas faces da mesma moeda.
Ohana era a garota esforçada e trabalhadora que lutava por seus sonhos, buscando a melhor maneira de crescer e ajudar a família que há anos atrás foi completamente desestruturada com súbita fuga de seu pai.
"Canalha!" eu pensei ao lembrar do ser mais insignificante que habitou nessa terra.
Nunca eu iria esquecer que no pior momento, em que não tínhamos nada, ele nos abandonou deixando apenas a miséria.
Você consegue imaginar o que é ver sua mãe e sua irmã chorando por dias? Viver às custas da compaixão e pena das pessoas? Era humilhante...

" Foi quando decidi que eu não poderia deixar minha família viver daquela forma. Assim que me levantei naquele dia procurei em anúncios de jornais ofertas de emprego que por puro azar ninguém me aceitou. Eu me lembro de ter parado em uma cafeteria, pego a ultima nota de cinco reais que estava em meu bolso e comprado uma xícara de café com leite, sentando-me na mesa ao fundo.
O lugar era simples, pessoas se encontravam distribuídas nas mesas em conversas entretidas.
No balcão eu pude notar a presença de uma loira, alta com aparência jovial e elegante, ela por algum motivo me encarava, mas nem sequer dei atenção.
Aspirei à fumaça que saia do pequeno recipiente com o líquido, levando até os lábios e sentindo minha língua esquentar ao entrar em contato.
Pensei no fracasso que havia sido meu dia, visitei inúmeros lugares e nenhum deles havia me aceitado. Lembro que antes de sair de casa, minha mãe tocou em meus ombros olhando no fundo dos meus olhos e disse:
"Eu sei que você é a única que pode mudar isso."
E com aquela frase eu fui motivada a conseguir algo, e jurei a mim mesma não voltar até conseguir.
Eu chorei.
Chorei ao lembrar suas palavras e seu olhar suplicante por algo melhor.
Eu chorei por ter que voltar sem ter uma esperança. Estava tudo perdido, nem um simples emprego eu conseguia arranjar. Foi quando senti alguém sentando a minha frente. Fechei os olhos deixando as ultimas lágrimas caírem, rapidamente limpando com as costas de minhas mãos e fitei a mulher em minha frente.
Está tudo bem? – ela perguntou curiosa. "Por Deus, se eu estivesse bem não estaria chorando", pensei.
- Sim, não se preocupe! – falei rapidamente.
- Você não me parece muito bem, quer compartilhar o que houve? Acho que precisa de um ombro amigo. – A mulher falou enquanto deslizava os finos dedos sobre a borda de sua pequena xícara.
Porquê alguém que não me conhece iria se interessar em minha vida? Talvez fosse apenas curiosidade ou algum interesse. Eu fitei a mulher em minha frente, e ela permanecia com o mesmo olhar curioso sobre mim, mas por algum motivo ela me transmitia confiança.
- Meu nome é Paloma, prazer – A mulher falou me estendendo a mão.
Com certo receio, estendi a mão apertando seu cumprimento.
- Meu nome é Ohana – Falei.
- Então Ohana, porque está aqui chorando? – Sua pergunta foi objetiva.
- Não creio que você gostaria de saber – Falei com desdém.
- Ah! Vamos lá, nada melhor que café e uma boa história – Ela falou com meio sorriso.
- E se a minha história não for boa?- Perguntei sobre seus olhos verdes avaliativos.
- Nós faremos ficar! – Falou tomando um gole de seu café.
Comecei a falar para ela todo meu dia. Paloma me olhava atenta escutando cada detalhe de minha história...ela realmente estava interessada em minha sofrida vida? Parece que sim.
Eu contava cada detalhe de acordo com suas perguntas instigantes, e ela conseguia mais de mim. Conversamos por longas horas e o café já estava ficando vazio. A essa altura, Paloma já sabia tudo de minha vida.
-(...) e agora, eu tenho que voltar para casa e dizer que sou uma fracassada. – Falei com certa amargura.
Ela me olhava como se estivesse me avaliando, aquilo fazia eu me retrair. Uma enorme confusão se passava dentro de mim. Por qual motivo eu estava aqui sentada contando minha vida a uma estranha? Meu Deus!
- Eu preciso ir – Falei ajeitando minhas coisas na pequena bolsa, e logo em seguida me levantando.
- Espere! - Ela falou. – Eu posso te ajudar, Ohana. – Seu tom era firme.
Um súbito estalo de esperança e medo surgiu dentro de mim. Eu parei, fitando-a. Como aquela mulher poderia me ajudar? Paloma parecia ter dinheiro, era uma mulher muito elegante de traços fortes e expressões decididas. Mas algo em mim alertava que teria que sair dali, mas no mesmo instante, a imagem de minha mãe e minha irmã chorando surgiu em minha mente.
- Como você pode me ajudar?- Perguntei.
Vi Paloma sorrir de canto. A mulher levantou-se da pequena mesa deixando uma nota de 50 sobre a mesma, pagando nossa conta.
- Vem comigo, eu te mostro.
Saímos da cafeteria e eu pude sentir a brisa fria em meu corpo, puxei meu casaco para me aquecer. Paloma caminhava em minha frente até chegarmos ao estacionamento, onde nos deparamos com seu belo carro. Ela, com certeza, tinha muito dinheiro, pensei ao entrar no Jeep branco. Fiquei calada o caminho todo, minha cabeça estava à mil. "Para onde aquela mulher estava me levando?" pensei muitas vezes em pedir que ela parasse o carro e me deixasse ir embora, mas eu não o fiz, eu não poderia desistir assim tão fácil.

The Stripper - Ohanitta VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora