Capítulo 1

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Eu não sei o que estou fazendo aqui.

Mamãe sempre me obriga a ir a festas que não quero. Não conheço metade dessa gente, só fico sentado tomando refrigerante e contando as horas para ver Rose. Rose é divertida, inteligente, carinhosa e eu a amo. Minha mãe não gosta dela, meu pai sempre diz pra ela dar uma chance a Rose mas minha mãe sempre fica com um pé atrás. Bem... coisas de mãe.

Minha família é super animada, não sou assim mas os amo, e não sei o que seria de mim sem cada um deles.

Estou tão distraído e pensativo que me assusto quando mamãe me chama

-Jack!

-Oi mãe, me assustou.

-Desculpe filho, mas está na hora do Parabéns!

-Já estou indo. Odeio o hora do parabéns, pra mim é algo que só serve para envergonhar o aniversariante e acho que deve ser um momento íntimo onde fazemos nossas promessas em silêncio sem compartilhar com as pessoas. Pode parecer uma atitude egoísta mas...

-Jack!!!

Dou um pulo da cadeira e sigo em direção a mesa onde há dezenas de pessoas reunidas. Olho ao redor a procura de Gabe, meu melhor amigo,  e não o acho em lugar algum.

Estava começando a tentar sair de fininho quando uma voz toma conta do espaço

-Olá, peço a atenção de todos. Agora vamos bater os parabéns para minha filha Molly.

Molly, Molly... Eu reconhecia esse nome de algum lugar, era a minha professora da quarta série, amiga da minha mãe.

Porque minha mãe me trouxe para a festa de aniversário da minha professora da quarta série?

-Parabéns pra você, nessa data querida muitas felicidades...

Não queria ouvir aquilo mais uma vez.  Tapo os ouvidos disfarçadamente e penso em coisas boas para tentar me distrair. Meu pai aparece ao meu lado e sussurra no meu ouvido:

-Tudo bem aí amigão?

-Não pai, odeio essa parte de aniversários,  e Molly foi minha professora na quarta série.

-Ah, entendi. Retrucou meu pai em meio as gargalhadas.

-Do que está rindo? Perguntei.

-Quem odeia os parabéns de uma festa Jack?

-Eu! Respondi aos risos.

Depois que cortam o bolo e blá blá blá vamos para o carro e nos despedimos de Molly. A estrada está molhada por causa da chuva e mamãe e papai conversam nos bancos da frente. Acho incrível o relacionamento dos dois, são casados há  30 anos e ainda tem uma relação maravilhosa. Do jeito que está o mundo hoje em dia eles são uma bela raridade.

Chegando em casa tomo um banho, troco de roupa e vou até o quarto dos meus pais. -Mãe pai, vou na casa da Rose. Digo.

-Filho, não é melhor você deixar pra amanhã? Está chovendo lá fora. Responde minha mãe.

-Não mãe, vai ficar tudo bem.

-Ok, vá com Deus. Nós te amamos.

-Também amo vocês.

Desço as escadas e pego o carro, a casa de Rose não é tão longe daqui, mas como está chovendo vai dificultar minha visão.

Quando eu era pequeno meu sonho era dirigir. Esse ano completei 18 anos e a primeira coisa que eu fiz foi tirar a carta. Bem... Não é tão legal quanto eu imaginava, mas a sensação é de pura liberdade.

Ligo o rádio e sintonizo em uma estação.  Para minha incrível felicidade está tocando Nirvana. Eu amo Nirvana, tirando o fato de que o Kurt Cobain se matou, e eu acho que uma das piores coisas que um ser humano pode fazer é tirar a própria vida.

Desta vez a casa de Rose está toda iluminada. Diferente da maioria das vezes, que é até estranho de tão escuro.

Toco a campainha e quem atende é Walter pai de Rose, é um cara legal,  assim como sua mãe Alice. Os dois aparentemente gostam de mim e eu dou Graças a Deus por isso.

-Olá Jack! Diz Walter.

-Olá senhor, como vai? Respondo.

-Bem e você?

-Ótimo.

-Entre, Rose está lá em cima em seu quarto.

-Com licença e obrigado senhor.

-Me chame de Walter. Você é da família agora!

-Ok Walter. Respondo com um sorisso de satisfação no rosto.

Subo as escadas e bato na porta do quarto de Rose.

-Entre.

-Oi amor. Digo.

-Jack! Que surpresa.

-Você sabia que eu viria.

-Como está tarde pensei que só viria amanhã.

-Não vou deixar para amanhã o que eu posso fazer hoje.

-Bom argumento. Ela retruca.

-Sou um gênio.

Ela ri.

-Sente aqui. Ela me convida.

Sento ao seu lado na cama.

-O que está fazendo?

-Vendo um filme.

-Qual? Pergunto.

-De volta para o futuro.

-Cara, adoro esse filme. Acho tão interessante isso de voltar para o passado.

Imagina se pudesse de verdade?

-Acho que não seria tão bom assim.Respondi ela.

-Por que não?

-Porque você faz escolhas na vida, sempre.

E se você faz a escolha errada tem que tentar consertar, nós aprendemos com os erros Jack... Se pudéssemos voltar para o passado e refazer tudo nós estaríamos apenas cobrindo algo que nunca foi realmente resolvido.

-É pode ser. Medito sobre aquilo, e percebo que é verdade. Não é grande vantagem.

Temos que resolver nossos problemas como pessoas dignas.

Ficamos horas conversando, até que percebo que já está muito tarde e prefiro ir embora.

-Amor, já está tarde tenho que ir.

-Ok amor vá com cuidado em. Te amo.

Beijo ela por um longo tempo... Seus lábios são macios e me deixam nas nuvens. Por um momento esqueço de tudo, dos problemas, das preocupações... é como se fosse apenas eu e ela no mundo.

Desço as escadas e deparo com Alice no sofá vendo TV perto da porta.

-Olá senhorita Alice.

-Olá Jack! Como vai?

-Bem e você?

-Bem também. Não quer dormir aqui esta noite? Está tarde e chovendo muito.

-Não quero te incomodar, e não tem problema, é rapidinho daqui até em casa.

-Ah então ta Bom. Vá com Deus Jack. Até mais.

-Até. Obrigado.

Entro no carro e começo a dirigir pela estrada novamente, está chovendo bem mais do que quando vim.

Vou pensando no que Rose me falou sobre Escolhas que nós fazemos e penso... Tudo bem nós temos que fazer escolhas, mas as vezes não depende de nós.

De repente ouço um barulho. Várias coisas estão acontecendo ao mesmo tempo, vejo algo na minha frente, percebo por um instante que o carro está capotando e não consigo raciocinar.

Nem tudo depende de nós.

Amores esquecidosOnde histórias criam vida. Descubra agora