Prólogo

606 82 16
                                    

Oii, meus amores, depois de anos, estou de volta ao Wattpad! "Ah, esse irlandês!" foi escrita para ser uma comédia romântica que distraia vocês, com toda essa loucura do Covid 19, merecemos um pouco de leveza, não? Então se deliciem!

 Inicialmente a história terá capítulo novo toda quarta-feira, mas dependendo do retorno, posso postar até mais, então indiquem bastante aos amigos <3

 Inicialmente a história terá capítulo novo toda quarta-feira, mas dependendo do retorno, posso postar até mais, então indiquem bastante aos amigos <3

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Christie


Antes que encerrasse meu plantão, chequei os leitos mais uma vez. Era importante observar a evolução de cada paciente. A UTI do St. Thomas de Londres não era fácil, quase sempre perdíamos alguém — e, infelizmente, eu era do tipo que me envolvia demais. Tantas histórias incríveis rondavam aquele lugar que não se conectar era quase uma missão impossível.

Tudo parecia bem, então segui para os vestiários. Após dobrar meu jaleco branco, peguei minha bolsa e liguei meu celular. Gostaria de falar com meu marido antes de sair, a fim de saber como estava sendo dar conta dos nossos filhos no show da amada Katy Perry. Caminhei até a recepção e sorri para Lisa que se aproximou.

— Boa noite, Chris! Dê um beijo nos monstrinhos por mim.

Sua postura natural eram as mãos entrelaçadas na frente do corpo. Seu cabelo alinhado em um rabo de cavalo quase parecia uma demonstração inconsciente de respeito e empatia.

Lisa também era médica plantonista e, aos vinte e cinco anos, possuía uma inteligência soberba. Formara-se cedo na escola e na faculdade também. Por isso, era uma das mais jovens no hospital. Eu não era chegada a novas amizades, mas gostava de seu jeito humilde. Aos poucos, tínhamos nos aproximado e Lisa se tornara uma amiga íntima. Ela até cuidava dos meus filhos quando meu marido e eu saíamos.

Segurei a bolsa em meus ombros, desistindo por um momento de atravessar as portas duplas do hospital. Gostava de conversar com ela.

— Oi, Lisa. Eles estão em um show da Katy Perry, vão chegar uma pilha!

Ela riu e se aproximou, olhando para os lados para se certificar de que não havia pessoas precisando dela naquele momento.

— Você comprou mesmo? E qual foi a reação do Declan? — Apoiou-se no balcão de atendimento, descontraída.

— Ele me sacou direitinho. Não consegui nem disfarçar. — Suspirei com falsa chateação.

— Dra. Jones, venha comigo rápido! Oi, Dra. O'Connor! — A enfermeira entrou correndo com uma expressão de pavor e me saudou um tanto nervosa.

Era raro ver enfermeiras naquele estado de espírito, todos eram preparados para manter a calma. Sendo assim, mesmo estando fora do meu horário, resolvi dar uma olhada no que estava acontecendo. Acompanhei-as rapidamente pelos corredores até a UTI.

Quem seria o paciente?

Deixei que minhas pernas me guiassem até o leito, e meus olhos se arregalaram ao ver a Sra. Brown inconsciente. Aquela senhora entrava para o número raro de pessoas que viviam em um estado crítico e pareciam não se incomodar com isso. Ela não chorava nem se desesperava, como os outros. Sempre a observara com curiosidade e, um dia, não conseguindo mais evitar o impulso de indagá-la sobre sua serenidade, ela me respondeu com gentileza:

— Filha, olha para mim. Eu tenho cara de que não vivi como queria? Experimentei tudo de que tive vontade, me envolvi em relacionamentos duradouros com homens e mulheres, tive seis filhos e vi todos eles crescerem. Tenho noventa e três anos e não tô nem aí para o que pensaram ou deixaram de pensar de mim. Tudo tem seu tempo, e eu vivi a minha vida ao máximo. Na hora que tiver que ir, vou em paz.

Quem em sã consciência poderia achar contentamento naquela situação? Aquilo ali era uma UTI, pelo amor de Deus! Eu não entendia sua resposta e nem seu estado de espírito, mas, por algum motivo, sempre a observava.

E naquele momento, ela estava tendo uma parada cardíaca.

Olhei enquanto a minha amiga corria para socorrê-la juntamente com três enfermeiras. Pensei em entrar para o atendimento, mas meu chefe também estava presente. Meu turno já havia acabado, e outros médicos tão competentes quanto eu já se aproximavam para ajudar. Fiquei imóvel ao observar o que eu via acontecer com frequência: a vida se esvair de um corpo. E antes que a movimentação parasse, eu já sabia que a Sra. Brow não estava mais ali.

Senti meus olhos encherem-se de lágrimas e um soluço ficar preso em minha garganta. Todos pararam seus esforços e olharam para o rosto daquela senhora, com as expressões tristes. Não havia mais nada que eles pudessem fazer, e nem eu. Calmamente, ajeitei minha bolsa no ombro e saí do hospital em direção ao meu carro.

"Eu vivi a vida ao máximo." Sua frase ecoou em minha mente, mas não impediu o choro de irromper. Atravessei o estacionamento já soluçando. Tentei me acalmar antes de ligar para meu marido.

Oi, querida.

— Declan, está todo mundo bem? Você colocou as pulseiras nas crianças? — Eu estava soando mais aflita do que pretendia, não queria que ele se preocupasse até que eu chegasse em casa e contasse o ocorrido. Declan sempre me acalmava quando algo do tipo acontecia.

— Não precisa se preocupar, estão todos bem. Acabamos de entrar nos camarotes. Você já saiu do hospital?

— Estou no estacionamento. Chegarei em casa primeiro. Me avisa quando acabar aí e manda um beijo para as crianças. Amo vocês.

O som pareceu aumentar, o show devia estar começando.

— Pode deixar. Beijo.

Encerrei a ligação rapidamente e continuei andando em direção ao carro. Odiava pensar em como a morte era inesperada e cruel. Sra. Brow estivera bem durante todo o dia e, sem mais nem menos, havia nos deixado.

Abri o carro e sentei-me no banco de couro, tentando controlar a respiração.

Girei a chave e atravessei o estacionamento disposta a chegar logo em casa, tomar um banho e descansar. Declan daria conta das crianças, com certeza.

Limpando as lágrimas de meus olhos para focar na estrada, pensei em como seria um dia perder meus pais. Meu coração acelerou e mais lágrimas vieram. Não aguentaria.

Uma buzina alta chamou a minha atenção e arregalei os olhos. Tinha furado um sinal e, quando estava pronta para frear, escutei um grito, que parecia ter escapado dos meus próprios lábios.

O outro carro já estava em cima e, em desespero, larguei o volante.

Brilho.

Barulho.

Vazio.

Ah, esse irlandês! - Irmãs Bittencourt - Livro 1. (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora