III: Um toque bobo

843 131 114
                                    

Não era assim que eu imaginava passar a tarde. Molhado. Roupas ensopadas e grudentas. Água entrando nos meus ouvidos.

Tudo aconteceu rápido, Jennie estava entre eu e Jimin, de pé na beira da piscina. Senti alguém flexionar meus joelhos e me desequilibrar. Brincadeira de mal gosto.

Fiz uma nota mental para agradecer a mamãe por nos matricular em aulas de natação desde pequenos, ter que ser socorrido seria humilhante demais da conta.

— Minha nossa! Desculpe, eu pensei que era Seokjin — justificou Jeongguk.

Cretino. Está mentindo.

— Você está bem, maninho? — Jennie segurou meu braço e me ajudou a sair da piscina.

— Não. Essa é a única roupa que eu trouxe.

— Qual é, Jimin? Empreste uma camiseta e shorts para o Tae — o garoto sugeriu.

— Claro!

Fomos para o quarto dele. Apenas nós dois. Ele não parecia desconfortável com a situação, embora eu estivesse molhando os degraus da escada. Era uma casa demasiadamente grande, tanto dentro como fora. Devidamente iluminada, decorada com tons de branco, cinza crômio e um dourado sutil nas almofadas.

E seu quarto não poderia ser diferente. Mas meio que era. Assim como a ideia que tive dele. Ele não era quem eu pensava que era, mas de alguma forma ele era. Rico e gentil. E ainda fofo tropeçando nos próprios pés. Isso conversava com suas paredes — uma delas pintada de azul escuro, uma pincelada ousada no meio do branco pacífico e sofisticado —, as estantes, os quadros, as frases motivadoras coladas em seu mural. Dizia muito sobre ele, mas, ao mesmo tempo, não dizia nada. Eu precisava saber mais.

Perguntei o que ele fazia. Ele jogava beisebol. Nadava. Saía de noite.

Lia.

Longe de mim duvidar do intelecto e interesses de alguém, mas leitura não era algo que eu imaginava ser significativo para ele. De alguma forma, isso me intrigou. O que exatamente ele lia? Com que regularidade? Ou apenas havia citado sem nenhuma pretensão?

Resumi todas as minhas perguntas em uma.

— Você, lê? — ponderei desconfiado, vendo o mesmo revirar os olhos. — Qual é o seu autor favorito então?

Ele riu da resposta que estava prestes a dar.

— Talvez Jane Austen — respondeu. — Não julga...

Sua resposta me atingiu com incerteza. Jimin é o cara mais imprevisível de todos os tempos, sem dúvida. Uma caixinha de surpresas.

— Que peculiar.

— Isso te incomoda? — provocou, a língua entre os lábios. Ele está bêbado.

— Nem um pouco. É bom saber que o garoto mais desejado do ensino médio é um romântico tolo e melancólico.

— Ei, meninas gostam de sensibilidade. E o seu?

— Dostoiévski.

— Que sombrio.

— Ele é incompreendido.

— Igual a você.

— Exatamente — Eu sorri, ele entendeu, não disse nada e depois rimos.

— Acho que essa vai te servir — e percebo que ainda estou encharcado na frente dele. Que vergonha.

Ele joga um moletom de mangas compridas em minha direção, cheira como nova. Talvez ele nunca tenha usado, pois não se encaixa, por ser muito larga. Decepcionante, confesso, esperava descobrir qual é o seu cheiro. O real, aquele que impregna nas roupas. Ele também entrega um par de shorts jeans, dobrados nos joelhos e com alguns rasgos propositais.

Seventeen | VminOnde histórias criam vida. Descubra agora