VI: Ele é sensível

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Estranho imaginar uma vida fora de Daegu, não que fosse uma rotina fácil. Simplesmente acordava todos os dias e pegava uma carona para escola com os pais de Hobi, ouvíamos músicas no caminho e Jennie acariciava seu cachorro.

E enquanto ela faltava às aulas para andar de skate na pracinha ao lado, eu fazia para ficar na biblioteca com Yoongi, até sermos expulsos pelas risadas altas.

Essa, sem dúvida, foi a parte mais dolorida da mudança. Perceber que estamos finalmente crescendo, cada um por si a partir de agora. Alguns desejam voltar no tempo para consertar erros, mas eu não. Não me arrependo de nada além de não ter aproveitado mais as amizades que tive ao longo dos anos e isso me frustra um pouco. Gostaria de ter sido inesquecível para aqueles que me marcaram. A desvantagem de não ser mais nem menos talvez seja essa, a irrelevância.

Devo acrescentar que não sou bom em manter contato, no entanto. De vez em quando, Yoon me liga para ter certeza de que estou vivo e jogar um pouco online. E Hoseok sempre manda emojis tristonhos quando descobre que o deixamos de fora. Não temos culpa, com ele, nossas partidas sempre terminam em sessões de fofoca e conversas sobre o futuro.

Eles são muito diferentes, a propósito, no bom sentido. Yoongi é mais reservado e tímido, e nos divertimos juntos pois me identifico com ele nesse aspecto. Ele não é a melhor pessoa para ouvir sobre meus dramas e encontrar soluções, mas sei que sempre estará lá para me distrair e apoiar minhas decisões. Afinal, ele é o mais velho entre nós e isso reflete nas suas atitudes.

Por outro lado, qualquer pessoa se diverte quando está com Hoseok. Sua bondade é genuína e ainda que cometa erros, perdoamos facilmente pois seu coração é carregado de boas intenções. Creio que ele teve a melhor criação de nós três, mas esse mérito é dele também.

[...]

O trajeto para os aposentos de Jimin é inquieto, odeio ser ansioso, mas felizmente rápido. Sam se ofereceu para me levar antes do serviço. Jimin está ajeitando os fios rebeldes do topo da cabeça, tirando seus fones de ouvido e de pés descalços quando me recepciona. Tão casual e naturalmente lindo.

Estamos sozinhos, diz ele, pois a moça que cuida da casa preparou o almoço e foi dispensada mais cedo. Decidimos ficar no quintal, desta vez na mesa de mármore.

Devo dizer que fiquei surpreso com seu desempenho, embora não seja um dos mais esforçados da turma, Jimin tentou ser o mais útil possível fazendo os slides e lendo artigos. Achei fofo.

— Eu não sabia que você usava óculos.

— Só uso pra ler, não ficam muito bem em mim — respondo sincero, sem importância, e ele me analisa com delicadeza.

— Discordo. Você fica uma gracinha.

— Sério?

— Sim, você parece um professor sexy e intelectual.

— Você é doido.

— Ei, Tae. Você vai ao jogo no sábado, certo? — diz ele.

— Não sei, não gosto muito de beisebol.

— Vai ter que começar a gostar, se não esse namoro não vai funcionar — brincou, esticando as pernas no outro lado do banco.

— Quer mesmo que eu vá?

— Ficaria feliz se você fosse, sua irmã vai, então era só você ir com ela, mas se você não quiser, tudo bem. Não precisa ir se não estiver afim.

Observo ele desviar o olhar para seus próprios dedos e brincar com os anéis ao ser pego de surpresa. Ele parece diferente do garoto cheio de si que todos conhecem.

Seventeen | VminOnde histórias criam vida. Descubra agora