Por do sol.

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Claudia tinha um sorriso ansioso e curioso para saber qual queria a minha reação após provar a "coxinha de frango" e o "brigadeiro", seu corpo curvava cada vez mais para frente aproximando-se de mim, acabei por me desconcentrar e desviar o olhar rindo mastigando aquela massa frita.

— O que foi? — ela pergunta fechando a cara — Não gostou? Tem um gosto ruim?

— Não! Claro que não! — limpei o canto do meu lábio ainda rindo — Você. Era como fosse arrancar da minha mão e comer. Fofa.

— Me desculpa. Essa é a terceira vez que faço sem a ajuda dos meus pais e ainda para senhores que tem um habito alimentar saudável.

— Pode dizer tudo sobre o Vincent menos que ele tem uma alimentação saudável — Haon intrometeu no meio da conversa com sua boca suja de doce — Day, como você fez isso? Woah, é a melhor coisa que eu comi na minha vida!!

— Gostou mesmo? É só misturar leite condensado, manteiga e achocolatado numa panela, se comer direto já é uma delícia e se acrescente granulado, fica ainda mais gostoso. Digo que o de vocês não tem tanta graça, mas com os ingredientes brasileiros seriam mil vezes melhores!

— _Yehey!_ Mentirosa! — Haon semicerrou os olhos limpando sua boca.

— Vou te sequestrar e levar para o Brasil pra tu ver.

— Me leva também... — disse em um tom baixo com um pequeno bico nos lábios observando os dois.

— Ah, Vincent. Eu fiz um especial pra ti! — Day tirou uma caixinha com uma bola enorme de brigadeiro revestida de estrelinhas azuius, roxas e brancas com uma velinha branca encaixada no centro — Um momento. Alguém tem fogo?

— Toma o meu. — Kangseok estendeu seco o isqueiro de metal.

Day sorriu-lhe agradecendo e acendeu a vela com cuidado, olhou-me e puxou a cantiga de parabéns em inglês que logo foi seguida pelos outros ali presente. Não sabia como reagir, aliás, quem sabe nesses momentos? Tampei o meu rosto rindo envergonhado, olhava-a dentre os dedos sorrindo de bochechas quentes, minhas orelhas nem se comente.
Depois de cantar, focamos apenas em comer o que restava. Tinha apenas olhos para Negra sentada ao meu lado, ela tinha os olhinhos brilhando orgulhosa do próprio trabalho e eu também estava orgulhoso por saber que havia se esforçado para agradar desconhecido com um gesto simples e doce. Minha barriga e coração agradeciam.
Wonjae pegou o violão e começou a tocar e cantarolar alto o refrão de "Gee-Girls Generation" arrancando gargalhadas de todos que estavam focado em suas conversas aleatórias. Haon e Clara — Amiga de Day — levantaram e começaram a dançar, batíamos palmas e gritávamos incentivando-os a passar vergonha.

— Lança pra mim. Vou fazer vocês chorarem um pouco — estiquei os braços tirando o instrumento das mãos de Wonjae e ajeitando em minhas pernas.

Limpei a minha garganta e dedilhei as cordas lembrando-me de alguma musica bonitinha que havia treinado, precisava impressiona-la de alguma forma. Comecei a cantar "WiIngWiIng – Hyukoh" não era bonitinha no sentido romântica, mas a melodia trazia-me paz, já perdi as contas de vezes que havia ensaiado.

"Minhas pernas estão tremendo,
tremendo enquanto eu caminho
Também hoje, o dia passa sem sentido
Amor é apenas para aqueles que são iguais
Não há nada que faça meu coração vibrar"

A garota ao meu lado fechou os seus olhos e o corpo embarcava na letra, logo sua voz aguda se juntou ao grave da minha para o refrão.

"Wiing wiing, vai a mosca da fruta
Ela voa para longe como se estivesse rindo da minha tristeza
Bing bing, o mundo gira
Ele se contorce como se estivesse rindo de mim também"


Ela abriu os olhos olhando-me com um sorriso continuando a cantar o dueto, sua cabeça deita sobre os meus ombros e continuamos no ritmo melódico.
No final, nossos amigos pareciam admirado com a apresentação repentina e batiam palmas, aquilo fez olharmos um ao outro de forma tímida.

— Por que não mostra aquela que compôs pra sua ex? — Kangseok desafiou-me.

— Pra sua ex? — ela pergunta arqueando a sobrancelhas — É do tipo que escreve musica depois de passar um tempo com alguém? Também faço isso.

— Bom... Eu queria fazer alguma coisa pra ela... — desviei o olhar coçando a nuca — Acho que era tão melodramático que terminou comigo.

— Ela pediu nude do corpo e ele bobo mandou da alma — Haon comentou gargalhando

— Ya!! — levantei o punho, mas logo abaixei suspirando — Esqueça.

— Eu quero ouvir... — insistiu com um bico nos lábios.

Respirei fundo assentindo com a cabeça e ajeitei novamente o violão em minhas pernas, Day bateu palmas tendo um sorriso animado estampado e não tardio para tocar e cantar a música. A letra era pura e tinha os meus sentimentos, não gosto de me lembrar do relacionamento que tive com essa pessoa por saber que poderia ter feito muito mais por ela e ela por mim, mas estávamos focados em cobrir buracos de amor próprio ao qual nenhum dos dois era capaz de fazer sozinho. Ela foi a única de uma conexão forte e sem interesses nos meus pais, conhecemos por um acaso e terminamos pela falta desse mesmo acaso.
Não queria me lembrar de alguém quando estivesse com outra pessoa, e ainda mais sendo Day, a garota que em dois dias e meio conseguiu me apresentar o amor próprio, a compaixão pelo próximo e que não deveria me chatear quando algo não fosse aos meus planos, pois algo maior e melhor viria de forma doce e gordurosa me proporcionando uma ótima memória.

— Woah!.. — Bateu palmas com um sorriso orgulhoso — É linda. Espero que possa escrever uma musica pra mim, e se ela fizer sucesso amarei mais ainda.

— Quem sabe... — limpei a garganta envergonhado devolvendo o violão para o dono — O sol está quase se pondo... Quer ir ver de perto?

— Claro! — ela sorri se levantando.

Estende o seu braço em minha direção me puxando para cima fazendo me esforçar um pouco e levantar com a ajudinha mixuruca. Ri fraco ainda segurando sua mão e caminhei ao seu lado para perto da água, balançava nossos braços para frente e trás alegremente olhando os outros casais que estavam ali para fazer o mesmo.

— Eu não te disse o porque não pude ir ontem, não é? — ela interrompe o silencio quando paramos — Estava fazendo minhas malas, decidimos fazer uma festinha de despedida já que só eu vou estar voltando, e é por isso os dos salgados.

— Não vá.

— Minha irmã nasce ainda esse mês... Te contei sobre isso também...

— Como eu odeio quando as coisas mudam desse jeito — sussurrei olhando para o reflexo do céu rosado na água.

— Não pense que quis passar meus últimos dias com o primeiro que aparecesse — continuou ficando a minha frente e segurando minhas mãos — Passei ótimos dias ao seu lado. Foi estranho as borboletas no estomago que tu me deste, eu gostei.

— Fique parada — encarei direto os seus olhos castanhos pela primeira vez — Se for assim, me deixe olha-la por mais tempo. 

Minha mão subiu ate o seu rosto tocando a bochecha, dei um passo mais a frente ficando próximo daquele corpo minúsculo, engoli seco ao vê-la fechar os olhos. Meu corpo inclinou-se para frente, nossos nariz rocaram antes dos lábios até que dei-lhe um breve selar sobre aquela carne macia, insatisfeito, minha outra mão foi para a sua cintura e colou ainda mais nossos corpos sentindo o calor de ambos chocarem, aprofundei para um beijo que envolvia não só a língua, mas também os sentimentos criados um pelo outro nos últimos dias.
Aquário e debaixo do por do sol. Lugares em que o meu amor por aquela agora a qual planejava chamar por "minha preta" floresceu mais forte. Sentir o aroma único que me encantou, a voz no sotaque perfeito, o cabelo macio ao que queria envolver-me na noite e dormir sobre, saber o que mais ela poderia apresentar da cultura tão alegre e diferente da minha.
Com um suspiro pesado, termino de escrever sobre essas breves lembranças e irei me afundar no enterro de aniversário. O desejo na hora de assoprar as velas já estava pronto e pretendo realizar o mais cedo possível, irei atrás do meu dia, não deixarei que a noite ou a chuva acabar com o brilho daquele sorriso. Estenderei os lenções no aquário do nosso amor e iremos assistir as arraias nadarem junto do nosso amor.

— Vou te procurar até na parte mais funda do oceano.

aquarium. - shortficOnde histórias criam vida. Descubra agora