A queda

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Era como um mundo mágico, visto que a realidade do menino estava longe disso, resolveu ficar por ali mesmo. Ele então, se deita sobre uma cama de madeira com um travesseiro de algodão sobre sua cabeça.
Passou-se uma noite sem perturbações, sem barulho algum e nenhum sinal de vida ali além dos grilos, mas, aquilo não incomodava ao certo. Ao acordar e ao abrir a pequena porta daquela casa, o dia está ensolarado, e a luz do dia ilumina seu rosto que por muito tempo não via a luz do dia. O sol não machuca seus olhos e nem ao menos o faz chorar. O sol cura as suas feridas e o faz sentir bem e revigorado em meio a tudo que passou. Ao sair da casa velha, percebe que as ruas mudaram um pouco desde a primeira vez que as viu. Elas agora tinham sangue por todas as partes, uma violência mas sem nenhum corpo, algo que não se enxergara a noite. Mas por que apenas de manhã? e quem havia cometido os crimes não fez nem o favor de limpar o sangue, como se aquilo fosse um aviso, um sinal.
O menino fica assustado e se pergunta como tanto sangue foi parar em cada canto daquele reino que antes ali não tinha nem uma gota. E foi então que apareceu uma criatura misteriosa dos becos dali. Seu rosto escuro esconde olhos vermelhos e grandes que pela sombra de seu capuz, pode-se apenas ver seus dentes tortos logo acima de um grande e peludo pescoço, é coberto com um grande capuz marrom feito à mão, com pequenos detalhes feitos de um artesanato irreconhecível e misterioso. A criatura era alguns centímetros mas baixa que o menino, mas era mais larga e tinha pernas curtas. É possível ver a ponta de um nariz sobre aquele capuz, "com certeza aquilo não era humano" o menino pensa.
E é então que ela se apresenta:
-vossa majestade!? -A criatura se curva fazendo um pequeno gesto com as mão sobre sua barriga. O menino, confuso e sem saber o que dizer respondeu:
-sim, meu err... nobre súdito... em que posso ajudar?
-A luz do luar corrompeu seus guerreiros, majestade, eles agora são cavaleiros das trevas vagando sobre o submundo da exoterra. Eles então, assassinaram os homens que ainda restavam como forma de aviso à vossa.
O menino fica calado por alguns segundos ainda absorvendo a informação, ele não conseguia formular uma resposta correta, antes achando que o maior massacre que já viu foi em sua terra, onde guarda lembranças e sonha pesadelos desde então. Mas, como parte de anos vendo filmes dramáticos na televisão,  pede para retornar ao trono.
A criatura então tira seu capuz e a luz do sol reflete sobre uma cintilante espada guardada em seu coldre. E se revela como um rato enorme.
O garoto fica completamente assustado, já tinha visto algo parecido em algum lugar, o que remete à pequena cachoeira no qual havia saciado sua sede, mas... ele era um tanto menor, bem menor. Ele, nervoso, começa então a seguir o rato que até então parecia ser um fiel escudeiro da realeza.
Passando pelas ruas sangrentas do reino, os dois então avistam o que parecia ser o centro da cidadela, vazia, porém caótica.
Então o rato pergunta ao jovem:
-majestade, onde está a sua coroa de lata? A perdeu vagando pela floresta? Não sabes o perigo que passou fazendo isso... nós passamos várias noites sem um rei para governar, a cidadela perdeu o controle estatal e o reinado começou a perecer. Mas eu não perdi as esperanças!! enquanto muitos fugiram e foram mortos na floresta obscura, eu continuei aqui esperando pela vossa majestade.
Foi então, em que os dois entraram pelos portões, tendo vista do grandioso trono de barro. Ali, todos os móveis eram de barro, não possuíam janelas, apenas uma saída de emergência para casos urgentes e claro, o portão principal. A falta de janelas deixava o ambiente bastante abafado. Como a saída de emergência estava aberta por conta dos surtos pelo castelo, o sol iluminando o chão, fez crescer musgos e trepadeiras por entre o trono e o tapete que a ele leva, o que ali parecera ser usada a pouco tempo. O trono ainda tinha pequenas manchas de terra do que ali parecera ser o verdadeiro rei, também feitas a pouco tempo.
Todo o reino, a partir daquela manhã, misturava o cético e o fantasioso, sem levar em questão o tempo passado.
O menino então, subindo as pequenas escadas, senta sobre o pequeno trono de barro, segurando seu pequeno cálice de barro servido com uma jarra de lava que, por acaso, não derretia o cálice. O pequeno rei, olha para o horizonte pelo portão ainda aberto, e vê o sol desaparecendo pelas nuvens, deixando todo o espaço ali tomado pela escuridão.
-eu tenho medo do escuro. Diz o garoto ao gigantesco rato em pé ao seu lado segundos antes de acordar, no meio da floresta obscura, no meio da noite de outono. Com uma coroa de lata enferrujada, trajando seu pedaço de pano ensanguentado. De olhos abertos derretendo à luz da lua, a luz infinita da luz, que consumiu o sol aquecido pela poluição que envolveu o mundo inteiro.
Um jovem menino sonhador, adormeceu para sempre tomado não poder ter sonhos felizes e infantis em uma realidade caótica e cheia de desesperanças. Que por um instante acreditou ser o rei dos ratos da pequena cidadela escondida por entre o fauno.

O rei de lataOnde histórias criam vida. Descubra agora