O amor só existe nos livros (EM HIATUS)

Capítulo 1 - Roma

O sol entrando pela janela incide sobre a mesa onde minhas mãos estão pousadas segurando minha quarta xícara de café. Uma garçonete olha nervosa para mim atrás do balcão, provavelmente preocupada com o tanto de cafeína que estou ingerindo. Se ela soubesse que eu estou muito mais nervosa que ela, me entenderia completamente. Olho para o céu italiano através da janela da lanchonete do aeroporto, pensando em todas as coisas que aconteceram e que estão por vir. Ir até Roma conhecer a antiga casa do seu avô recém falecido, uma viagem transatlântica, mesmo não se sentindo tão segura com o seu próprio italiano e estando completamente sozinha, apenas com a ajuda da agência de viagens.

Sim, é real, eu havia feito isso e agora não há mais volta. Eu sempre quis visitar a Europa, principalmente a Itália, a fim de saber mais sobre minhas origens e talvez me descobrir mais. Meu querido (e desconhecido) avô nasceu e morreu em Roma, se casando aos 23 anos e tendo sua primeira e única filha, minha mãe, aos seus 30 anos. Depois que minha avó deixou minha mãe e ele, as coisas não tem sido muito fáceis, minha mãe e ele viviam brigando e um dia ela simplesmente decidiu fugir e viajou para o Brasil, se apaixonou e se casou, mais tarde me teve, mas nunca mais falou com o seu pai por causa de uma estúpida briga.
E agora cabe a mim descobrir o que me resta da minha mísera família,vindo até onde tudo começou, talvez para recomeçar, para me conhecer mais, e saber mais sobre o avô que nunca tive. De certo modo me sinto como ela, fugindo da sua realidade para um lugar onde ninguém a conhecesse ou a julgasse, com o sonho de recomeçar do zero. Um barulho interrompe meus devaneios e percebo que preciso ir.

Faço um sinal chamando a garçonete que vem ao meu encontro prontamente, pago minha conta e agradeço pelo serviço e percebo pelo seu rosto que meu italiano não deve estar tão mal, já que ela me compreende facilmente. Saindo do aeroporto pego um táxi para o hotel onde irei ficar, dentro do carro pego um papel que me indica alguns pontos turísticos na cidade.
Preciso conhecer melhor a cidade e me habituar ao local, já que irei passar 3 meses aqui, talvez mais, por isso à tarde irei passear. Depois de chegar no hotel e arrumar minhas malas, pego o telefone fixo do quarto e ligo para  minha mãe. Ela atende rapidamente do Brasil.

- Alô, minha querida é você? - ela pergunta atropelando as palavras de forma ansiosa.

- Sim, mãe, sou eu. Cheguei em Roma há algumas horas, fique tranquila, estou bem. - ouço ela suspirar do outro lado da linha - Como vão as coisas por aí? Já sentiram minha falta? 

- Você sabe que sim! - ela diz exasperada. Apesar de concordar com minha decisão de viajar, ela ainda tinha suas dúvidas e medos. - Mas está tudo bem sim, só estou com saudades de você, maluquinha.

- Dona Madalena, minha querida mãe, também estou com saudades, mas não se preocupe, sei me cuidar muito bem, não sou mais criança.

- Espero mesmo que sim, Amélie. Quero que você me dê notícias todos os dias.

- Tudo bem mãe, mas não se preocupe, você sabe que eu já tenho 24 anos.

- Sei sim, mas é que às vezes é difícil de imaginar. Preciso ir, meu amor, mas já estou morrendo de saudades! Te amo.

- Eu também te amo e estou morrendo de saudades mãe, tchau.

Desligo o telefone e respiro fundo, passando as mãos pelos meus cabelos. Terá sido realmente uma boa ideia deixar o Brasil e correr atrás dessa loucura na Itália? Ou será que eu fui muito impulsiva? Talvez não devesse ter deixado minha mãe sozinha e preocupada. Afasto os meus questionamentos e foco no que é importante. São quase 15h00 da tarde aqui em Roma e ainda estou tentando me habituar ao fuso horário, mas estou sem fome ou sono,descansei bastante no avião durante a longínqua viagem.Pego minha bolsa, meu chapéu e um pequeno mas ótimo livro para ler no caminho. Quase me esqueci do meu guia, com certeza poderia me perder por aqui!Desço na recepção do hotel e um funcionário vem ao meu encontro quando me aproximo do balcão de informações.