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Sendo ruim como era em física, decorar leis nunca foi meu forte, mas havia uma lei de Murphy que me acompanhava aonde quer que eu fosse: a informação mais necessária é sempre a menos disponível. Quando tudo que eu mais queria era saber se tinha ido tão mal na prova de física quanto achava, a professora demorou mais de duas semanas para determinar as notas.

E antes tivesse demorado mais um mês! Meus olhos não conseguiam desviar daquele cinco vermelho no topo da página. Não era minha pior nota, mas nem de longe alcançava o oito que eu precisava ter tirado. Minhas pernas enfraqueceram e eu senti que podia desmaiar. Me joguei na cadeira e continuei encarando o papel mais aterrorizante do mundo.

Recuperação no último trimestre do último ano! O que meus pais diriam? Eu vinha de uma família de intelectuais que sempre se davam bem no que se propusessem a fazer. Meus pais não me pressionavam para ser uma gênia, afinal, eu era ótima no que queria seguir carreira, e isso bastava. Mas uma recuperação era completamente sem precedentes. Ramona nunca pegou, e eu sempre consegui fugir pela tangente.

Até aquele momento. A tinta berrante e anunciadora do apocalipse que a professora usara na minha prova não me deixava negar: eu estava ferrada. Não sabia o que fazer. Chorar em público por uma nota ruim seria considerado imaturidade? Eu deveria dar de ombros e fingir que não me importava, mesmo que quisesse me agachar em posição fetal e jamais voltar para casa?

A professora voltou a explicar a matéria lá na frente, mas erguer os olhos seria como admitir que tudo tinha dado errado. Continuei olhando fixamente para minhas respostas cortadas com um X enorme, me perguntando o que eu tinha feito de tão errado para aquilo acontecer comigo. Eu não conversava durante a aula de física, porque sabia perfeitamente bem da minha dificuldade, e estudava por dias para qualquer teste. Então por que aquela bomba precisava explodir nos últimos dias do ensino médio?

Eu estava quase lá, caramba! Mais três semanas e poderia desfrutar da festa mais aguardada de formatura. Iria dançar, me divertir, provar todos os aperitivos maravilhosos que a comissão tinha escolhido e, no dia seguinte, estaria livre da escola. Poderia somente aguardar o resultado do ENEM em paz e torcer para ser caloura de gastronomia no ano seguinte.

Bem, meus planos de tranquilidade estavam arruinados. Eu nem sabia o que planejar a partir daquele momento! Vanessa e Thaís me cutucavam, mas eu ainda estava sem condições de expressar uma fala decente. Porque tudo que eu mais temia tinha se tornado realidade, e eu não sabia o que pensar sobre isso.

Quando me convenci de que fuzilar a prova com os olhos não alteraria seu resultado, guardei o papel com raiva na minha mochila e virei para as minhas amigas. Alternei o olhar entre elas enquanto disse, sussurrando:

— Deu merda.

Duas palavras foram o suficiente para que elas entendessem. Vanessa engoliu em seco e tentou esboçar um sorriso encorajador (sem muito sucesso) e Thaís agarrou minha mão com firmeza.

— Ei. A gente vai te ajudar. Vai dar tudo certo, tá?

Já tinha dado errado, mas resolvi guardar a amargura só para mim. Assenti fracamente e me joguei sobre a mesa. Passei os próximos minutos como um zumbi. Os braços abaixo da minha cabeça eram um travesseiro desconfortável, mesmo que eu não tivesse a menor vontade de dormir. Nem sabia se conseguiria, depois da possibilidade de ter o meu futuro planejado jogado no lixo.

E se eu fosse reprovada? Veria todos os meus amigos na faculdade, no curso que tinham escolhido, enquanto eu passaria novamente por aquele ano infernal?

Nunca tinha pegado recuperação e nem sabia como funcionava. Preferia permanecer na ignorância. Não é para tudo que deve haver uma primeira vez! Resmunguei, suspirei e respirei fundo em sequência durante o resto da aula. Prestar atenção era a atitude mais sábia, mas eu não me sentia capaz.

Peace [Projeto Folklore] | CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora