— Mais atenção, meninas! Principalmente vocês da zona de defesa! — a professora gritou por cima do barulho habitual do jogo.Era dia de treino de vôlei. Nossa escola tinha times de vários esportes e costumávamos competir todos os anos no intercolegial. Claro que cobrava uma mensalidade a mais por isso, mas ao menos não era um preço absurdo e eu gostava muito do esporte. Me ajudava a descarregar a energia que às vezes ameaçava me sufocar.
Eu ocupava uma posição ofensiva, então não me preocupei muito com o sermão dela. À minha frente, Thaís bateu os pés no chão com impaciência. Ela não parecia muito concentrada como costumava estar, e eu sabia que a mudança do seu irmão a estava afetando mais do que ela deixava transparecer.
Seus pais estavam olhando apartamentos em outra cidade para se mudar, agora que ela estava saindo do ensino médio e seu irmão nem moraria mais no estado. Thaís gostava da sua casa de sempre porque era próxima da nossa. Ela insistia em dizer que não estava chateada em se mudar para a cidade na qual os pais davam aula, mas eu sabia que ela sentiria falta do espaço ao qual estava acostumada.
Tomamos água e voltamos para a quadra. A professora apitou e o jogo recomeçou. O próximo saque seria meu, e eu respirei fundo com a bola nas mãos. Concentrei toda minha força nas mãos, quiquei a bola no chão algumas vezes e a joguei para cima, batendo minha mão nela do jeito que fazia há anos. Ela foi parar do outro lado da quadra, quase indo direto para o chão do território adversário.
Nós rebatemos quando ela voltou para o nosso lado e, com uma finalização de Paloma, finalmente marcamos um ponto. Fizemos uma comemoração rápida e o treino continuou, exaustivo como sempre. Quando a professora apitou anunciando o fim da atividade do dia, olhei para Thaís e suspiramos juntas em alívio.
Ela andou ao meu lado até o vestiário e tomamos um banho rápido antes de trocar de roupa. Usávamos um uniforme específico para o vôlei e, depois de tirá-lo, precisávamos voltar a vestir o uniforme tradicional da escola. Não era permitido permanecer lá dentro com roupas que não fossem essas, o que era rígido demais, na minha opinião. Pelo menos podíamos usar o agasalho que quiséssemos, uma conquista que o grêmio anterior lutou para alcançar.
Vanessa não fazia vôlei conosco, mas sempre estava online nesse horário. Ela mandou uma foto da colagem que estava fazendo em seu bullet journal. Era de um dos seus doramas preferidos, My secret romance, que ela nos fez assistir (e eu acabei ficando viciada). Mandei uma selfie nossa sentadas na arquibancada.
Estávamos conversando, mas não tinha como não prestar atenção no treino de futsal acontecendo à nossa frente. Principalmente quando os jogadores se reuniam para comemorar um gol, ou alguém cometia uma falta e um palavrão raivoso ecoava pela quadra.
Thaís me observou atentamente por um tempo, tanto que eu desviei o olhar da quadra. Me perguntava como Tiago conseguia mirar tão bem o gol sem seus óculos. Será que ele usava lente durante os treinos?
Eu tinha me acostumado a vê-lo empurrar os óculos quando escorregavam pelo nariz. Ele fazia isso com muita frequência, eu conseguia notar depois de uma semana de aulas de reforço. Conseguia notar uma série de coisas, desde sua mania de estalar os dedos por diversão ao hábito de passar a mão nos cabelos.
Eu também tinha conseguido chegar a conclusão que seus olhos eram âmbar, uma cor tão diferente quanto o tom deles.
— Quanto interesse — minha amiga comentou, começando o assunto como quem não queria nada. Ela era ótima nisso, mas eu tinha anos de experiência em conversas com ela para notar os sinais.
Revirei os olhos.
— Nem começa. Só estava observando porque está na nossa cara, ué. Não tem como não reparar. Vai que chutam a bola na nossa cara?
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Peace [Projeto Folklore] | CONCLUÍDA
Historia CortaHabituada a passar seu tempo livre na cozinha reproduzindo e criando receitas, Renata se considera uma garota de sorte. Cercada de amigas de infância que a entendem melhor do que ela mesma o faz e vivendo sob o mesmo teto de uma irmã mais nova diver...