Sebastian não se achava um homem de sucesso, muito pelo contrário, sua vida parecia um enorme fracasso.
Os bens materiais não supriram as perdas que ele teve, e isso fazia ele se sentir vazio. Ao começar por Miranda.
Foi aos vinte anos, que Sebastian Montpellier teve a ideia de almoçar em uma lanchonete, e foi nesse momento que a vida dele mudou. Seu encanto por Miranda a garçonete do lugar, foi quase que imediato! Ela tinha longos e ondulados cabelos castanhos, e olhos do mesmo tom.
Miranda e Sebastian tiveram uma longa e linda história, um amor profundo da parte do homem, tão profundo que ele sabia que ela seria a primeira e única a domar seu coração. Miranda era tudo.
Foi com vinte e dois anos que ele juntou-se a ela em matrimônio. Comprou uma casa também na cidade de Paris, e já estava começando sua empresa. No ano seguinte, Miranda Montpellier anunciou a gravidez.
Sebastian se viu feliz, pela primeira vez desde a morte de sua mãe, sentia-se completo! Porém... Nenhuma história vive de altos, e após o nascimento da pequena Isabella Montpellier, mais um declínio na vida de Sebastian. Ser pai e empresário não foi uma junção boa para um jovem de 23 anos. Ele estava certo disso. E mesmo assim não abriu mão de nenhuma das coisas. Miranda precisava dele, de uma forma que nunca precisou de ninguém, e mesmo assim, grande parte das vezes, ele não estava lá. As brigas começaram a ser constantes, até o dia que Miranda desistiu.
Sebastian se arrepende amargamente de não ter aberto mão de seu negócio por sua família, e se pudesse trocar toda sua renda pelo amor de Miranda e a criação de Isabella, ele trocaria. Quando Miranda foi embora, Isabella tinha três anos. No começo ele ainda ia a visitar todos os fins de semana, e acredite, se pudesse Sebastian ainda faria isso. Mas Miranda não se sentia confortável com a frequência que ele a via.
Após o divórcio, e até mesmo alguns meses antes dessa decisão, Miranda tratava Sebastian como um homem perigoso, e ele sabia por que...
Hoje Isabella Montpellier tem treze anos. Sebastian não a vê com muita frequência, não de forma autorizada. Quando possível, ele gostava de ir no colégio em que Isabella estudava e a ver na saída, sem que ela soubesse que ele estava ali. Isabella sem sombra de dúvidas foi a maior perda de Sebastian. A segunda... Charlize.
Foi na madrugada daquele mesmo dia, que Charlize parou de dar sinais, não se era possível ouvi-la, e ao chamar por ela, não se obtinha resposta. Sebastian foi o primeiro a subir. Procurou por todos os cômodos na parte de cima, porém, parecia como se Charlize Montpellier nunca tivesse pisado ali!
— Graham!! — Ele precisava de ajuda. Graham, após ser chamado, também subiu para o segundo andar, e pareceu surpreso ao não encontrar a irmã lá. Isso fez Sebastian se questionar, o que ele estava esperando, além da ausência misteriosa de Charlize??
A imagem da ambulância carregando o corpo de sua mãe apareceu na cabeça, ele fechou os olhos ao máximo para espanta-lá.— O que vamos fazer?? — Questionou Graham, e então Sebastian caminhou até o antigo quarto de seus pais.
Todas as portas do segundo andar estavam fechadas, menos essa. Ele já havia procurado ela naquele cômodo, mas sentia que era ali que encontraria qualquer pista, e não estava errado.
Charlize naquela madrugada usava um colar dourado com uma pérola rosa dentro, e em suas mãos, dois anéis de ouro. As três jóias foram deixadas pela mulher na antiga penteadeira pertencente a Laurine.
— Na praia... — Cochichou Sebastian a si mesmo.
Laurine sempre dizia que jóias na praia era a perfeita fórmula para o desastre. Isso era óbvio. Mas o que fazia a frase ser marcante era o fato que Charlize, por alguma razão misteriosa, adorava ela! Todas as vezes que Laurine visitava a praia, retirava as joias e dizia essa frase, apenas para ouvir a risada da filha, seguida da repetição.
"Jóias na praia é a fórmula para o desastre!"
— Na praia! — Sebastian saiu na frente, foi seguido pelo irmão, que não parecia ter acompanhado o raciocínio, ou se quer visto as jóias de Charlize, mas estava tão ansioso quanto, para achar ela.
Os dois correram, como duas crianças, indo em direção a praia como se tivessem esquecido o mais valioso dos pertences lá.
Assim que Sebastian colocou os pés na areia, pode observar uma nuvem escura vindo da imensidão do mar. O pressentimento ruim invadiu seu peito, fazendo alusão ao dia da morte de Laurine. Ele não podia perde-lá também!
Ele já havia perdido Miranda, Isabella, Laurine, Vincent, e estava completamente ciente que nunca teve Graham para perde-lo. Mas ela não! Ele não podia perder Charlize.
Era realmente difícil correr na areia, ainda mais quando se sente as pernas bambas de puro terror. Porém, conforme ele se aproximava do mar, mais evidente ficava a silhueta feminina que estava adentrando as ondas. Sebastian e Graham não pararam de correr.— Sebastian!! — Sebastian sorriu ao ouvir seu irmão lhe chamar, como um alerta de que também estava vendo ela. Charlize, entre as ondas, olhou para trás abrindo um imenso sorriso, suas bochechas rosadas, se apertaram contra os olhos, que se fecharam um pouco. Era ela.
Os irmãos Montpellier sentiram a água invadir o corpo, a correnteza puxa-los fortemente enquanto as ondas vinham os empurrando para trás. Porém, apesar de tudo isso, não desgrudavam os olhos dela. Ainda na frente Sebastian sentiu que finalmente conseguiria alcançar ela, até ouvir o barulho do apito vindo da praia.
Quando se deu conta, percebeu que tanto ele quanto o irmão já estavam com a água na altura do peitoral, e o salva vidas, na praia os chamava a atenção. Claro que Sebastian não ligou, faltava pouco para ele recuperar Charlize, mas quando ele se virou, ela não estava mais lá. Novamente o apito.
— Sebastian... — Chamou Graham. Esse era um dos momentos em que eles não precisavam realmente conversar, ele sabia que Graham não queria voltar a praia, e Graham sabia que Sebastian voltaria.
— Não podemos continuar... — Charlize estava logo a sua frente, era impossível ter desaparecido de uma hora pra outra, porém se o pior aconteceu, ele não poderia deixar que acontecesse novamente, com Graham dessa vez. Tirar seu irmão do mar era sua maior prioridade.
Os dois voltaram a praia, os pingos grossos de chuva começaram a cair lentamente. O homem, vestido de vermelho, caminha com uma expressão de indignação na direção dos irmãos.
— Vocês estão malucos? Quase foram engolidos pelo mar!
— Me escute, você precisa ir resgatar ela. — Começou Sebastian. — Charlize, ela estava na água junto de nós e...
— Amigo, estou olhando para o mar desde as dez da noite. Só vocês dois entraram na água.
— Ótimo. — Ironizou Graham — Étretat está uma bagunça, contrataram um salva vidas míope.
— Não... Eu não sou míope! Só vocês dois vieram a praia desde que ameaçou chover! Só vocês dois foram malucos de entrar no mar desse jeito. Gritei vocês por várias vezes, mas vocês não ouviam, então usei o apito. Não tinha mulher nenhuma.
— Escuta, está dizendo que eu e meu irmão somos malucos, mas você é o bom da cabeça?! — Vociferou Graham.
— Graham... — Sebastian sabia que não era a solução, o que estava acontecendo ali era bem além do que ser sã ou não.
— Eu e ele vimos, isso não faz sentido! — Continuou ele, para o salva vidas.
— Graham! — Chamou Sebastian novamente. — Vamos.
A chuva já estava forte, os dois caminhavam rapidamente, Graham seguia seu irmão, e Sebastian não tinha destino. Andaram pelas ruas até avistarem um homem com guarda-chuva, vindo de longe. Sebastian se aproximou, vendo a expressão curiosa e ao mesmo assustada do rapaz, que deu um passo para trás ao ver Sebastian.
— Você viu uma mulher por aqui? Ela é loira, olhos azuis, um metro e sessenta cinco...
— Não, desculpe. — Apressadamente ele se retirou.
— Perdemos ela... — Sebastian sentou-se na calçada. — Ah... Charlize.
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Alma De Serpente
FantasiaApós um acidente conturbado que marcou a infância do trio de irmãos Montpellier, uma grande crise de relacionamento se estabeleceu entre os três. Anos depois, Charlize, a mais nova dos três, com urgência reúne seus irmãos alegando que precisam conve...