Abruptamente enxerguei algo cintilar sob o cômodo de paredes azuis e tom taciturno.
De soslaio vi um ser angelical diante da janela.
Sua mera prensença balouçou as cortinas de modo que pude entrever a lua intermitentemente.
O anjo gesticulou suas mãos que outrora se entrelaçavam em profunda singeleza e, apesar de seu sublime silêncio, senti o peso do vociferar de mil palavras, cuja melancolia
suscitou a vertigem.
"Não tenha's medo" Ele proferiu "Mas tão pouco sejas fraco!"¹
Fechei morosamente minhas pálpebras pronto
para adormecer naquele frenesi,
mas logo senti uma presença
malignamente atemorizante
E a paz oriunda da criatura alada
que despontou de minha janela
fora comutada por algo semelhante
ao ódio, ao rancor.
Ao levantar as pálpebras
avistei um demônio de
olhos vítreos e uma calda que oscilava ante a janela.
Eu lhe indaguei tomado pelo medo:
"Que fazes aqui criatura profana?!
Por quê viestes a minha morada?
Não vedes que procuro descansar para poder gozar das nuvens oníricas de meus sonhos mais vaporosos?"
O ser blasfêmo apenas sorriu
e gesticulou, deixando -me apar do que ele pretendia
ao bater no vidro com suas unhas
avermelhadas de sua pele decrépita.
Pus -me de joelhos a orar
tremendo devido ao tempo invernal.
O demônio me observava fabricando múltiplas expressões de horror insondável enquanto batia com mais força as suas unhas avermelhadas no vidro translúcido.
Quando, tomado pelo temor, imaginei estar demasiado perto da morte
recordei das palavras do anjo
e estufei o peito proferindo:
"Entre, Fera alada, se acha's que pode invadir minha morada! Defender -me -ei da sua fúria de maldita megera!"
Aquele ato indolente o enfuresceu, deixando suas maçãs enrubescidas como a chama ifindavél
do inferno.
E quando pretendia irromper a janela
Com seu fogo infernal
a luz surgiu do amaranhado de estrelas da abóbada,
Os sons desapareceram
e entre o piscar de olhos
e o sublevar dos meus lábios trêmulos, adormeci,
despertando apenas quando o escarlate desbotado havia
comutado o cinza infindável
ao redor do alvo peregrino
dos céus.¹ Palavras ditas pelo vígario, no livro: O inferno de Dante.