Snow

4 2 0
                                    

E aqui há mais um capítulo! Boa leitura!

-

       A loira coçou os olhos, se espreguiçando. Seu sono tinha sido cheio de pesadelos, mas pelo menos sentia-se um pouco mais firme em suas pernas. O céu ainda estava bem escuro, então calculou que deveriam ser por volta das três da manhã. Se levantou e deu uma olhada nos arredores. Martin estava deitado a alguns metros e o cavalo, com a resta franzida. Parecia estar tendo sonhos ruins também. Bebeu uma poção de fôlego, acordando o padre com a mão em seu ombro.
       — Devemos ir. Jauffre deve estar se perguntando onde eu me meti. Chegaremos logo depois do amanhecer. — Elize resmungou, juntando suas coisas.
       Martin remexeu em sua bolsa, dividindo um pão ao meio e entregando um pedaço para a mulher. A nórdica agradeceu, mastigando-o enquanto dava uma maçã para o cavalo.
       Caminharam por algumas horas, com Martin andando ao lado de Elize, que trazia o animal malhado pela sela.
       — Então, você sabe algo sobre aquele tipo de portal? — A loira perguntou, incomodada com o silêncio.
       — Você quer dizer que pulou dentro daquilo sem fazer ideia do que era? — Elize deu de ombros. — Pelos deuses. Bom, todo praticante de magia daédrica sabe sobre a barreira entre nosso mundo e Oblivion. Aquele tipo de portal nunca poderia existir, mas existiu. Algo mudou para torná-lo estável.
       — Entendo. Você parece entender sobre magia daédrica, padre. — A mulher comentou, franzindo a testa.
       — Eu nem sempre fui um sacerdote. Em minha juventude, segui um caminho diferente. — A voz do imperial se tornou carregada, e Elize se arrependeu de abrir a boca. — Eu sei mais do que gostaria sobre o poder sedutor da magia daédrica. Vamos...deixar por isso mesmo.
       Martin estava nervoso. Sabia que ao norte de Skingrad ficava o santuário daédrico que passou boa parte de seus dias, e rezava para não passarem por ele. Não podia culpar aquela mulher, não tinham pego aquele caminho sem motivo, e ela não fez de propósito para reviver lembranças ruins.
       O resto da viagem foi em silêncio, apenas com alguns murmúrios de compreensão e Elize cantarolando baixinho. Nas últimas horas, Martin foi montado no cavalo enquanto a nórdica caminhava alguns metros à frente.
       O sol começava a aparecer no horizonte e a loira pode ver as colinas de Chorrol ao longe. Um pequeno sorriso brotou em seu rosto, sabendo que finalmente poderia descansar um pouco. Faltava apenas subir mais um último morro e teriam chegado.
Entretanto, assim que chegaram na estrada perto do priorado, o elfo ajudante do estábulo veio correndo até eles.
       — Ajuda! Precisamos de ajuda! Estão matando todos no Priorado! — Elize não precisava ouvir mais nada. Sacou a espada, avançando para a construção. Não teve tempo de parar um dos assassinos, que atravessou o irmão Maborel com uma espada. A nórdica empurrou-o com força, fazendo que batesse a cabeça contra a parede e então cortou a garganta do homem. Era do mesmo grupo que tinha assassinado Uriel pelas roupas que usava.
       Não viu que outro assassino chegava por trás dela, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, uma explosão de magia o atingiu. Martin estava alguns metros afastado, com as mãos brilhando com um feitiço de gelo. A loira acenou, em agradecimento.
       Os dois correram para a capela, procurando Jauffre. O homem de meia idade estava encurralado, mas segurava três dos assassinos com uma katana em mãos. Assim que os dois mais jovens acabaram com dois dos atacantes, o ex-Grão Mestre finalizou, matando o último.
       — Você voltou, graças a Talos! — O homem mais velho suspirou, vendo a loira e Martin logo atrás dela. — Eles atacaram sem avisar. Estava rezando e ouvi Maborel gritar, então só tive tempo de me armar. O Amuleto dos Reis! Temo que seja o alvo do ataque. Eu o guardei num quarto secreto no dormitório. Devemos ver se está seguro.
       Elize assentiu e o grupo se dirigiu para o escritório do Grão-Mestre. Uma nova porta estava aberta, onde Jauffre entrou com pressa.
       — Eles pegaram! O Amuleto se foi.
       — Porra, eu não acredito nisso! — A nórdica xingou alto, recebendo um olhar severo do clérigo mais velho, mas continuou resmungando sobre não ter nem cinco minutos de paz. — Você não conseguiu manter a droga de um único colar escondido!
Jauffre se virou, finalmente reconhecendo a presença do Imperial na sala.
       — Mas Martin está aqui. Nem tudo está perdido ainda. Mas você não pode ficar aqui. Aquelas pessoas já sabem do Priorado, e assim que souberem que o herdeiro está vivo, virão atrás dele.
       — Onde poderemos mantê-lo a salvo? — Elize perguntou.
       — Nenhum lugar é completamente a salvo, mas podemos ganhar tempo. O Templo do Soberano das Nuvens é uma fortaleza dos Blades ao norte de Bruma. Devemos sair o quanto antes. Espere lá embaixo, por favor. E Martin, precisamos conversar por um momento. A sós.
       A loira colocou uma mão no ombro do rapaz mais jovem antes de sair, sabendo que seria um momento tenso para ele. Era uma mania antiga que tinha adquirido de uma velha amiga, que sempre lhe apertava o ombro quando a nórdica chegava cabisbaixa de uma missão.
       No térreo, Elize e um outro padre comiam um pedaço de torta, enquanto a mulher afiava a espada. Martin desceu alguns minutos depois, juntando-se a eles. Seus olhos estavam mais fundos do que em Kvatch, e parecia muito cansado.
       Saíram do Priorado logo depois do meio dia. Elize com o cavalo do Irmão Maborel, que agora tinha nomeado de Tab, Martin em um cavalo marrom escuro e Jauffre em um cavalo com pelagem amarelada. A nórdica cavalgava a frente, com Martin atrás e Jauffre na ponta. Eventualmente, Elize diminuía a velocidade para puxar conversa com o padre mais jovem, comentando sobre a paisagem, mas parou quando Jauffre começou a olhá-la torto.
       A viagem fora tranquila até a neve começar a cair. O templo ficava ao norte, acima de Bruma e aninhado entre uma cadeia montanhosa próxima a divisa de Skyrim. A estrada com neve era difícil de percorrer, e quanto mais caminhavam, mais íngreme se tornava o terreno.
       O frio era intenso, e começava a escurecer rapidamente. Felizmente, o clima era muito inóspito para ladrões, então Elize não precisou se preocupar com eles.
       Depois de um caminho por uma montanha em zigue-zague, os grandes portões do Templo do Soberano das Nuvens se tornaram visíveis. A fortaleza era enorme, construída com tijolos de pedra que alcançavam facilmente dez metros de altura. Pelo menos, parecia bastante difícil de invadir, então Martin estaria seguro.
Um jovem guarda atravessou os portões correndo, realizando uma rápida continência a Jauffre.
       — Grão-Mestre, este é...? — O rapaz empalideceu.
       — Sim, Cyrus. Este é o filho do Imperador, Martin Septin.
       — Meu lorde, bem-vindo. Nós não tivemos a honra da visita de um Imperador a muitos anos.
       — Ah, bem, muito obrigado. — Os lábios do padre se apertaram em uma linha fina, enquanto ele olhava para Elize com um olhar que quase pedia ajuda. — A honra é minha.
       — Vamos. Seus blades estão esperando para saudá-lo.
       O grão-mestre atravessou os portões, subindo a grande escadaria que o seguia. Martin se aproximou da nórdica, indicando para que subissem juntos.
       O pátio do templo era grande e arejado, com o ar gelado das montanhas o envolvendo.  Duas carreiras de soldados os esperavam lá em cima, uma de cada lado, e Jauffre aguardava entre eles.
       — Irmãos! Tempos sombrios estão sobre nós. O Imperador e seus herdeiros foram mortos em nossa guarda e o Império está em caos. Mas aqui está nossa esperança. Aqui está Martin Septim, filho de Uriel Septim! — O homem mais velho começou.
       Um coro de saudações ecoou, assustando o rapaz imperial, claramente desacostumado a esse tipo de situação. Elize precisou segurar uma risada da expressão completamente perplexa do padre.
       — Vossa Majestade, os Blades estão sob seu comando. Você estará a salvo aqui enquanto não assumir seu trono. — Jauffre finalizou, enquanto o pátio caiu em silêncio por um momento.
       — Jauffre, todos vocês. — Martin pigarreou nervoso. — Eu sei que todos vocês esperam que eu seja o Imperador, e eu farei o meu melhor. Mas tudo ainda é muito novo para mim. Eu não estou acostumado a fazer discursos, mas eu queria que soubessem o quanto aprecio suas boas vindas. Eu espero que possa provar que sou digno da sua lealdade nos próximos dias. E eu também quero agradecer a essa jovem ao meu lado. Sem ela, eu nunca teria chego até aqui. — O rapaz fitou Elize, que ruborizou violentamente com todos aqueles olhares e agradeceu num sussurro. — Isto é tudo. Obrigado.
Os soldados se dissiparam, deixando apenas Martin e Elize por um momento.
       — Não foi um discurso muito impressionante, não é? Mas não pareceu chateá-los. — O rapaz sussurrou, passando a mão pelos cabelos. — Os blades me saudando dessa forma... Eu não quero ser ingrato. Eu estaria morto se não fosse por você agora. Mas todos apenas querem que eu subitamente saiba o que fazer e aja como um Imperador, e eu não tenho a mínima ideia do que fazer.
       — Foi um bom discurso, Martin. Você acabou de chegar. Não se cobre tanto. As coisas vão fluir. — A loira sorriu, colocando uma mão no ombro do mesmo.


The Emperror and the WolfheartOnde histórias criam vida. Descubra agora