IV

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2019


Eu tive de me conter muito para não parecer uma criança empolgada com cada paisagem que surgia diante da janela. Meu corpo estava cansado, mas minha mente estava à milhão. Eu nem sequer piscava. Saí do transe com uma cutucada de Helena em meu ombro.

- Você não ouviu nada do que eu disse né?

- Perdão! - Exclamei, piscando várias vezes, sentindo o cansaço nos olhos. - mas é tudo tão incrível! Acho que ainda não acredito mesmo que estou aqui. Eu sonhei com isso por muito tempo...

Ela riu.

- É por isso que gosto de intercambistas. Vocês me lembram do quanto Londres é incrível. Quando se está aqui todos os dias, você sabe... acabamos esquecendo.

Minha vontade era pedir para que ela falasse o caminho todo, e me senti ridícula por amar tanto assim esse sotaque. Me ajeitei no banco me lembrando de conter minhas expectativas, afinal Londres era uma cidade como qualquer outra - com pessoas. Não seria um mar de rosas. E Helena com certeza não seria perfeita. Difícil era explicar isso para meu cérebro ansioso.

- Enfim... - Eu disse, enquanto you only live once do Strokes começava a tocar no rádio.

- Acho que vou deixar você curtir seus primeiros minutos aqui - Disse ela, erguendo o volume. Sorri.
Helena poderia não ser perfeita, mas pelo menos nesse momento estava perto disso.


. . .

Eu sabia que a casa dela era imensa, mas não imaginava que seria tanto assim. O portão gigante e cinza possuía uma pequena guarita, onde algum vigilante trabalhava. O portão se abriu automaticamente após alguns segundos, e entramos. A pequena estrada era cercada por um gramado e algumas árvores podadas, e eu pude ver a casa ao longe. Meus olhos se arregalaram, ela era mais linda do que nas fotos. Na verdade "linda" é um adjetivo muito simplista para aquela mansão.

- Helena! - Ela soltou uma gargalhada.

- Eu amo fazer isso. Sempre envio fotos de pedaços da casa, mas gosto de fazer uma surpresa. Bem vinda ao meu humilde lar. Está na minha família há muitos anos.

Balancei a cabeça, incrédula. A arquitetura vitoriana era maravilhosa. E pensei por que merecia tanta sorte, conseguir uma família como essa não era comum.

- Nós sempre pedimos para que os intercambistas não postem fotos que revelem o interior, pra não estragar a surpresa. - Disse ela enquanto manobrava o carro para entrar na garagem. - Com certeza você percebeu que ela é praticamente um museu, não é? Tentaram comprá-la de nós, confesso que a oferta foi tentadora, mas olha isto! Nada pode pagar uma herança como essa.

Assenti.

- Depois iremos te contar a história. Mas em resumo, ela já pertenceu à nobreza britânica. Mantivemos a maior parte das características originais, e fizemos apenas reformas necessárias e as replicamos perfeitamente, com exceção de algumas coisas que realmente mudaram. Infelizmente, alguns móveis não conseguimos manter... e trocamos por algo mais moderno. Fizemos também uma entrada na parte de trás, para os carros, junto dessa garagem. Mas ela possui mais uma entrada lateral e uma de frente. - Enquanto ela me explicava, um jovem alto e negro se aproximou, para pegar minha bagagem. Agradeci com um sorriso e voltei a prestar atenção em Helena.

- Mas o melhor ainda está por vir, Mel!

Senti um arrepio de empolgação percorrer minha espinha e meu corpo tremer. Eu vou viver em uma mansão vitoriana por um ano, Deus, eu mereço mesmo isso? Quer dizer, eu estou longe de ser a garota perfeita de um comercial de margarina.

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⏰ Last updated: Aug 18, 2020 ⏰

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A flower on the meadowWhere stories live. Discover now