Para fechar de um jeito doce, deixo esse pequeno capítulo. Foi muito gostoso desenvolver esse plot e ter vocês comigo, querides.
O sentimento de perda é irreparável. Saber que não vai poder reaver o que se foi, por si só, é uma carga difícil de ser suportada.
Naquela noite fatídica, depois de toda a comoção, o medo, angústia e pânico, Katsuki aprendeu a dar valor ao que lhe era realmente valioso. As cicatrizes de algumas queimaduras permaneciam em sua pele mesmo depois de dois anos, intactas, para lembrar à ele da aflição que o deixou doente naquelas horas de incertezas.
Ele sabe agora que ser o herói número um do Japão jamais seria mais gratificante e satisfatório do que ser o herói do próprio filho, pois nenhum refém, civel ou transeunte seria mais importante do que Eikichi.
Vê-lo ali, agora, debruçado no tapete, com pés balançando de um lado para o outro enquanto brinca com o irmão mais novo é a sua maior recompensa. Abriria mão de qualquer título sem pensar duas vezes apenas pelo capricho de presenciar essa cena, poder se sentir completo por ter as pessoas que ama ao seu redor.
O Katsuki de anos atrás o repreenderia por deixar de lado sua maior ambição para se dedicar à família e filhos, mas isso não o incomoda, pois essa era uma versão sua que não (re)conhecia aquele sentimento cálido se espalhando pelo coração ao dividir o tempo com os filhos e esposo. A preocupação do atual Katsuki é aproveitar o momento, certo de que ele vai passar e ele não terá arrependimentos.
- O que acha de pedirmos uma pizza hoje? - Eijiro sugeriu, e precisou cutucar o filho para que ele ligasse o aparelho auditivo. Com doze anos Eikichi era menos resistente com o uso dele, principalmente depois de experimentar na pele o risco de o deixar de lado. Infelizmente ainda o desligava quando estava em casa, principalmente quando Seiji estava chorando. - O que acha de uma pizza?
- De calabreza, por favor. - confirmou, voltando para o irmão que olhava para ele entusiasmado, agitando os braços e pernas em uma confusão alegre. Estalava a língua, tentando formar sons e o imitar. Eikichi não gostava do choro prolongado dele, mas era uma companhia constante quando Seiji estava tranquilo e feliz e o incentivava - Isso, pizza. Piz-za. - soletrou, movendo as mãos em linguagem de sinais - Assim, óh!
Seiji se agitou, interagindo à sua maneira e Eijiro riu dos gritinhos histéricos que ele dava.
- Tem que aprender, tá? - Eikichi fez questão de frisar, como um bom professor - Não só para conversar comigo, mas com todos que precisam dessa língua de sinais.
- Acho que você vai ter que ensinar à ele, então. - Eijiro propôs, satisfeito em observar a interação.
- Eu vou, não se preocupe. - garantiu.
- Você está assumindo uma responsabilidade e tanto. Acha que dá conta?
- Não vou amarelar, dou minha palavra de honra. - respondeu sem hesitar, fazendo pose.
- Isso é muito sério, hein! Palavra de honra é algo másculo, voltar atrás não é uma opção.
Eikichi olhou para o pai alfa com o semblante compenetrado e sério e por um segundo Katsuki quase se viu naquele olhar.
- Essa não é uma opção. - bateu o punho na palma da mão - Pode apostar que eu vou dar conta do serviço.
- Confio a educação do Seiji à você - cumprimentou-o em reverência - Quer ficar com a responsabilidade de limpar as fraldas dele também?
- Eca, nem vem! - gesticulou, enojado - Foi uma boa tentativa, mas não colou nem vai colar.
- Eu precisava tentar, não é? - Deu de ombros com um sorriso maroto.
Katsuki se moveu pela sala, observando-os conversar, sentou no sofá e sorriu com o caçula que praticamente pulava nos travesseiros, animado por ver os dois disputando a briga de dedos mais barulhenta de todas, com direito a uma narração exagerada de Eijiro.
- Desse jeito essa pizza vai chegar amanhã, já que ainda nem ligou para encomendar - brincou, lembrando a Eijiro que bateu na cabeça teatralmente, repreendendo-se pela falha.
Seiji pulou ao som de sua voz, virando a cabeça para o procurar. Apenas três meses e ele já parecia capaz de sair andando de tanta euforia. Katsuki já se preparava para mais um hiper ativo na casa, dessa vez sem a dificuldade da surdez, ao menos um ponto.
Não importa, apenas deixaria tudo mais interessante, afinal essas são fases passageiras e ele já tinha perdido muito com o primogênito para se permitir reclamar. Por isso escorregou do sofá para o tapete, pegou Seiji no colo e puxou Eikichi com o braço livre. Ele estava tão grande, ia ficar do tamanho de Eijiro mesmo tendo se apresentado beta.
- Tem espaço para mais um? - Eijiro ressurgiu, ajoelhando-se para os alcançar.
- Sempre vai ter. - Katsuki acenou, beijando a testa dele quando ele se colocou deitado em sua perna, rindo por levar chutes de Seiji que sempre se agitava ao vê-lo.
Se pudesse ele congelaria aquele momento para sempre, mantendo os filhos e esposo perto de si, sem mudar nada.
O passar do tempo é inexorável, mas nós escolhemos como vivenciá-lo, e é bom sermos sábios nessa escolha para que não haja arrependimentos.
Quanto a efemeridade da vida e dos momentos felizes existem duas regras:
1 - Não dá para recuperar o tempo perdido.
2 - É maravilhoso rememorar boas recordações.
Katsuki sempre escolheria a segunda opção.
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Demorei, mas encerrei, amades. Obrigada por terem acompanhado!
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Efêmero
FanfictionDesde criança Katsuki sonhava em se tornar o primeiro ômega a alcançar o topo, ser o número um no ranking dos heróis. Um objetivo que precisou deixar de lado por anos enquanto cuidava do filhote que arranjou sem querer por ser descuidado. Agora, de...