IV - Tudo é passageiro

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Demorei, mas voltei, dessa vez para encerrar o plot. A vocês que esperaram e tiveram paciência, meu muito obrigada ❤️

 A vocês que esperaram e tiveram paciência, meu muito obrigada ❤️

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Ser pai nunca foi um sonho para Katsuki. Ele não pensava em crianças, não desgostava tampouco adorava a ideia, simplesmente lhe era um tema indiferente.

Então a paternidade simplesmente aconteceu e num primeiro momento ele a detestou, certo de que iria apenas atrasá-lo em sua ascenção profissional, sem contar que não estava nem um pouco motivado a trocar os dias de trabalho pelas fraldas e noites mal dormidas. Por um tempo ele tentou afastar a ideia apenas pensando em como reverter a situação, cedendo aos apelos de seu alfa, simplesmente porque ele nunca venceria nenhuma disputa daquela espécie.

Aceitou sei destino e condição, ainda que não tivesse sido de bom grado. A simples ideia de ter um ser humano pequeno e indefeso, necessitado de si vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana o deixava ansioso. Temia fazer algo errado, falhar e machucar o bebê e por vezes seu medo o fez falar monstruosidades inconcebíveis, todas vomitadas no calor do momento.

Tudo mudou no momento em que viu Eikichi, como se algo se abrisse em sua mente, varrendo todos os anseios para longe. Aquele não era apenas um bebê, era o seu bebê e ele não daria a ninguém a oportunidade de tê-lo primeiro, por isso sua primeira reação foi de querer esfolar o médico quando percebeu que ele não tencionava entregá-lo a si, mas ao alfa.

Ele ainda podia se lembrar da sensação do primeiro contato visual, quando encarou os olhos atentos do filho, ou de como achou lindos os ralos e quase inexistentes fiapos louros de seu cabelo, o que o deixava com o aspecto de criança calva. As bochechas gorduchas e dedinhos atarrachados firmemente presos na camisola hospitalar que usava também o deixaram em transe, completamente extasiado.

Naquele momento Katsuki não se importou se seria capaz ou não, simplesmente faria. E por anos ele foi o melhor pai possível, mesmo com todas as dificuldades e frustrações. Se entregava totalmente aos cuidados com o filho sem se deixar abater o suficiente para desistir, sempre indo em frente, suportando as mudanças e se readaptando.

Então, quando se deu conta, Eikichi já não era mais um bebê e sim um garoto esperto e independente apesar de todas as limitações. Um tanto teimoso e respondão, mas não podia esperar menos de um Bakugou e o era preciso muito para ele chegar a esse extremo. Na maioria das vezes ele era apenas peralta e muito ativo, sempre se metendo em alguma aventura e o deixando descabelado de preocupação.

Por isso ele tinha se permitido retornar ao trabalho, acreditando que talvez fosse a deixa para finalmente realizar sua maior ambição, a qual estava se empenhando com tanto afinco que basicamente estava esquecendo de viver.

Tudo o que ele conseguia pensar agora era em como daria tudo o que tinha, toda a notoriedade, fama e prestígio que tinha conseguido por uma única chance de voltar atrás e reverter o que tinha feito, dar atenção ao que verdadeiramente importava.

Naquele momento em que corria, atropelando toda a vegetação sem se importar com os apelos do alfa, apenas seguindo em frente em direção ao fogo que agora tomava conta de uma parcela considerável do bosque, ele pensava apenas no filho e em tudo o que queria que ele ainda visse e experimentasse.

Porque Eikichi era para si justamente o que seu nome significava: fortuna suprema. Nem mesmo ostentar o primeiro lugar do ranking poderia se comparar ao prazer que era poder vê-lo, algo que tinha involuntariamente trocado por conta de sua maldita cegueira.

Agora percebia o quanto tudo era passageiro, tão efêmero que os primeiros dez anos do filho haviam passado como uma chuva de verão, um breve piscar de olhos. De que adiantava chegar ao topo se isso significasse perder tudo o que lhe importava?

Por isso agora estava ali, enfrentando as labaredas sem hesitar, para buscar um filho que no começo nem mesmo desejou, mas que tinha aprendido a amar e sem o qual não podia viver sem. Ele não carregaria aquela culpa, nem a dor de ter abdicado do tempo com ele por conta de um simples sonho, não importava o quanto isso fosse lhe custar. Que o fogo o queimasse até as cinzas, não importava mais do que resgatar o filho.

O cheiro de fumaça era asfixiante e o fez erguer a mão, os olhos ardendo enquanto buscava algum indício de que o encontraria. Não adiantava gritar, ele não ouviria de qualquer maneira, mas Katsuki podia escutar e lutou para poder se concentrar em todos os sons que não fossem o crepitar das chamas e estalar da madeira.

- ...papai...

O som era estranho, baixo e sufocado, mas Katsuki o reconheceria em qual lugar.

Seguindo seus instintos ele o encontrou caído perto de uma árvore, os olhos fracos e a respiração vacilante em meio a fumaça tóxica. Katsuki correu ao seu encontro, retirando a jaqueta que usava e jogando por cima dele antes de o pegar no colo.

- O papai está aqui, calma. - pediu em linguagem de sinais, percebendo o breve sorriso de conforto dele antes de gritar em dor.

Não demorou para Katsuki entender que ele estava com o pé quebrado e nem precisaria de um especialista para isso, visto que não tinha sido uma simples torção. Não havia muito o que fazer, nem tempo para imobilizá-lo, então ele beijou o rosto de Eikichi e pediu para que ele fosse forte e aguentasse o máximo que pudesse.

A fumaça já estava deixando-o tonto e nauseado, dando a impressão de que estava inspirando apenas fuligem ao invés de ar. Levantou com o filho no colo, um tanto desajeitadamente pelo tamanho dele, e começou a caminhar em busca de um caminho.

Todas as passagens estavam bloqueadas pelas chamas.

Naquele momento Katsuki se sentia estúpido como se não fosse um herói treinado para aquelas situações, mas sim um simples cidadão. Havia muito em jogo para ele arriscar qualquer saída, ao mesmo tempo não tinha tempo para elaborar um plano. Encontrou uma clareira e sem pensar muito teve que aderir a primeira ideia que lhe veio a mente quando viu uma breve brecha entre o fogo.

Certificou-se de que Eikichi estaria seguro em baixo do casaco e o segurou firme no colo, escondendo suas mãos dentro do tecido. As possibilidades eram poucas e estúpidas, mas ele tentaria mesmo assim.

Correu contra o fogo, embrenhando-se no caminho em direção a parte do bosque que ainda estava intacto. Pode sentir a pele queimar com o toque das chamas, mas não parou nem mesmo quando sentiu-se incendiar e o ar faltar pela falta de oxigênio. A mente nublou e a visão ficou turva devido a intoxicação. Os pulmões queimavam, vazios e Katsuki ofegou, lutando para manter a consciência enquanto vencia o fogo.

Do lado dele fora ele lagou Eikichi no chão, tossindo enquanto tentava se jogava no chão, rolando para apagar o fogo em si. A pele ardia e queimava e sua consciência estava a um segundo de desaparecer, mas ele não se permitiu, arrastando-se para perto do filho que estava desacordado.

Num último esforço, ele o abraçou, trazendo-o para perto e tentou se levantar. O primeiro movimento foi vacilante e ele caiu de joelhos. Tentou mais uma vez, aplicando força o suficiente para não cair e conseguiu, arrastando-se para longe do fogo. Logo avistou Eijiro e após andar mais alguns passos para sair da área de perigo, deixou-se cair de novo, amparado pelo abraço protetor do esposo que o chamava em meio a névoa da inconsciência que o engolia.

...

Ainda temos um último para encerrar, falta só uma revisão. Mas logo eu envio.

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