O calor dos dias chuvosos

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- CAITLYN! - o garoto gritava inutilmente enquanto corria atrás da menina que parecia incansável e claramente não sabia para onde estava indo. - PELO MENOS OLHA PRA ONDE VAI! - essa frase pareceu surtir efeito pois a menina parou bruscamente fazendo com que Rennan batesse o rosto na cabeça dela, gerando bastante dor pelo forte impacto - Não precisa parar do nada também... Ai... - passava a mão no rosto e limpava o pingo de sangue que saia do lábio inferior

Caitlyn virou lentamente na direção dele, passando rapidamente a mão na cabeça que também estava dolorida, porém nada demais. Não fazia ideia de onde estava, não sabia qual caminho tinha feito para chegar naquele ponto, mas tinham muitas pessoas andando na rua, empurrando e o tempo começava a fechar, já se podia ouvir os trovões raivosos acima da cabeça das pessoas que caminhavam por ali. Quando ele pode ver seu rosto, o qual esperava estar carregado de raiva, era tomado por uma visível dor emocional enorme, uma tristeza avassaladora de como se tivessem tirado tudo dela, todas as coisas que importavam e naquele momento ele pode compreender melhor as reações da menina. Ela não falou nada, continuava olhando para ele com os olhos marejados, as lágrimas escorriam sem parar, ela tremia e mordia o lábio inferior, não parecia que conseguiria falar tão cedo. Por isso, Rennan fez a única coisa que achou que era aceitável naquele momento, pegando abruptamente sua mão e a puxando com uma facilidade inacreditável para um ponto seguro, sem pessoas passando e empurrando constantemente e sem risco de toda a água que cairia do céu, caísse sob suas cabeças. Ele tirou seu casaco, colocando ao redor dos ombros daquela pessoa que parecia tão frágil e indefesa naquele momento e a puxou com a mesma facilidade de antes contra seu peito, em um abraço. A expectativa era que ela o rechaçasse mas ela apertou seu corpo mais forte e chorou com mais intensidade, se sentindo pela primeira vez, reconfortada no meio daquele país e cidade estranha com desconhecidos hostis.
Rebeca, Belinda, Taynara e Fabrício avistaram os dois, mas como combinado se mantiveram afastados, ou era essa a intenção inicial, não fosse pela reação sempre extrema de Belinda que vendo a cena de fora, foi tomada por uma raiva incontrolável. Felizmente estavam muito afastados para que seus gritos abafados por Taynara fossem escutados.

- Belinda. - Rebeca se pôs na frente da garota, segurando seus ombros com uma força considerável - Você acha que está aonde para todos seus desejos serem atendidos gritando, chorando e esperneando? Uma pessoa não vai atender seus desejos só porque tu é uma mimada emocionalmente instável, entendeu? O Rennan não vai olhar pra ti do jeito que tu quer, ele não quer nada contigo e se não parar com essa palhaçada só vai estragar tudo e acabar com esse grupo. É o que quer? - a menina estava com olhar de pavor, chorando como nunca havia chorado enquanto recebia as palavras duras e impacientes da outra, ainda assim assentiu com a cabeça demonstrando ter se acalmado - Ótimo. Sabe, eu não gosto muito de você, acho suas reações sempre exageradas e acho que é uma garota mimada de nariz empinado, mas o Rennan é meu melhor amigo e eu também considero muito a Taynara, então eu consigo te tolerar por eles, ainda assim não abusa da minha paciência.

- Rebeca não precisa... Ser tão agressiva... - Fabrício lançou tímidamente parecendo se encolher a cada palavra proferida, mais ainda quando a menina lançou o olhar para seu rosto tímido

- Gosto de você, mas te falta segurança - ela sorriu caminando na direção dele e afagando sua cabeça - Não se preocupa Fá, já falei o que tinha pra falar. - Encerrou cruzando os braços e todos ficaram em silêncio a partir daquele momento, apenas observando. Belinda optou por chorar abraçada em Taynara e não olhar para a cena.

Enquanto isso, Caitlyn seguia em silêncio profundo enquanto as lágrimas caiam e o menino mesmo que estivesse confuso, apenas aceitou a situação e não a soltou até segunda ordem, quando ela delicadamente se afastou, esfregando os olhos parecendo que tinha colocado tudo pra fora. Olhava séria e fixamente para seus próprios pés agora enquanto fungava. Rennan seguia a observando preocupado e confuso, mas temia falar alguma coisa e gerar uma explosão desagradável de emoções naquela menina tão complicada e difícil de lidar, então apenas aguardou até que ela se sentisse a vontade.

- Hm... - Caitlyn ensaiou - você... Sabe voltar pra casa...? - ela voltou a olhar em seus olhos, dessa vez demonstrando uma timidez desconhecida até então.

- Eu... - Rennan foi pego de surpresa, tanto pelo olhar quando pela pergunta. Ela parecia um cachorrinho abandonado. Ele não pode deixar de dar uma risada baixinha e curta - Sei sim. Quer voltar? - ele sorriu amigavelmente, com brandura

- É... Quero... Eu acho.... - ela coçou a cabeça, sorrindo sem jeito

- Podemos ficar na praça, no salão do prédio ou na minha casa se preferir, não precisa voltar pra casa.

- Acho que vai começar a chover... Melhor irmos logo, eu só não quero entrar em casa tão cedo.

- Tudo bem, a gente decide pra onde ir quando chegar lá. - sorriu mais uma vez e começou a andar, seguido posteriormente pela menina que naquele momento parecia uma pessoa totalmente diferente.

- Obrigada por ter me seguido na verdade, eu fiquei brava inicialmente mas se não fosse por isso eu não saberia voltar pra casa... Escuta...

- Não, desculpa por ter interrompido. Não sabia que tu também jogava. Ainda mais, eram os amigos que você não vai mais conviver por ter se mudado não é? Eu imagino o quão ruim seja. Sua mãe parece ser bem irredutível...

- Ela não parece querer voltar para casa, ela está feliz e adaptada aqui. Mas pra mim é péssimo. É doloroso. Cada dia longe de casa é horrível, eu queria tanto voltar. Ela nem percebe o quanto me faz sofrer de tão feliz que está - riu baixinho - Tudo bem eu vou ser sua amiga - Caitlyn olhou de canto de olho para o menino que parecia espantado e feliz

- Vai??? Vai sair com a gente e fazer coisas junto?

- Não acho que eu tenha muito mais opção já que não parece que vou voltar pra casa algum dia. Além disso você não é nada mal para minha primeira amizade brasileira - provocou o menino cutucando sua costela com o cotovelo enquanto andavam

- Se você não voltasse pra casa e eu não tivesse ido atrás na hora, eu teria te procurado depois Caitlyn.

- Obrigada. Cait.

- Quê?

- Cait. Pode chamar por Cait.

- Tudo bem então, Cait. Aliás eu também jogo, se quiser uma hora. Eu tenho alguns consoles também se quiser jogar alguma coisa uma hora...

- Eu adoraria... Obrigada por tudo até agora Rennan.

Eles voltaram para o prédio e ficaram algumas horas conversando no salão, enquanto o restante do grupo foi cada um para sua respectiva casa já satisfeitos com a resolução (exceto por Belinda que foi para casa de Taynara para chorar por um loooongo tempo) e Caitlyn decidiu, no fundo do seu coração, que faria aquelas amizades apesar de não querer que a mãe pensasse que estava se adaptando. Ela sempre iria querer voltar para casa.

Caitlyn Macgiver é só uma adolescente normalOnde histórias criam vida. Descubra agora