Capítulo Dois

849 80 79
                                    


A noite foi a mais tranquila que Xie Lian passou em muito tempo. Há doze meses ele se mantinha alerta o tempo todo, esperando por um toque em sua porta ou sussurros do outro lado chamando "Gege, Gege". Havia noites que sequer fechava os olhos. Ele passava sentado próximo a janela ao lado da porta de entrada, observando nada além da escuridão, esperando poder ver vermelho no meio de tanto preto. Ele não tinha a mesma necessidade de dormir que os humanos, era um deus marcial afinal, mas era um momento de paz que Xie Lian apreciava, e lamentava não conseguir descansar daquela forma tão profunda. Ele gostava de acordar e se sentir completamente recarregado, pronto para o que fosse, mas nada o satisfez tanto quanto abrir os olhos naquela manhã, sentindo um peso gostoso em sua cintura. A cabeça se virou e um fraco sorriso curvou seus lábios ao ver o rosto de San Lang próximo ao seu, mostrando que a noite anterior não havia sido um sonho, que ele estava de volta e enfim ao seu lado.

          Xie Lian tentou se levantar devagar, mas o mínimo movimento acordou o Rei Fantasma, que assim como ele, usava a noite daquela forma apenas como um capricho, então não houve lamentos pela interrupção de seu sono.

          O coração do Príncipe Herdeiro voltou a bater com rapidez no instante em que o olhar de Hua Cheng se encontrou com o seu e os lábios se moveram junto de seu dono, que também se sentou.

         — Bom dia, Gege.

         O Príncipe Herdeiro estremeceu com o tom usado. Era sonolento, mas tão provocativo que o fez mover as pernas de forma impaciente, tentando controlar as reações do corpo que vinham por coisas tão simples. Mas, desta vez ele não se envergonhou. Xie Lian ainda estava envolvido nos pensamentos sobre a presença de Hua Cheng ser um sonho ou não, e a realidade o deixou contente demais para se afastar. Ele o respondeu da mesma forma, mas se moveu outra vez, ficando de joelhos sobre o futon antes de segurar o rosto do Rei Fantasma para beijar sua testa com carinho. As mãos de Hua Cheng subiram para a sua cintura, e Sua Alteza não o impediu de guiar seu corpo para sentar sobre o seu colo. Aproveitando a posição, Xie Lian abraçou os ombros de San Lang e deitou a cabeça nele, apertando-o com força. Você está mesmo de volta. Ele sentiu os olhos arderem, mas segurou as lágrimas enquanto sentia sua cintura ser abraçada com imenso carinho, da maneira que sempre foi tocado pelo outro.

           — Gege, você sentiu mesmo a minha falta, não é? — Ele riu enquanto perguntava. A ideia era provocá-lo, como era costume. Esperava vê-lo envergonhado enquanto tentava se soltar de seus braços, mas nada disso aconteceu, e o Rei Fantasma foi surpreendido quando o abraço em seus ombros se tornou mais intenso enquanto o Príncipe Herdeiro balançava a cabeça de forma positiva.

           O abraço durou bastante tempo. Nenhum deles se mostrou inclinado a soltar um ao outro, então o silêncio entre ambos logo foi quebrado enquanto Xie Lian ainda estava sobre o colo de Hua Cheng. Não havia um grande tópico entre as palavras trocadas; a conversa foi suave enquanto as carícias acompanhavam a mesma intensidade e Xie Lian aproveitou aquele momento para ouvi-lo o máximo que pôde, tendo certeza de que aquele timbre carinhoso e ao mesmo tempo provocante era o que mais havia sentido falta.

           As palavras provocativas de Hua Cheng logo se intrometeram no meio da conversa, e Xie Lian se viu balançado como em muitas outras vezes passadas. Ele quis respondê-lo a altura, provocando-o igualmente, mas tudo o que conseguia fazer era rir e se tornar cada vez mais nervoso enquanto se atropelava nas palavras, divertindo Hua Cheng cada vez mais. Os toques em sua cintura se tornaram um pouco ousados, assim como o jeito com que o Rei Fantasma jurava o quanto havia sentido a sua falta, bem próximo de seu ouvido, com seu hálito batendo na pele da orelha avermelhada.

           — Não fique tão nervoso, Gege — pediu. — Eu só vou te tocar onde você quiser que eu toque. — Ele riu de maneira contida enquanto a mão deslizava pelas costas arrepiadas de Xie Lian. — Mesmo querendo tocar tudo.

Me IlumineOnde histórias criam vida. Descubra agora