Capítulo 2 - O beijo no vestiário

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O sinal soa. Ouço o pequeno alvoroço se formar, o barulho de cadeiras sendo empurradas enquanto as conversas animadas sobre o final de semana começam. Eu estava no meu casulo, devidamente protegido de todos os outros até que o barulho acabasse.

Não demorou muito. O silêncio se instaurou e eu suspirei, era hora de ir embora. Abri meus olhos devagar que se tentavam se acostumar com a luminosidade. Meus braços se descruzarão, levanto minha cabeça e só então percebo que ele está sentado na minha frente, me olhando.

Não sei porque imaginei ele fazendo uma cara de cachorro sem dono, isso que dá eu assitir comédias românticas durante a semana. Mas não tenho muito o que fazer em casa além de ficar na internet e ver Netflix. Caio estava ali me olhando com provavelmente um meio sorriso, porque não consigo imaginar uma forma melhor de dizer o meio termo que ele se encontra.

- O que faz aqui ainda? - perguntei.

- Estou esperando você. - disse ele como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Dei um leve sorriso.

- Olha eu podeira estar vivendo o maior clichê dos filmes ou dos livros. Mas do que adianta eu viver em algo que não é real porque eu quero simplesmente fugir da minha vida infeliz?

Ele me olha confuso.

- É a gente vê que não é de pensar muito não é mesmo? - digo me levantando e arrumando a mochila.

- Quando começamos?

- Do que está falando?

- Do trabalho.

- Ah isso... Eu posso fazer sozinho e você ganha a nota. - dou um tapinha no ombro dele - E agora podemos voltar a nossa vida normal.

- Mas eu não quero isso?

- Jura? Nossa que avanço.

- Porque está sendo mal comigo? - ele parece levemente irritado.

Sua pele pegou um rubor e suas temporas estão contraídas, as narinas se inflam levemente. Seus pulmões puxavam ar devagar, mas ele estava tenso.

Olho para ele vagamente e me aproximo um pouco. Sua respiração travou. Seu corpo levemente se afastou de mim, mas seus olhos estavam ali me olhando fixamente.

- Pelo simples fato de você ter mudado sua história em pouco tempo. Não sou idiota, e mesmo que fosse ainda seria mais esperto do que você. Não vou ser alvo de qualquer zoação sua ou de seus amigos.

- Eu não sei do que está falando...

Meu rosto se aproxima, a respiração foi interrompida. Viro meu rosto e falo no seu ouvido.

- Seu corpo não consegue mentir. Não adianta querer me passar a perna. O que sua boca não consegue dizer, seu corpo é bem mais eficiente.

- Então leia isso - disse ele de forma abrupta.

Em uma fração de segundo eu sinto suas mãos em meu rosto, elas são firmes. Os olhos dele se prendem nos meus por alguns instantes enquanto sua boca se aproxima da minha, ele fecha os olhos...

- Noac!? - a voz de Aline ecoa na sala.

Automaticamente Caio se afasta e pega a mochila, tudo acontece bem rápido enquanto ele passa pela Aline sem dizer uma única palavra. Ela observa ele saindo da sala as pressas.

- Então era isso que a senhora ainda fazendo depois da aula? - diz ela em meio a um sorriso.

- Até parece que ele ia me beijar.

- E não ia? Eu sei que atrapalhei esse momento único de saída do armário dele. Mas não precisava se incomodar. Sou voyuver. - diz ela com um leve sorriso no rosto - Adoro ver meninos se pegando...

Surreal: Tangível | Romance BLOnde histórias criam vida. Descubra agora