Capítulo 7- Maldita sorte a minha

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Eu só conseguia pensar em o quanto a minha sorte é seletiva, garanto que se eu tivesse jogado na loteria não teria nem uma mísera chance de ganhar. Mas como o caso é me sentar com o garoto que fez com que eu me atrasasse para a aula, é claro que a minha sorte conspiraria contra mim.

Dou alguns passos até chegar ao único banco livre em todo aquele ônibus. E é claro que ele colocou a mochila em cima.
Lanço um olhar para a mochila e em seguida um para ele, expressando que eu gostaria de sentar no banco em que sua mochila estava ocupando.
Ele dá de ombros e finge que eu nem estou ali. Decido então, pegar a mochila, jogando ela em seu colo e me sento no assento, agora, livre.

Antes de mais nada, começo a procurar o meu celular na mochila para escutar música.
Estou revirado todos os meus matérias a procura do maldito, mas não o encontro em lugar nenhum.

Dou um suspiro longo, puxo o ar e solto bem devagar para não começar a xingar até a minha última geração.
Ele dá uma risadinha quando percebe que algo está errado.

— Perdeu alguma coisa, loira? -- ele tira um de seus fones de ouvido.

— E o que isso te interessa? -- Enfio minha mão na mochila de novo, só para ter certeza de não está lá no fundo, mas minhas esperanças acabam.

Ele ignora minha pergunta. — Se você deixou na escola, com certeza pode encontrar com um dos monitores amanhã cedo...— Finjo que não escutei. — Eu...posso ir com você amanhã se quiser...

Suspiro mais uma vez. 1, 2, 3, 4... Conto mentalmente, para não perder a paciência com ele. Primeiro ele é um completo idiota e agora quer ser legal, gente bipolar me irrita pra caramba.

— Olha, eu aprecio seu ato de bondade, mas não sei se você percebeu, que eu não estou a fim de falar com você. -- Curta e grossa, é como eu falo com ele. Eu levo essas coisas extremamente a serio, não estou aqui pra brincar ou ficar pregando peças.

— Se isso é por causa de hoje de manhã... — Mas não, não é só pelo que ele me fez. Ele em si me irrita, sua simples existência me faz perder a paciência. — Eu já pedi desculpas por isso, eu fiquei bravo com a Verônica e achei que seria uma boa pregar uma peça nela.

— Seria uma boa se você não tivesse feito isso comigo também. — Ele me encara. — E também...

— E também...? — Ele pergunta, e eu já nem sei o que eu ia dizer.

— Nada. — Desvio meu olhar e fecho minha mochila.

— Quer um lado do meu fone de ouvido? — Sim, por favor, eu odeio ficar nesse silêncio desconfortável.

— Não, Obrigada. — Não serei gentil para que pense que pode fazer o que quiser comigo e mesmo assim eu vou deixar como está, não mesmo.

Passamod o resto do trajeto assim, em silêncio. Ele olhando pela janela e eu brincando com o chaveiro da mochila. As vezes pensei que ele estava me olhando de canto de olho, mas tenho quase certeza que era do impressão minha.

***

— Mas você tem que começar a pensar no que quer fazer na faculdade, Betty. — Minha mãe fala enquanto corta o frango para o jantar.

— Eu sei, eu sei... eu só tenho que pensar mais sobre isso, não quero acabar escolhendo errado e ter que trocar de curso. — E isso é verdade, um dos meus maiores medos é acabar escolhendo errado. E se eu for obrigada a continuar, mas aquilo não é o que me faz feliz?

Minha mãe quer muito que eu faça medicina, mas isso está longe do tipo de coisa que eu gosto. O corpo humano não é exatamente uma coisa que eu gostaria de saber mais do que o básico.
Eu gosto muito das matérias que têm números, no entanto também gosto muito de escrever.

— Você se dedica muito a escola, com certeza vai conseguir entrar na faculdade que quiser, sendo assim seria bom você fazer alguma coisa grande, e não desperdiçar essa chance. — Ela se vira pra mim enquanto fala. "Desperdiçar essa chance"  repito em minha cabeça.

— O que você quer dizer com "desperdiçar essa chance"? — E nesse ponto, já sei onde essa conversa vai dar.

— Ah você sabe, seria bom se você fizesse alguma coisa que fosse...agregar mais...— tradução: alguma coisa que eu ganhe mais dinheiro.

— Já falamos sobre isso, Alice. — E agora meu tom sai meio ríspido. Nós já conversamos diversas vezes sobre o mesmo assunto, mas todas as vezes ela volta para esse tópico.

— Tudo bem, eu só quero o melhor pra você.

— Eu sei, mãe. Mas o melhor para mim é fazer alguma coisa que eu fique feliz fazendo, não algo que eu vá me arrepender de ter escolhido só porque você queria muito. — Pego uma maçã da fruteira, passo rapidamente e sem dizer mais nada subo ao meu quarto.

Não posso correr o risco de me formar em algo que não me deixe feliz, pois por mais dinheiro que eu ganhe, não quero viver uma vida de fim de semana. Não quero trabalhar somente para ganhar dinheiro e não aproveitar aquele tempo, não quero estar lá 24h por dia só pensando nos dias que não precisarei trabalhar, quero gostar do que faço, para aproveitar esse tempo também. Não quero viver para trabalhar como minha mãe teve que fazer sua vida toda só para sustentar a mim e minha irmã, não farei as mesmas escolhas que ela.

Ultimamente ando tão estressada, já não aguento mais essa rotina de 10 horas na sala de aula, é muito desgastante, bem, ao menos a parte boa é passar o dia com meus amigos e não ter que escutar os dramas de Alice o dia todo.

***

A noite passa tão rápido que não consigo acreditar que o despertador já se encontra ativo e tocando energicamente para me apanhar de meus belos sonhos.

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⏰ Última atualização: Sep 13, 2020 ⏰

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