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— Como você veio parar aqui? — pergunto a Klaus, largando minhas coisas na bancada que divide a cozinha da sala e indo até ele.

— A ambulância me trouxe. Os paramédicos já me conhecem, então eu pedi uma carona — da de ombros.

— Ok — mudo o foco — por que está aqui?

— O desgraçado morreu — responde com a maior naturalidade.

— Luther? — arregalo os olhos, surpresa. Mas nem tanto. Ele é o único que continua trabalhando para o papai.

Não me leve a mal. Não odeio o Luther, pelo contrário. Nutro afeição por todos os meus irmãos. Mas por ele ser o líder, tomou decisões difíceis e muitas vezes disse palavras duras demais, o que fez ele se tornar um pouco a parte de todos.

— Pai — sinto minha pressão cair, então sento-me no sofá ao lado de Klaus, que logo se aproxima — você está triste? — ele parece surpreso, mas mesmo assim tenta me consolar, puxando-me para um abraço.

Seu cheiro me deixa enjoada, então me afasto gentilmente.

— Como foi?

— Eu não sei, ataque do coração? — ele dá de ombros novamente — o importante é que ele está morto. Sabe o que isso significa?

— Tantas coisas — sussurro, minha mente a mil.

— Isso mesmo, herança! — Klaus passa o braço pelos meus ombros — pode imaginar o quanto vamos nos divertir?

— Divertir? — franzo as sobrancelhas, confusa.

— Ele era bilionário, então agora nós somos — diz — Bom, tecnicamente.

— Tecnicamente? — estreito os olhos.

— Talvez, só talvez, tenha a possibilidade de eu ser considerado incapaz de cuidar da minha parte, graças ao meu histórico — ele faz uma careta.

— Você é um dependente químico, Klaus — tento ser o mais suave possível — então, realmente, talvez não seja muito inteligente deixar dinheiro nas suas mãos.

Percebo que isso afeta ele, mesmo que seja a verdade. Levar a vida que Klaus leva não é exatamente um motivo de orgulho. Os seus poderes não o deixam em paz, então ficar entorpecido é tudo que lhe resta. Eu sei bem como é.

— Eu estou pensando em parar — ele diz, desviando o olhar.

— Não precisa mentir para mim — sorrio tristemente — mas se realmente quiser ajuda, eu vou ajudá-lo. Sem Ben aqui, acho que posso assumir esse papel.

— Ah, mas Ben está aqui — ele solta, me fazendo demorar um pouco para raciocinar.

— Ben está aqui? — repito lentamente, chocada. Sinto um calafrio e me encolho, uma pontinha de medo me atingindo.

— Ele acha que é responsável por mim de algum jeito — ri forçadamente.

O quão triste é isso? Mesmo depois da morte ele ter que lidar com Klaus e todos os seus problemas, como se os de Ben não fossem o suficiente. Ele nunca encontraria a paz enquanto nossa família estiver tão ferrada.

— Pobre Ben — suspiro — sinto falta dele. E de você — seguro sua mão  — que tal tomar um banho, então organizamos uma festa do pijama? E amanhã... Amanhã vamos para casa.

— Casa — ri sem humor — deve estar tudo do mesmo jeito antiquado e sem graça de sempre.

— Mamãe mantém nossos quartos intactos, com certeza — comento.

nightmare | the umbrella academyOnde histórias criam vida. Descubra agora