A sexta carta

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“Conheceste a felicidade pobre... ela não está nos bens”

Há momentos que te vejo feliz, a conversar e sorrir, e do nada (sem mais nem menos) ficas triste. Quando pergunto: Está tudo bem? Tu sorris e respondes que está tudo bem, depois de alguns minutos vais pro quarto.

Eu sei que tu pensas que fazendo isso estás a ajudar-me de certa
maneira. Já te ouvi a dizeres que eu ultimamente tenho passado por muito, que tenho vários problemas, várias preocupações e já não podes nem queres estar a me preocupar com as suas angústias e aflições. Preferes ficar calado e fazer parecer que está tudo bem.

Porém, tu fazendo isso, acabas por me preocupar ainda mais. Porque eu sei que se está a passar algo contigo e ficar sem saber o que é, deixa-me muito mal, porque é tão difícil poder ajudar-te sem saber o que realmente te angustia tanto.

Eu sei que tu procuras uma forma de poder ajudar-me a resolver algumas das dificuldades que ultimamente temos passado (principalmente no que concerne a dificuldades financeiras) e ficas muito triste quando no fim do dia percebes que não conseguiste fazer nada para mudar essa situação, nesses momentos provavelmente te
vem a pergunta: “Por que tudo dá sempre errado ?”

Tem vezes até quando ficas a planear algo, já ficas imaginando aquilo dando errado. És tão pessimista e negativista que ficas a sofrer por algo que nem sequer aconteceu, nem sequer tentaste e ainda nem sabes o resultado, mas como o pessimismo te persegue tu ficas já a sofrer previamente.

E noutras vezes quando consegues ajudar, tu achas que é pouco, ficas autoinsatisfeito.

Será que não vês que isso apenas te torna cada vez mais infeliz? Tu já nem soltas aquele sorriso verdadeiro, como antes, agora só sorris para parecer que está tudo bem, para ninguém te chatear. Eu não acho que isto é viver, isto está mais para sofrer.

Lembras-te quando eras menor de idade (quando ainda estavas na primária)! chegavas da escola e ficavas muito feliz,
só porque encontravas a cozinharem arroz doce (tua comida predileta na época), lembras-te? Acho que sim, naquela altura o teu sorriso era
verdadeiro, o sorriso transparecia a felicidade, tu eras feliz, porém nós não tínhamos muito, mas tu eras feliz de verdade, sabes por quê? Porque tu te encantavas com coisas simples.

Tu conheceste a felicidade mesmo tendo pouco (pobre) então acho que ela não está nos bens. A gente mesmo nunca teve muito, então por que tar só a se angustiar tanto?

Esforça-te a fazer apenas o que é possível, não fica a se martelar
tanto por coisas que sabes que não estão ao teu control e que não dependem de ti.

Pare de orar apenas quando precisas de algo, acho isso tão feio, devias também tirar um tempo só a agradecer pelas bênçãos que têm acontecido. Verás que se for assim, te sentirás melhor contigo mesmo e provavelmente as bênçãos te serão acrescentadas.

As 11 cartas do meu paiOnde histórias criam vida. Descubra agora