Eu acordo, toda suada, os corredores da escola movimentados como se nada tivesse ocorrido, era hora do intervalo, minha respiração ardia em minhas narinas e garganta devido a força em que eu puxava o ar, peguei a minha garrafinha na minha mochila e quando vou tomar um gole eu vejo o garoto novo, sentado em sua cadeira, mexendo no celular, deixo isso de lado e me levanto, ouço ele puxar o ar e se mover, mas de inicio eu nem dou muita bola.
- o que você viu? - ele me pergunta, sua voz não era como eu realmente imaginava, não era grossa do tipo locutor de filmes, era mais normal. Sua pergunta me pegou desprevenida, eu pensei que ele estivesse falando do sonho, mas então eu deixei essa possibilidade de lado, já que ele não teria como saber o que eu sonhei - você tava meio que murmurando e puxava o ar com força. Sua amiga pediu pra mim ficar na sala e eu aceitei - ele relatou, apenas olhei pra ele, limpei o suor que estava acumulado em meu acima de meu lábio superior e notei que minha respiração estava voltando ao normal aos poucos - por falar nisso, o que aconteceu com o seu pescoço? - ele perguntou, peguei o meu celular que estava no bolso do meu moletom e abri a câmera mostrando a imagem do meu pescoço com uma marca vermelha ao redor dele todo, parecia a marca de alguma coisa para enforcar, mas essa marca ficava forte em apenas alguns pontos, eram cinco, de alguma forma, parecia uma mão. Vi de relance o garoto levantar e vir em minha direção, abaixei de imediato o meu celular e comecei a ir pra trás - calma, não vou te machucar - ele falou e colocou a mão em meu pescoço em cada ponto onde tinha as marca mais fortes, engoli em seco pelo nervosismo e ele ficou um pouco surpreso - acho melhor parar com esses coisas de masoquismo, pode acabar ficando mais do que com um roxo - no momento que ele falou aquilo eu fiquei em choque, ele estava falando sobre sexo. Bom era melhor do que qualquer outra coisa... mesmo que eu não o tenha feito.
- vou indo - falei pra ele e sai de sua frente, envergonhada e surpresa com o que aconteceu e ele continuou mexendo em seu celular.
- encontrou?
sim -
A ida ao banheiro foi calma, coisa que não acontecia antes, nem me preocupei, estava mais aliviada em não ver Zaiene na minha frente. Entrei no banheiro, lavei meu rosto e tomei um longo suspiro, o Banheiro branco da escola era bem claro, as vezes me irritava com tanta claridade mesmo que a janela no lado direito do espelho seja apenas alguma coisa para ventilar e nada muito grande, a luz fazia questão de mostrar tudo ao redor, portas de banheiros abertas para mostrar que não há ninguém ali, e um espelho com o mesmo comprimento que a pia, revestido com bordas de madeira clara, e a pia era feita de mármore claro com pequenos tons escuros, o chão, branco também, assim como as paredes, as vezes me perguntava como conseguiam mantê-lo limpo. O banheiro não estava realmente limpo, por ser usado por varias garotas o chão acabou ficando um pouco encardido, a única coisa não branca dali era o lixo, com cor de cinza opaco e um pacote de lixo preto, parecia fino demais para ser resistente. Desfoquei por um momento do ambiente que estava ao meu redor e me olhei no espelho, a marca em meu pescoço ainda estava lá, os mesmo cinco dedos que pareciam me enforcar, a minha pergunta é, de onde surgem esses hematomas? Quem foi que eu irritei, além de Zaiene? Me sinto enjoada com todos aqueles hematomas súbitos e sem explicação, minha respiração volta a ser pesada e meus olhos embaçam, lágrimas começam a cair sem a minha permissão e eu não sei por que estou chorando, é um misto de emoções. Medo, raiva, mas o pior dos sentimentos era a confusão, eu não entendia nada o que estava acontecendo comigo e ninguém parece notar essas coisas, muito menos se importar.
Assim que me irrito com o meu choro e limpo as minhas lágrimas grosseiramente, peço para Laura vir ao meu encontro no banheiro perto da sala, quando ela chega me vê sentada em posição fetal no chão e fica preocupada.
- Alex! tudo bem com você? aconteceu alguma coisa? foi a Zaiene? - ela me encheu de perguntas e segurou minha mão que estava em meu joelho com força e seu rosto todo preocupado, me passavam suas emoções fortes.
- eu to bem, mas posso pedir um favor? - perguntei a ela que se ajeitou e me olhou como que dissesse que faria qualquer coisa, percebendo o espaço que ela havia me dado para falar eu puxo o ar e começo a formar as silabas - você trouxe sua bolsa de maquiagem? - ela me olhou com suas sobrancelhas arqueadas e com seu rosto de duvida.
- trouxe, mas por que você quer? - perguntou receosa.
- eu tenho umas marcas de chupões no pescoço - menti, eu sei, mas ela não acreditaria se eu falasse a verdade, ou diria que me bati em algum lugar sem perceber.
- tudo bem, vamos lá pra sala, você parece com cara de quem chorou agora a pouco, te conheço bichinha - ela falou tentando me descontrair, funcionando a propósito. Nos levantamos e andamos em direção a sala que estava aberta, o caminho até lá parecia longo, os corredores cheios de armários de metais com pessoas escorada, gargalhando e fofocando sobre vidas e notícias, cada uma com seu jeito de expressar. Minha toca estava cobrindo minha cabeça e parte do meu rosto e mesmo assim, as pessoas olhavam pra mim como se soubessem o que eu estava passando, que coisa da minha cabeça. Por fim, chego na sala, minha surpresa, o novato estava lá.
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outro
General FictionAparentemente pode ser tudo normal, mas e aqueles machucados que aparecem do nada? Será que vivemos mesmo em uma Matrix da vida? Por que isso sempre acontece? Será que existe um outro? outro mundo, outra realidade, como realmente conseguimos machuc...