Esperar a Laura ir pegar o gelo parecia uma eternidade, mas ao mesmo tempo não parecia, ter a companhia de Benjamin me deixava inquieta ao mesmo tempo em que me deixava alheia a tudo ao meu redor e ele nem precisava fazer nada além de ter sua presença no recinto. Viro-me na cadeira e sento-me para frente, observo o quadro vazio por conta do retroprojetor, que estava ligado com tons de cores fracas com se estivessem morrendo devido à, agora, as luzes ligadas e as cortinas afastadas, a sala inteira se ilumina, dá pra ver as árvores cheias de flores em meio às suas copas esverdeadas e pássaros gorjeando no lado de fora da sala, tudo parecia estar me convidando a sair, o que eu realmente adoraria fazer. Suspiro sentindo o delicioso ar entrar e sair dos meus pulmões, fazendo meu peito elevar e abaixar, olho para o teto de cor bege da sala e vejo a claridade batendo no mesmo, sinto-me cansada, com sono e com fome.
- percebi que teve um pesadelo antes - Benjamin começa a conversar e tira da minha mente que estava desligada olhando para um ponto fixo sem pensar em algo de interessante, olho para ele e percebo seus olhos escuros me fitando de volta, com intensidade - tem tido muito desses? - ele indagou, eu não entendia por que ele estava fingindo se preocupar com alguém como eu.
- tem sido mais frequente - eu falei voltando a olhar para a imagem parada do retroprojetor no quadro branco - não precisa fingir preocupação - falei honestamente, mas procurando não ter o tom grosso e então apenas ouvi o som do ar que estava comprimido sendo soltado de sua boca, logo após uma risada, eu não entendia o que havia de tão hilário na minha frase, de curiosidade retornei a olhá-lo.
- fico magoado a ver que está é a visão que tem de mim - falou descontraído - é incrível a semelhança entre você e ela - Benjamin comentou mais como se sentisse uma saudade imensa e lembrança de vários momentos, tanto os felizes quanto os tristes. Era quase como uma nostalgia.
- de onde você é? - perguntei curiosa, sua feição se escureceu como se não quisesse falar sobre, quando o mesmo puxou o ar, e antes dele falar Laura aparece com um pacote de gelo enrolado em uma toalha meio bege.
- é bem improvisado, mas é o máximo que consegui fazer de última hora. Essas coisas no seu pescoço tem que sair amiga! Até parece que você transou com um cara que se amarra em enforcar... - ela comentou e quando olhou pra minha direção me viu sem jeito e Benjamin com um sorriso de canto, como se estar nessa situação constrangedora fosse normal e engraçada, quase como se ele sentisse a falta de uma coisa normal desse jeito.
- como sempre, sem papas na língua - comentei baixinho e ela apenas deu uma risada meio que sem jeito e veio para o meu lado toda embaraçada.
- não imaginava que era tão violenta assim - o homem de cabelos pretos brincou com a situação, o que a fez ficar menos embaraçosa e o clima acabou ficando mais leve, pelo menos era o que eu sentia.
- na verdade, tem aparecido umas marcas que não lembro de ter feito - comentei por cima enquanto Laura se abaixava - de onde surgem também não sei. Devo ser sonambula e nem saber - brinquei.
- excelente humor - ele falou com um sorriso em seu rosto.
- que estranho - Laura sem mais nem menos comentou e fez a conversa acabar - eu podia jurar que a base não tinha coberto direito, quando eu sai ainda tinhas roxões bem feios - Laura continuou, sua expressão mostrava o quanto ela estava confusa e aquilo estava me deixando ansiosa - bom. Melhor assim, quem saiba já não tenha desaparecido e tenha sido tudo da nossa cabeça? - minha melhor amiga brincou enquanto limpava com um algodão que continha demaquilante e do nada seu suspiro de surpresa se fez presente, e meu anseio aumentou.
- credo guria! - eu comentei - que que tá acontecendo? - continuei sem entender o que ela estava querendo dizer.
- a marca... desapareceu na minha frente - ela falou com tom baixo e pasmo, pelo relato estranho, eu peguei o algodão molhado com demaquilante e o espelho, que estava ao meu lado, para poder ver.
- muito engraçadinha, vocês com seus jogos - eu comentei mais para me deixar segura de que não havia nada estranho e que as marcas continuavam ali, e comecei a limpar onde tinha a base que cobria a cor arroxada na minha pele que quando retirada, havia diminuído a intensidade e desapareceu, como se fosse uma fumaça ao ar. Desacreditada, eu limpei outra parte e a mesma coisa aconteceu - não pode ser... eu estou ficando louca - eu falei olhando pra Laura que retribuiu o olhar assustado.
- se for isso, então eu também estou.. - Laura comentou e começou a mordiscar seu lábio, uma mania muito ruim que ela tinha por conta de sua ansiedade e dependendo de quanto ela mordiscava, seu lábio sangrava.
- para de morder e toma aquele remédio pra ansiedade - eu chamei a atenção dela que parou imediatamente e foi em direção a sua mochila, olhei para Benjamin e o mesmo me olhava serio, como se pensasse em algo pra me falar.
- foi só uma coisa da nossa cabeça, nada demais - comentei com um sorriso para fingir que estávamos brincando, mas por dentro eu estava apavorada. Será que aconteceu a mesma coisa com as marcas de chicotes em minhas costas? E se for... de onde elas tem vindo? Isso é muito estranho, não sabia no que pensar e muito menos no que falar. O que eu deveria fala? O que eu deveria pensar?
- Alex? - Benjamin me chamou e eu o olhei - eu preciso te mostrar uma coisa...
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outro
Genel KurguAparentemente pode ser tudo normal, mas e aqueles machucados que aparecem do nada? Será que vivemos mesmo em uma Matrix da vida? Por que isso sempre acontece? Será que existe um outro? outro mundo, outra realidade, como realmente conseguimos machuc...