Capítulo 05: Linhas Cruzadas

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Virei na primeira curva que vi. Em frente já enxergava a casa que ficava ao outro lado da rua. Não era uma casa luxuosa, mas sim uma casa que transmitia aconchego, era bem bonita, pintada de amarela a muito tempo, a tinta já estava desbotada, tinha um jardim cheio de girassóis e margaridas, bato palmas, logo vem um cachorro bem pequeninho, ele tinha um corpo alongado de pelos curtos marrons, não demorou muito e uma senhora de óculos, cabelos brancos, usava um vestido rosa bebê com um casaco amarelo por cima, vinha com uma chave em mãos

- Chega Bartolomeu! Já vi o garoto, pare de latir e vá dormir! -Oi jovem garoto o que lhe traz aqui?- Pergunta abrindo o portão com um sorriso simpático.

- Trouxe essas redes do porto em nome dos Fournier para costurar.- Falo sorrindo, era quase impossível não sorrir para tal fofura.

- Ahh sim pode entrar às deixe em cima da mesa para mim.- Aponta pra porta da casa, entro e o cachorro Bartolomeu vem cheirar minhas pernas

- Com sua licença!

Tem uma varanda muito bonita com vasos de flores distribuídos por ali, espero para que ela abra a porta

- Como vai o jovem Alison? Faz muito tempo que eu não o vejo- Pergunta curiosa, ela parecia já estar acostumada com alguém trazendo redes rasgadas pra ela costurar, boto as redes na mesa, por dentro era uma casa bem simples, passado por uma sala com dois sofás o que dava a impressão de aperto e logo tinha uma sala de jantar com mesas emendadas uma na outra, olho para o lado e vejo um espaço maior com várias roupas espalhadas, porém dobradas cuidadosamente e organizadas, havia uma majestosa máquina, que parecia ter sido muito usada, bem ao fundo um fogão a lenha com suas chamas acessas, num canto uma porta de madeira fechada.

-Ele está muito bem, prazer em conhecê-la sou Lohan- Achei melhor não falar meu sobrenome ou ser muito formal

- Ohh onde estão meus modos, me chamo Joana. Sou costureira a dos Fournier a mais de 40 anos, até mesmo de existir essa máquina que você está vendo eu já costurava. Aceita um cafezinho?- Parece lembrar dos velhos tempos.

- Se não for muito incômodo, eu aceito.

- Bom puxa uma cadeira da mesa e se sente- Ela fala isso indo a cozinha que era ao lado, pega um pote grande de café, um coador e no armário de baixo um bule, enche o coador de café, passando por mim, vai no fogão a lenha e pegando a chaleira de porcelana amarela , volta para cozinha, começando a passar o café

- Faz tempo que você está trabalhando na pescaria? Nunca o vi pelas redondezas- Pergunta curiosa, a atmosfera dentro da casa era tão aconchegante, era simples porém me sentia a vontade ali.

- Não, na verdade eu não sou daqui, cheguei a apenas um dias, para conhecer tal cidade que é dita como encantadora- Não acho necessário que ela saiba o porquê realmente vim

-Entendo, pretende ficar muito tempo?- Diz trazendo uma xícara de café bem quente e coloca sobre a mesa, abre um armário em cima pegando o açúcar

- Não sei quanto tempo vou ficar, mas acho que será por muito tempo- A ideia de passar mais de uma semana naquela mansão me assustava. Joana volta já com outra xícara de café se sentando na ponta da mesa

- E a senhora? Tem tido muito trabalho muito?- Prolongo a conversa

- Ahh você nem imagina como, essa semana eu quase não dormi direito e mesmo assim ainda tenho muito trabalho a fazer!- Realmente agora olhando-a com mais atenção, ela realmente parecia muito cansada, dou um gole no café amargo, me esqueci de por açúcar, coloco duas colheres de açúcar, agora estava bem agradável ao paladar

- Se a senhora quiser posso vir lhe ajudar, não sei muito sobre costura mas posso vir aqui toda a tarde.- Receoso não sei se ela aceitará a ideia, mas não queria ficar preso na mansão ou no porto o dia todo.

-Ah meu jovem seria um prazer o ter sua ajuda, de vez em quando me sinto solitária e não se preocupe lhe darei uma quantia em dinheiro- Joana fala animada

- Está ótimo virei hoje mesmo.- Falo animado também. Depois de muito conversar e de ter acabar meu café

- Bom eu vou ter que ir senhora Joana.

- Fique para o almoço eu irei fazer uma massa ao molho Percheur, que é uma delícia- Ela Insiste

- Claro, só vou avisar Alison que ficarei por aqui hoje- é quase impossível recusar o convite. Saio da casa e vou para o porto, não perco tempo em me distrair, senti alguns olhares em minha direção mas não dou atenção, abro a porta do escritório e Alison estava resolvendo alguns problemas da pescaria

- Não irei almoçar na mansão hoje- Estava determinado

- E onde acha que vai almoçar?- Alison me olha com desdém, parecia não acreditar que teria outro lugar para almoçar

- Não interessa onde irei almoçar, estou te avisando que almoçarei fora- tento parecer despreocupado

-Tudo bem mas esteja aqui pelo fim da tarde, se não irá voltar a pé para mansão- Disse fazendo pouco caso de mim

- Tudo bem, passar bem- Saio do escritório voltando para casa da senhora Joana.

O portão estava aberto, o barulhento Bartolomeu vem me receber, acaricio a cabeça do mesmo para o acalmar. O cheiro do molho de tomates frescos se sentia da porta, a mesa já estava posta, era simples e mantinha seu valor. Era notável ver a felicidade de Joana ao mexer sua envelhecida panela, com seu contente cantarolar, Joana coloca a panela sobre a mesa, olhando para mim abre um sorriso, na hora lembrar de minha mãe foi inevitável seus sorrisos era muito parecidos

-Já está pronto! Se sente e não se acanhe para se servir!-Fala dando uma gargalhada.

O caldo denso e avermelhado borbulhava de calor, de perto se sentia o cheiro do peixe, desde minha chegada só havia me sido servido peixe, deve ser uma tradição de Pecheur, com outra panela sobre as mãos a senhora se senta a mesa, ansioso por tal prato me sirvo, o gosto me surpreende, poderia comer dez pratos, apesar do acido tomate o peixe tinha um suave adocicado

-Esta muito bom, é um molho realmente especial. Que peixe seria esse? – Pergunto colocando mais uma colherada sobre a boca

-É um peixe nativo daqui, o chamamos aqui de Montaro, se você ficar na cidade poderá ver eles subindo as quedas para desovar, eles são lindos a luz da lua – Joana se empolga com tal fato

Gostaria de conhecer mais sobre o Montaro, poderia pedir para Joseph me acompanhar ate as quedas, já estava em meu terceiro prato, espero não estar parecendo esfomeado, a comida de Joana era muito mais deliciosa da que era servida pelos Fournier.

-Gostaria de falar sobre oque faremos pela tarde, senhora Monique Fournier anunciou a alguns dias atrás que escolheria o melhor vestido de casamento para sua filha, qualquer costureiro poderia apresentar sua peça, eles iriam ser avaliados por ela mesmo e o mais bonito ela compraria para o futuro casamento.

Me surpreendo ao saber que Monique estava a organizar um casamento, o pouco que a conheço imagino que ela espere algo grande para o vestido, talvez algo tão grande que o trabalho de uma costureira de cidade pequena não a impressione.

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