Ian Brown (The Stone Roses) #1

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1982

A semana havia começado e aqui estou eu novamente, no primeiro banco do ônibus e sozinha. Eu sempre me sentava aqui e todos já pareciam entender isso. Ninguém sequer olhava para o espaço vago, como se sentar ao meu lado não fosse uma opção. Pelo menos eu tinha meu próprio lugar marcado, sem precisar reservá-lo.

Estou nesta escola há cinco meses e não consegui me conectar a alguém suficientemente para chamar de amigo. Alguns da minha sala me olhavam estranho, como se eu não tivesse capacidade de entender as coisas. Já ouvi duas meninas dizerem sem discrição que me achavam muda ou que possuía algum outro tipo de deficiência. Eu realmente não abria muito a boca na escola, o que não significa que eu não queria falar com as pessoas. Diversas vezes eu tentei, mas sem obter sucesso da parte do outro. Isso desmotiva totalmente a arriscar uma conversa da próxima vez.

O barulho dos meninos baderneiros lá do fundão ecoavam no ônibus inteiro durante todo o trajeto. E como a maioria deles estudavam na minha classe, a voz deles ecoavam na minha cabeça durante quase todo o dia também.
Felizmente eu aprendi a deletar os nojentos diversos palavrões que eles soltavam como se fosse um suspiro.

- Calem a boca, seus tagarelas! Tem gente que não acordou ainda. - Phil, o líder da nossa classe bradou a eles, com olhos pesados.

Um deles falava especialmente mais que os outros. Quase podia-se ouvir seu tom de voz ecoando por mais tempo na cabeça de quem o escutava.

- Hey, Phil - começou - não temos culpa se sua noite foi tão ocupada que acabou esquecendo da aula no dia seguinte... - disse sugestivamente.

A risadas dos amigos vieram em seguida.

O sujeito, Ian Brown, podia ser considerado o pior deles, pois todos o viam como um líder; Agia como um e parecia determinado a dar uma porção de ordens, seja você quem for. Nunca vi muitas pessoas se aproximando dele, exceto os garotos do seu tipo.

É estranho admitir que algo mexeu em mim quando o vi pela primeira vez. Mas observando cada vez mais suas atitudes, eu cada vez mais me mantinha distante. Ele parecia ofensivo demais: Não era aparentemente amigável e poucas vezes se mostrava paciente. Ele estabeleceu bem a imagem de "valentão."

O ônibus estacionou. Eu embora na frente, não tinha a mínima pressa em levantar.

Quando eu acreditei que boa parte das pessoas já haviam descido, levantei e me dirigi à porta frontal seguindo a fila de pessoas que saíam. Tive que diminuir os passos logo que percebi um garoto à minha frente que parecia ser tão retraído quanto eu, transpondo os pés vagarosamente. Isso não era problema - para mim, pelo menos, porque não imaginava que poderia ter alguém tão pressuroso logo atrás.

Estando prestes a atravessar a porta, um empurrão me atinge com tanta força que parecia ser mais de uma pessoa empurrando. Foi justo no momento que meu pé estava suspenso no ar, quase tocando o último degrau do veículo.

Me desequilibrei e inevitavelmente caí.

As risadas surgiram loucamente dentro do ônibus enquanto meu peito conhecia dolorosamente o chão.

- Você está bem? - uma voz preocupada se aproximou, me levantando pelo braço. Era o garoto dos passos lentos.

Não respondi de imediato, pois ainda estava lidando com a dor. Apenas me virei, confusa para olhar o que podia ter causado minha queda e encontro um par de olhos castanhos, me encarando com indiferença.

E pela primeira vez, Ian Brown falara comigo.

- Ops, foi sem querer. Não esperava que você fosse cair. - zombou sarcástico enquanto saía acompanhado risonhamente da sua turma, como se aquela fosse a coisa mais comum do mundo.

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