Luíza
Sábados costumavam ser os dias mais puxados da semana. Mas eu não reclamava. Se estava puxado, era porque tinha trabalho para mim, e eu deveria me sentir grata por isso, porque não era sempre que acontecia.
Esses dias geralmente eram ocupados por bicos como garçonete em alguma festa. Conhecia a dona do buffet há anos, e ela me ajudava muito me chamando para esses eventos. Não era muito dinheiro, mas ajudava demais. Às noites eu tinha o meu trabalho fixo como atendente em um barzinho. O salário também não era grande coisa – se fosse, eu não precisava pegar os extras das festinhas aos fins de semana – mas era algo certo, além das gorjetas, que ajudavam muito.
O intervalo entre um trabalho e outro representava mais um momento corrido do meu sábado: a troca de babás.
Minha prima Sara era dona de uma pequena lanchonete, onde trabalhava de segunda à segunda, mesmo assim aos sábados aceitava cuidar da minha filha para mim, mas apenas durante o dia, porque à noite ela não abria mão de suas saídas com os amigos. Porém, como à noite o meu trabalho era fixo, eu tinha uma babá contratada.
Desci do ônibus e do outro lado da rua avistei minha filha sentada em uma das mesas que ficavam na calçada em frente à lanchonete, parecendo distraída desenhando algo em uma folha de papel, com o nosso cachorro – Joe, um mestiço de labrador com vira-lata – deitado no chão aos seus pés. Terminava de atravessar a rua quando ela me viu e largou o que fazia, vindo correndo em minha direção e me recebendo com um abraço. Sara veio logo atrás, e antes de qualquer cumprimento já veio logo contando:
— Você não sabe o que sua filha aprontou.
Estava já com Sofia no colo e olhei bem em seu rosto. Por baixo dos óculos que usava para fazer atividades escolares, ela desviou os olhos como fazia sempre que aprontava algo.
— O que a senhorita fez? — questionei, pausadamente.
— Pedi para ela ficar sentada e quietinha enquanto eu conversava com um cliente, e ela decidiu atravessar a rua sozinha.
— Eu tava levando o Joe pra passear! — a pequena se defendeu.
Antes que eu pudesse dar qualquer bronca, Sara prosseguiu:
— Por pouco ela não foi atropelada.
— Meu Deus! — eu praticamente gritei, sentindo meu sangue gelar só de imaginar tal hipótese. — Sofia, por que foi fazer isso?
— Tia Sara já brigou comigo, mamãe. Eu não vou fazer de novo.
— Não vai mesmo. Vamos ter uma conversa muito séria em casa, mocinha!
Ela fez bico e desceu do meu colo, cruzando os braços.
Olhei para minha prima.
— Como você não viu isso, Sara?
— Desculpa, Lu. Eu realmente me distraí por alguns minutos. Os clientes querem atenção, não dá para ignorar, você sabe.
É, eu sabia. Minha prima tinha o trabalho dela, e já fazia muito por mim olhando Sofia – de graça – nos sábados em que eu era chamada para trabalhar em alguma festa.
De qualquer maneira, aquilo não era o ideal, e esse era o meu grande sinal de que eu não deveria mais deixá-la lá. O dinheiro, infelizmente, faria muita falta, mas a segurança da minha filha vinha em primeiro lugar.
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Corações em Jogo - DEGUSTAÇÃO
RomanceTudo ia muito bem na minha vida. Era o bem-sucedido CEO de uma grande rede de lojas e, apesar de ser um homem bem centrado nos negócios, também sabia como curtir a vida: festas, noitadas, amigos e mulheres. Todas eu quisesse ter. E eu queria todas...