Capítulo 3

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Henrique

O meu sábado estava sendo aproveitado como devia ser. Durante todo o dia, curti a festa na mansão de um amigo, com direito a piscina, muita bebida e mulheres maravilhosas. Depois dela, foi apenas o tempo de passar em casa, tomar um banho rápido e trocar de roupa, e já segui para a segunda rodada. Dessa vez, um programinha mais leve: um barzinho, acompanhado por outro grupo de amigos.

O lugar escolhido por Heitor, o amigo em questão – que, aliás, também era meu sócio e, não menos importante, meu irmão – era um barzinho mais 'classe média', bem menos luxuoso do que os que costumávamos frequentar, mas bem aconchegante. Eu nunca tinha ido lá, e confesso que curti o ambiente. Especialmente porque era muito bem frequentado, cheio de mulheres maravilhosas. Para mim, a 'caçada' fazia parte da noite. Era só escolher uma garota, certificar-me de que não estava acompanhada, flertar por algum tempo, pagar um drink ou dois, ainda à distância, enquanto curtia a conversa com os amigos. Ao final da noite, vinha a finalização: a aproximação, mais alguns flertes, mais um drink e um convite para conhecer a minha casa. Não falhava nunca.

— Olha aí o Rick já caçando a presa da noite — Joca, um dos meus amigos, comentou em tom de zombaria.

— Só se vive uma vez — rebati, erguendo meu copo em um brinde.

Meu irmão Heitor, como de costume, não perdeu a oportunidade de fazer uma crítica disfarçada de elogio:

— Se tem um cara que sabe usar bem os seus privilégios, esse cara é o Henrique. — Ele também ergueu o próprio copo. — Desde que ele voltou ao Brasil, toda manhã eu me deparo com uma mulher diferente saindo da minha casa.

A casa não era exatamente 'dele'. Era herança do nosso pai, e ele apenas a usara durante os últimos anos. Agora, eu é que iria assumi-la. Mas preferi não focar nisso.

— Ser um sujeito irresistível não deixa de ser um privilégio — rebati, embora soubesse que não era a isso que ele se referia.

— Você poderia ser horroroso, irmão. Não faria qualquer diferença. As mulheres vão como moscas em cima de você por conta de outros atributos seus, sabe disso.

— Se fosse assim, creio que estariam também em cima de você, Heitor. Temos o mesmo sobrenome e somos sócios. Aliás, seu rosto é conhecido pela cidade, o meu não.

Ele levantou a mão, exibindo a aliança de noivado. Revirei os olhos. Heitor namorava com a mesma menina desde os seus dezesseis anos. E era um cordeirinho fiel. Nem sei por que ainda saía com a gente, já que nunca se permitia esticar a noite com alguma mulher.

Não que ele fosse tão bonito quanto eu, mas... tinha lá o seu potencial. Era uma pena que não usufruísse disso.

— Nunca entenderei essa tara por monogamia... — respondi ao gesto dele.

— Para alguém como você, deve ser realmente difícil entender o conceito de gostar de uma pessoa pelo que ela é.

— Iiiih, já vão começar com as provocações? — Paulo, outro amigo que estava à mesa conosco, questionou. Joca concordou com ele.

— Sempre assim. Esses dois parecem estar em uma eterna competição.

Joca disse muito bem. Competição era a palavra certa. Desde crianças que meu irmão e eu estávamos sempre competindo por alguma coisa. Nossa diferença de idade era de apenas um ano e meio – sendo eu mais velho – então até ele conhecer a Bruna, sua noiva, disputávamos as meninas na escola. Mas mesmo ele tendo saído do mercado tão jovem, ainda competíamos por qualquer outra coisa.De campeonatos online videogame a fechamentos de contratos para as empresas, tudo virava uma disputa. Foi em uma aposta daquele tipo que acabei tendo que aceitar a troca de comando das empresas com ele. Não que eu tivesse qualquer objeção a passar algum tempo no Brasil, mas o interesse principal era dele e eu nunca estava disposto a ceder tão fácil a qualquer coisa que ele quisesse. Nossas competições eram nesse nível.

Corações em Jogo - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora