Capítulo 5

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Henrique


Ela foi embora.

Simples assim. Passei horas naquele balcão esperando por ela... e ela simplesmente se foi, como uma fugitiva.

Era oficial: eu tinha sido dispensado pela primeira vez na minha vida.

Primeiro eu a xinguei mentalmente por uns nomes que nem vale a pena repetir, mas logo consegui falar com o funcionário que a havia chamado na cozinha para avisar sobre um telefonema, e ele se limitou a me contar que ela teve uma emergência familiar e precisou ir embora.

Eu queria acreditar que fosse verdade. Não que eu desejasse qualquer mal a algum familiar dela, longe disso, mas... se fosse mentira, significaria que eu tinha sido despachado. O que comprovaria a tese do meu irmão, de que meu sucesso com as mulheres dependia do meu dinheiro. Afinal, com o CEO Henrique Lizano nunca havia acontecido algo sequer parecido com isso. Poucas horas fingindo ser um pobretão e eu tinha sido dispensado como se eu fosse um monte de nada.

Isso me faria perder a aposta, mas era algo muito maior do que o meu carro em risco. Seria uma derrota moral e isso eu não conseguia admitir.

— 'Emergência familiar" é a senha para se livrar de embustes, maninho — Heitor provocou, já na segunda-feira, sentado em uma poltrona na sua sala do escritório da empresa. Em breve, seria minha sala.

Ele tinha saído cedo no domingo para ir à casa da noiva, fazer mais umas das intermináveis listas de sei lá o quê para o casamento. Antes que ele retornasse, fui eu que saí para beber com outro grupo de amigos. Quando retornei, ele já estava dormindo. Então, apenas na segunda-feira fomos nos reencontrar para eu dar satisfações da minha vergonhosa derrota.

— Ela realmente pareceu nervosa quando a chamaram para atender o telefone — argumentei. E nem era uma desculpa esfarrapada, eu realmente tive essa impressão.

— Mulheres são ótimas atrizes, Henrique. Você precisa aprender isso.

Será que ela também estava sendo atriz nas críticas feitas ao CEO da Lizano, sem fazer ideia de que estava falando com o próprio? Talvez.

Mas não perdi a chance de devolver a provocação ao meu irmão:

— Bruna está incluída nessa generalização?

Ele fechou a cara e eu quase ri por deixá-lo sem resposta. Ao menos algo bom eu estava tirando daquilo. Ele realmente acreditava que Bruna fosse especial e outras baboseiras do tipo. Bem, eu a achava uma garota legal e tudo mais, mas... no fundo, ela não devia ser tão diferente assim. Na minha opinião, não que as mulheres fossem todas iguais, mas... elas eram bem parecidas. Tirando as diferenças físicas, em sua essência elas seguiam o mesmo padrão.

— Não mude de assunto, Henrique, e entrega logo as chaves do carro. Não esquenta, eu te dou uma carona até em casa.

Eu não ia entregar os pontos. Não tão facilmente.

— E quem disse que a aposta está encerrada?

— Como não estaria? Você não conseguiu conquistar a garota.

— Mas não estipulamos um prazo. Podemos fazer isso agora, se você desejar.

— E de que vai adiantar? Não conseguiu nem ao menos o telefone dela.

Corações em Jogo - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora